O apelo do Presidente da República a
um entendimento entre os partidos que assinaram o memorando da troika só pode
saldar-se por uma vitória dos partidos da direita. De facto, o PS viu-se numa
situação da qual só pode sair perdedor. Se recusar um entendimento como o PSD e
o CDS assumirá junto de uma opinião pública maioritariamente favorável a esse
entendimento o papel do partido responsável pelo falhanço de um projecto de
“salvação nacional”; se subscrever esse entendimento, fornecerá mais um balão
de oxigénio a um governo que, apenas há quinze dias, parecia moribundo e
contribuirá para reforçar a ideia de que, afinal, não há alternativa viável
para além da prossecução das políticas de austeridade impostas pela troika. Em
qualquer dos casos poderá ser penalizado nas próximas eleições, perdendo votos
do centro para o PSD ou para o CDS, ou perdendo votos à esquerda para o PCP e
para o Bloco.
Por outro lado, a vitória de Passos
Coelho será necessariamente frágil e transitória. Na prática, o seu novo
discurso acerca da necessidade de potencializar o crescimento económico, vai
confrontar-se com as exigências de cortes de 4,7 mil milhões de euros nas
despesas do Estado. Qualquer redução substancial desse montante terá de passar não
só pelo acordo entre os três partidos envolvidos nas negociações promovidas por
Cavaco Silva, mas sobretudo pela concordância da troika. Pequenas concessões
significarão sempre cortes nas pensões de reforma, despedimentos na função
pública, cortes na Saúde e na Educação, nos subsídios de desemprego e noutras
prestações sociais. Significarão mais pobreza, mais recessão e mais desemprego.
E, em última análise, um maior agravamento do défice da dívida pública.
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