Dos muitos contactos que fui
tendo com candidatos da CEM, fiquei com a ideia de que esta candidatura
independente se propunha alcançar dois objectivos eleitorais: 1º - eleger um
vereador; 2º - evitar a formação de um executivo camarário apoiado numa maioria
absoluta. Como se sabe, nenhum deles foi alcançado.
E, no entanto, a CEM poderia
ter obtido um óptimo resultado nas eleições autárquicas de Braga. Conseguiu
unir muitos independentes que se encontravam mais ou menos afastados de uma
participação política activa e ainda personalidades relevantes oriundos da área
política do PS, do BE e do PCP. Além disso, beneficiou de uma posição crítica,
cada vez mais acentuada de uma grande parte da população bracarense em relação
à presidência de Mesquita Machado na CMB, bem como do descrédito dos partidos
comprometidos com o governo de Passos Coelho que sustentavam a candidatura de
Ricardo Rio.
A legalização da candidatura
autárquica da CEM, com a recolha num espaço relativamente curto de tempo, de
perto de 5.000 assinaturas apareceu como uma lufada de ar fresco no ambiente
bafiento da política autárquica bracarense.
Sendo assim, penso que os
resultados obtidos (5.032 votos para a Câmara e 6.743 votos para a Assembleia
Municipal) ficaram muito aquém daquilo que se esperava. Importa reflectir sobre
esta derrota. Na minha opinião, ela prende-se quer com o programa eleitoral que
foi apresentado, quer com a estratégia política adoptada.
O programa eleitoral pecou,
antes de mais, por desprezar qualquer hierarquização das propostas
apresentadas. Num momento de grave crise social deveria, ter-se centrado em
duas questões fundamentais – na luta conta a pobreza e na luta contra o
desemprego, ou seja, na acção social e na reabilitação urbana, Nestas duas
matérias era necessário apresentar propostas muito concretas e exequíveis no
curto prazo. Nomeadamente, propostas cuja realização passasse pelo investimento
público. Contudo, nenhuma destas questões mereceu qualquer destaque no programa
e na propaganda da CEM.
Em vez disso, foi
apresentado um programa onde algumas propostas importantes se perdiam no meio
de muitas outras igualmente justas, mas de interesse mais secundário ou de
outras ainda, pouco viáveis ou simplesmente fantasiosas. Assim, quando um
eleitor perguntava – “o que a CEM defende?” – era impossível dar-lhe, em poucas
palavras, uma resposta clara.
Como estratégia política
adoptou-se um “pacto de não agressão” com a candidatura de Ricardo Rio: nós não
vos criticamos a vocês e vocês não nos criticam a nós mas, pelo contrário,
convergimos ambos na crítica à candidatura de Vítor Sousa. Desta forma, a CEM
apareceu aos olhos de muitos eleitores como uma candidatura colada à direita
mais reaccionária que alguma vez governou Portugal desde o 25 de Abril. Sei que
isso não expressa o pensamento político dos seus candidatos. Mas, em política, “o
que parece é” e aquela imagem impôs-se de tal maneira, que bloqueou qualquer
hipótese de crescimento à esquerda. Assim, a CEM foi recolhendo simpatias entre
um eleitorado que, por fim, votou “útil” em Ricardo Rio e isolou-se de um
eleitorado que queria utilizar as autárquicas para penalizar o governo.
Os resultados finais mostram
que quem beneficiou desta estratégia suicidária foi a CDU que, apesar do seu
tradicional sectarismo, conseguiu captar o voto de um eleitorado que a CEM
resolveu abandonar e conseguiu eleger um vereador.
Enfim, uma estratégia de
branqueamento da candidatura de Ricardo Rio (cuja eventual vitória foi sendo
sempre considerada como um “mal menor”) deu no que deu: numa maioria absoluta
da direita e na não eleição de Inês Barbosa. A eleição de dois deputados para a
Assembleia Municipal é, neste contexto, um triste prémio de consolação.
Posto isto, espero bem que
“com a água suja do banho, não se lance fora a criança”. O apelo a uma maior
participação da sociedade civil no governo da cidade é uma ideia lançada pela
CEM que deve continuar a ser acarinhada e o aparecimento de uma candidatura
independente, não subordinada a egoísmos partidários, pode ser um instrumento
importante para um necessário reforço da democracia participativa. Esperemos
que a acção da CEM prossiga e se centre cada vez mais na auscultação dos
problemas efectivamente sentidos pela população bracarense e no seu envolvimento
com vista à sua resolução.
Uma última palavra acerca da
“ideia de cidade” cuja discussão informou poderosamente a elaboração do
programa da CEM. Penso que o ponto de partida para essa discussão deveria ter
sido o reconhecimento de que vivemos numa sociedade pluralista, onde coexistem
diferentes ideias acerca do que é uma “vida boa”. Não compete a um grupo de
intelectuais, mais ou menos iluminados, idealizar uma cidade a partir do seu
entendimento acerca de como devemos todos viver, mas sim defender uma “ideia de
cidade” que permita a cada um a realização dos seus diferentes projectos
pessoais.
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