sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A rábula da moção da censura (2º andamento)


Depois do PCP e do PSD terem ameaçado o governo com uma moção de censura, o BE anunciou mesmo a sua apresentação para o dia seguinte ao da tomada de posse de Cavaco Silva como Presidente da República.

Com que intenções?

Para derrubar o governo e provocar eleições antecipadas? Nem por isso, pois já veio dizer que se trata de uma moção contra uma política de direita que tem vindo a ser defendida quer pelo PS, quer pelo PSD. Logo, sem os votos do PSD a moção não é aprovada. Sócrates continuará a governar.

Provavelmente, para não perder votos para o PCP, aparecendo aos olhos da opinião pública como uma oposição menos firme ao actual governo. E a essa preocupação não será estranho o facto de ter aparecido recentemente ao lado do PS no apoio a Manuel Alegre…

Se assim for, esta anunciada moção de censura significa uma cedência da direcção do Bloco à sua ala mais esquerdista que criticou esse apoio. Significa que o Bloco ora parece querer aproximar-se da ala mais à esquerda do PS e dos independentes que lhe estão próximos, ora se arrepende dos passos que dá nesse sentido com medo de que o PCP lhe coma parte do eleitorado. Significa que há escolhas fundamentais que estão por fazer e que, por isso, em termos estratégicos, o Bloco anda à deriva.

Mas, para além disso, todas estas disputas entre ameaças de apresentação de moções e moções que não querem ser aprovadas, fazem-me pensar noutra coisa. Tenho a impressão que os partidos políticos portugueses ainda não reflectiram maduramente sobre a percentagem de votos brancos, bem como sobre a percentagem de votos obtidos pelos candidatos que se apresentaram sem o apoio de qualquer partido. A questão é esta: Que importância atribui a esmagadora maioria dos eleitores a estes jogos partidários? Na minha opinião, estas manobras políticas, serão importantíssimas para militantes e simpatizantes com grande paixão “clubista” e absolutamente estranhos (ou até particularmente irritantes) para todos os outros cidadãos.

Enfim, há uma intenção clarificadora na moção do BE? Sinceramente, julgo que, no Bloco, há muita coisa para clarificar, mas parece-me que não é por aí que se chega lá. Provavelmente, o próximo OGE não passará na AR e a direita está já a preparar uma alternativa de poder. E a esquerda? Tem dado passos nesse sentido? Eis aquilo que, para mim, continua a ser muito obscuro.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Algumas linhas sobre a rábula das “moções de censura” e o futuro das esquerdas em Portugal


Tanto o PSD como o PCP, vieram ameaçar derrubar o governo com uma moção de censura e, nos últimos dias, a comunicação social fez disso notícia de 1º página. São jogadas políticas que têm como alvo um eleitorado descontente, querem ver-se reflectidas nas sondagens, mas não terão consequências nenhumas onde importaria que as tivessem, no Parlamento.

É claro que, do ponto de vista do PCP (e do BE) não faltam razões para censurar o governo. Para os partidos á esquerda do PS, a questão central da crise que vivemos é o desemprego e é evidente que a política de Sócrates, telecomandada de Bruxelas, só pode agravar essa situação. Simplesmente, eleições antecipadas traduzir-se-iam, provavelmente, numa maioria parlamentar PSD/CDS. E a questão que se coloca é a de saber se o PCP está na disposição de dar o seu contributo para essa “solução”. Concretamente, o PCP votaria a favor de uma moção de censura apresentada pelo PSD? Custa-me a acreditar.

Do ponto de vista do PSD (e do CDS), o problema central da crise é o défice orçamental. E, nesta matéria, colocam-se duas hipóteses: O governo vai conseguir ou não atingir as metas fixadas pelo último PEC para 2011? Se houver indicações de que isso não vai ser possível, então o PSD tem aí um pretexto óptimo para censurar o governo. Mas se acontecer o contrário, será que o PSD vai esperar para ver o PS colher os louros da “vitória”? Parece-me que qualquer sucesso do governo vai despertar na direita o receio de ter perdido o comboio… Em qualquer dos casos, uma moção de censura lá para Maio, viria mesmo a calhar. Mas votará o PSD uma moção apresentada pelo PCP?

O PSD (tal como o PS) alimenta-se do Poder e não perdoará a Passos Coelho se este deixar passar esta oportunidade… O PCP alimenta-se de campanhas eleitorais. Servem para reunir as tropas, animar as hostes e, já agora, ajustar contas antigas com o BE. Uns e outros sonham com eleições antecipadas e ambos antecipam vitórias: Regressar ao governo (ainda que seja para, no fundamental, continuar as mesmas políticas)! Eleger mais dois ou três deputados, regressar ao terceiro (ou até ao quarto...) lugar do pódio eleitoral (mesmo que o próximo governo disponha do apoio de uma maioria absoluta PSD/CDS)! Que sonhos magníficos! Infelizmente, não são os meus.

Não acredito na hipótese das moções de censura, mas também não me parece que o governo consiga aprovar o próximo Orçamento de Estado na AR. Sócrates tem os dias contados e o PS pode preparar-se para uma longa travessia no deserto (os social-democrata franceses, alemães ou italianos, podem contar-lhe como é). Que, pelo menos, isso sirva para repensar os caminhos que a esquerda democrática e o centro-esquerda têm seguido nestes últimos anos.