sábado, 29 de maio de 2010

Uma manifestação e uma sondagem

A manifestação da CGTP convocada para hoje, reuniu em Lisboa centenas de milhares de manifestantes contra o PEC e as medidas de austeridade recentemente aprovadas na AR com os votos favoráveis do PS e do PSD.

A última sondagem da Marktest (inquérito realizado entre 20 e 25 de Maio) apresenta o PSD próximo da maioria absoluta (43,9%), dá uma maioria clara aos partidos da direita (PSD + CDS-PP = 51,4%) e confirma uma tendência que podemos verificar em sondagens anteriores: os partidos à esquerda do PS dificilmente superam a fasquia dos 15% (14,8 na sondagem da Eurosondagens e 15,2 na da Marktest).

Destes dados é possível inferir que o governo, acossado à esquerda e à direita e descredibilizado junto da opinião pública, iniciou já a sua fase terminal. A grandiosa manifestação da CGTP e a sondagem da Marktest, que atribui 27,6% das intenções de voto ao PS, não deixam grande margem para dúvidas.

Contudo, enquanto não for possível lançar pontes de diálogo à esquerda, o descontentamento popular e a vontade de mudança acabará por se traduzir numa vitória dos partidos da direita. É verdade que a nossa experiência de décadas mostra que deste rotativismo entre o PS e o PSD não é possível esperar grandes mudanças. Mas enquanto não for possível forjar uma verdadeira alternativa de governação à esquerda, não vejo como será possível sair deste círculo vicioso.

Enquanto o PS governar de acordo com as regras ditadas pelos interesses do grande capital, perde. Enquanto o Bloco se mantiver agarrado a uma posição de contra-poder, na expectativa duma mítica e distante Revolução, só pode ambicionar vitórias de Pirro.

Para que Portugal possa mudar, algo terá que mudar à esquerda.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Os desempregados que paguem a crise

O governo resolveu retirar os apoios sociais extraordinários que tinham sido atribuídos àqueles a quem a crise lançou no desemprego. Nomeadamente, retira-se o prolongamento por mais seis meses do subsídio social de desemprego, o tempo mínimo de descontos, que era de um ano, passa para ano e meio, e põe-se fim ao acréscimo de 10% para os beneficiários com filhos a cargo.

Dir-se-ia que o flagelo do desemprego está em vias de ser resolvido e que tais medidas deixaram de ser necessárias. Infelizmente não é assim. Ainda recentemente, a OCDE previu que a taxa de desemprego chegará aos 10,6% no final deste ano e de 10,4% em 2011. Contudo, a ministra Helena André considera que aquilo que importa é estimular os desempregados a encontrar trabalho. Ou seja, culpabiliza aqueles que se encontram na pobreza (são mais de 600 mil “calaceiros”…) pela sua situação em vez de explicar que resultados se podem esperar da procura de trabalho quando não há oferta de empregos dignos desse nome.

Trata-se apenas, evidentemente, de mais uma medida de austeridade que visa realizar poupanças, atingindo duramente os cidadãos que a crise atirou para o desemprego.

Não se nega a necessidade de pôr em ordem as contas públicas, mas será que não há outras alternativas para o combate ao défice? Ou simplesmente é mais fácil fazê-lo à custa dos mais pobres e desprotegidos do que dos ricos e poderosos? Alguém conhece uma reacção do governo ou do PS às propostas do Bloco para taxar convenientemente os lucros da banca, os bónus milionários dos gestores das grandes empresas e as transacções de capitais para off-shores?

A coragem que este governo exibe quando se trata de atingir os mais fracos, transforma-se em cobardia quando tem de enfrentar os mais fortes. Por isso, é que, no próximo sábado, se espera, em Lisboa, uma grande manifestação da CGTP capaz de fazer ouvir bem um sonoro e claro BASTA!

domingo, 23 de maio de 2010


O que nos dizem as últimas sondagens?

Reproduzo aqui um quadro comparativo das últimas sondagens e dos resultados das legislativas de 2009. Os inquéritos da sondagem da Marktest foram realizados entre 20 e 25 de Abril, os da Aximage entre 4 e 7 de Maio, e os da Eurosondagens entre 13 e 18 de Maio). As últimas eleições para a AR realizaram-se em 17 de Setembro de 2009.


Que conclusões se podem tirar daqui? Ninguém poderá afirmar com certeza quem seria o vencedor (o PS ou o PSD?) de eleições legislativas que se realizassem neste momento. A votação no CDS-PP parece também envolta na maior das incertezas. Percebe-se, no entanto que o crescimento do PSD tende a fazer-se, sobretudo, à custa do eleitorado do partido de Paulo Portas, sendo possível ao PS obter um resultado pouco inferior àquele que conseguiu nas últimas legislativas. Nesse caso, uma maioria absoluta dos partidos da direita não estaria assegurada. Compreende-se que Passos Coelho não tenha pressa em antecipá-las. Julga, e provavelmente bem, que o tempo há-de jogar a seu favor.

Por outro lado, se não se pode falar ainda numa maioria de direita, muito menos se poderá considerar a possibilidade de uma maioria de esquerda. Os resultados da moção de censura entregue pela CDU comprovam claramente que é impossível somar os deputados eleitos pelas CDU ou pelo Bloco aos do PS. Além disso, a acreditar na sondagem da Marktest, uma transferência significativa de votos pode ocorrer do CDS-PP para o PSD, mas nenhuma delas nos permite pensar que se deva esperar o mesmo do BE e da CDU para o PS. Sendo assim, o argumento da ingovernabilidade, esgrimido por Sócrates quando ainda sonhava com a renovação da maioria absoluta, volta-se contra ele próprio: quem considerar que a crise económica e financeira exige um governo de maioria absoluta votará nos partidos da direita e ficará à espera de um entendimento Passos Coelho – Paulo Portas que, passadas as eleições, não há-de ser difícil.

Finalmente, a realização neste momento de eleições para a AR não parece beneficiar os partidos à esquerda do PS, curiosamente aqueles que votaram a favor duma moção de censura que, a ser aprovada, faria cair o governo. De facto, não parecem estar a conseguir capitalizar a seu favor o descontentamento popular. A CDU, em princípio, limitar-se-ia a manter o eleitorado que lhe tem sido fiel e, o Bloco obteria mesmo votações inferiores às das últimas legislativas. Talvez fosse boa altura para os militantes destes partidos colocarem a si mesmos esta questão inevitável: Porquê?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Estratégias de Poder


James Lee Byars, The Red Angel of Marseilles, 1993


Já está decidido o sentido do voto dos vários partidos sobre a moção de censura que o PCP vai apresentar na AR e não se pode dizer que haja qualquer surpresa.

O PSD e o CDS-PP, que querem de facto o derrube do governo porque sabem que serão eles quem, a seguir, se sentará nas cadeiras do poder, vão abster-se.

O PCP e o BE, que sabem que não serão chamados a governar, votam a favor.

Contraditório? De maneira nenhuma. Para aqueles que ambicionam governar o país, importa saber esperar pela melhor altura para derrubar o actual governo. Para aqueles que se remetem à condição de “partidos de protesto”, qualquer altura é boa para o censurar.

A moção de censura do PCP não vai derrubar o governo PS, mas o ciclo socrático da governação está a chegar ao fim. O próximo 1º ministro vai chamar-se Pedro Passos Coelho.

Num post aqui publicado em 29 de Março, propus que se distinguisse entre PPP1, PPP2 e PPP3. Estamos na fase PPP2 e, ao contrário doutras opiniões, julgo que a personagem principal desta história tem sabido desempenhar com mestria o seu papel. A sua táctica é a da cenoura e do bastão. Por um lado, assume-se como estadista responsável e dá uma mão a Sócrates (ou ao país…) num momento de crise, por outro, mantém um discurso crítico onde se afirma como alternativa.

Quando chegar a altura que melhor lhe convenha, entraremos na fase PPP3. Conheceremos então grandes diferenças em relação ao governo de Sócrates? Não me parece. Reafirmo também aqui aquilo que já afirmei no post citado. Tanto mais que o verdadeiro centro do poder continuará a deslocar-se cada vez mais de Lisboa para Bruxelas.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O PCP vai apresentar uma moção de censura

Em princípio, quando um partido apresenta uma moção de censura na AR quer que ela seja aprovada. Sendo assim, aquilo que o PCP desejaria era a queda do governo e a realização de eleições antecipadas. Para quê? Dessas eleições, a acreditar nas últimas sondagens, sairia vencedor o PSD. Por outro lado, julgo que qualquer pessoa perceberá que a abertura de uma crise política neste momento só poderia resultar num agravamento brutal das condições de financiamento externo de que dependemos. Já o disse aqui e repito-o: em última análise, o vencedor das eleições seria o FMI.

Portanto, pergunto de novo: o que quer o PCP? Um governo de Passos Coelho nas mãos do FMI? Ou considera simplesmente que nada disso importa desde que a CDU possa capitalizar o descontentamento popular e eleger mais dois ou três deputados, ultrapassando na “tabela classificativa” o execrado Bloco de Esquerda?

Resta, é claro, uma outra hipótese. O PCP vai apresentar uma moção de censura, mas não quer que ela seja aprovada. Por isso, Jerónimo de Sousa não se esqueceu de dizer que a sua moção não condenava apenas o governo mas também o PSD. Havia que garantir a sua rejeição.

Pergunto pela última vez: se a moção do PCP não é para levar a sério, para que serve então? É uma mera jogada de propaganda política: o PCP quer aproveitar o balanço da manifestação da CGTP para se apresentar ao país como o mais consequente partido da esquerda e o crítico mais radical do PEC. O Bloco fica condenado a seguir a reboque da "vanguarda da classe operária" ou a aparecer como um partido que contemporiza com as políticas governamentais.

Por mim, acho muito bem que se critique o PEC. Mas o PCP, em vez de nos entreter com politiquice barata, melhor faria que fosse capaz de apresentar alternativas justas, fiáveis e susceptíveis de serem aplicadas com a urgência que a actual situação exige.
Falar claro

As medidas de austeridade que constam do PEC, agora muito agravadas por aquelas que foram anunciadas por José Sócrates e que contaram com o acordo de Passos Coelho, podem relançar o país na recessão económica. Agravam a situação dramática em que vivem já 600 mil desempregados e cerca de 2 milhões de pobres e põem em causa o futuro das prestações sociais, da Educação e da Saúde pública.

Dito isto, é necessário recordar que dependemos do financiamento externo e, que se continuarmos a pagar as dívidas contraídas a juros exorbitantes, poderemos chegar a uma situação semelhante àquela que se vive hoje na Grécia. E, então, tudo aquilo que foi dito no primeiro parágrafo deste texto será pouco para descrever a situação que iremos viver.

Bruxelas exige que o nosso défice no fim de 2010 não ultrapasse os 7,3% e, mesmo discordando desse número, neste momento não me parece que esteja na nossa mão regateá-lo. Assim, quaisquer críticas às medidas de austeridade anunciadas têm de ser acompanhadas por propostas alternativas que nos permitam alcançar o mesmo objectivo, sem penalizar os mais fracos e desprotegidos, mas exigindo dos privilegiados um esforço que esteja à altura da sua riqueza e das suas responsabilidades.

Essa será a função duma esquerda credível e responsável. Pelo contrário, contrapor, sem mais, às medidas de austeridade avançadas pelo governo propostas favoráveis ao crescimento económico não é sério porque não é possível resolver problemas que exigem uma resposta imediata com medidas que, na melhor das hipóteses, darão fruto a médio ou a longo prazo.

Não significa isto que propostas para a redução do défice já em 2010 não devam ser articuladas com outras favoráveis ao crescimento económico. É mesmo obrigatório que assim aconteça sob pena de estarmos apenas a adiar problemas, a resolvê-los hoje para os reencontrarmos amanhã. O que não é possível é esperar que problemas como a perda de competitividade e o lento crescimento da economia nacional possam ser resolvidos dum dia para o outro e muito menos que, para isso, baste um apoio indiscriminado a todo o investimento público.

A resposta à rendição incondicional às políticas da direita protagonizada pelo PS de José Sócrates não pode estar numa aposta na demagogia e no populismo, como aquela que, na minha opinião, tem sido protagonizada pelo PCP. Ambas desacreditam a esquerda e abrem caminho a uma futura vitória de Passos Coelho.

Numa situação de ameaça de insolvência do Estado português, em 1983, um governo liderado por Mário Soares assinou um acordo com o FMI. Seguiram-se anos de grandes sacrifícios que, como sempre, atingiram sobretudo os mais pobres. No fim, Cavaco Silva, à frente do PSD, ganhou as eleições. E seguiram-s dez anos do cavaquismo. Esperemos que o Bloco e a esquerda do PS saibam encontrar os caminhos que nos afastem duma reedição dessa penosa experiência.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


Na morte de Saldanha Sanches

Morreu José Luís Saldanha Sanches, conhecido fiscalista e Professor na Faculdade de Direito de Lisboa. Tinha 66 anos e habituou-nos a uma intervenção cívica e política da qual havia ainda muito a esperar.

Gostaria de o recordar aqui como combatente anti-fascista, como democrata e homem de esquerda. E também como uma pessoa boa, acessível e afável, com a qual era fácil concordar, mas de quem se podia discordar sem que se gerasse automaticamente um clima de distanciamento e animosidade.

Devo dizer que, embora militássemos durante alguns anos no mesmo partido, não tive com ele relações de uma grande proximidade. Recordo, contudo, muito bem o nosso primeiro encontro. Foi em Coimbra, em 1972, numa reunião que juntou estudantes próximos da OCMLP (O Grito do Povo) e do MRPP e onde se discutiu a situação então vivida pelo movimento estudantil. A AAC estava fechada e, na Faculdade de Direito de Lisboa (donde vinham os militantes e simpatizantes do MRPP presentes), no dia 12 de Outubro, José António Ribeiro Santos havia sido assassinado pela PIDE.

Saldanha Sanches participou nessa reunião e, depois dela, na manifestação que comemorava a “Tomada da Bastilha”, o assalto, em 25 de Novembro de 1920, ao Clube dos Lentes pelos estudantes da Universidade de Coimbra que assim reivindicavam a concessão de instalações condignas onde pudessem instalar a sua Associação Académica. A sua presença e atitude contrariava o clima sectário, dogmático e intolerante que se tinha instalado entre os vários grupos maoístas portugueses.

E recordo também a última vez em que estivemos juntos, num almoço que juntou vários ex-militantes do MRPP num convívio que comemorava o 20º aniversário do 25 de Abril. Prefigurava-se então o fim do cavaquismo e a esquerda preparava-se para sair duma longa travessia do deserto. Havia quem depositasse as suas esperanças em Guterres, outros iriam apostar no Bloco de Esquerda que seria fundado alguns anos depois.

Saldanha Sanches, episodicamente, haveria de apoiar uns e outros. Por exemplo, apoiou a candidatura de Fernando Rosas à Presidência da República e, mais recentemente, a de António Costa à CML. Contudo, não voltou a militar em qualquer partido. Vinha do PCP, esteve no MRPP e, por fim, muito brevemente e sem grande empenhamento, na UDP. Atrevo-me a dizer que nunca se terá sentido totalmente confortável em nenhum deles. Recordo-o como alguém que nunca desistiu de pensar pela sua própria cabeça, virtude que, nos partidos da extrema-esquerda, sempre foi vista como um defeito. Porém, nada disso o impediu de lutar por aquilo que julgava ser justo, mesmo quando a defesa das suas convicções implicavam a incompreensão dos seus camaradas.

Desiludido com os resultados obtidos pelos regimes instalados na União Soviética, na China, na Albânia ou em Cuba, acabou por assumir uma postura reformista, denunciando como fiscalista prestigiado as injustiças do nosso sistema fiscal e os “buracos legais” que favorecem a fraude e a fuga aos impostos. Fê-lo em nome daquilo a que chamava um “capitalismo decente”, uma espécie de mal menor em face das repetidas perversões totalitárias das diferentes revoluções socialistas entretanto ocorridas.

Uma atitude de cepticismo que, podendo ser criticada como ponto de chegada, não pode deixar de ser considerada como ponto de partida por todos aqueles que não queiram assumir no presente a responsabilidade da repetição de tragédias passadas. Trata-se, antes de mais, duma questão de honestidade intelectual. A honestidade intelectual de que Saldanha Sanches foi sempre um exemplo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Mais papistas que o Papa

Hoje, dia 13 de Maio, o Papa visita Fátima e, por isso, as escolas públicas do ensino do ensino básico e secundário de Braga estão fechadas. Já o Colégio D. Diogo (propriedade da Igreja) funciona normalmente. Assim vai o nosso Estado laico...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Será mesmo necessário subir a taxa do IVA?

José Sócrates veio de Bruxelas com algumas novidades. Partiu para lá sem dúvidas quanto à prioridade das “grandes obras” públicas, regressou sem o aeroporto de Alcochete e sem a terceira travessia do Tejo. Ficou, entretanto, com uma linha de alta velocidade Poceirão – Madrid entre mãos. Tinha sido adjudicada na véspera...

Exigem-nos, agora, uma descida do défice para 7,3% do PIB em vez dos 8,3% previstos pelo PEC para este ano. Mas, para que isso aconteça, a suspensão daquelas obras não será suficiente. Novas medidas começam a tomar forma no horizonte. Entre elas, a subida do IVA para 21 ou 22%.

Não é preciso dizer que isso vai significar um aumento dos preços. Trata-se, como é evidente, duma medida impopular que vai afectar sobretudo aqueles que já têm menos poder de compra.

Será interessante verificar a reacção dos vários partidos.

O PS não tem qualquer autonomia em relação ao governo e, portanto, estará a favor. Este, por sua vez, não quer assumir sozinho o odioso da questão e vai tentar comprometer o PSD com esta nova medida de austeridade.

Não seria de espantoso que Passos Coelho, que se tem batido contra a subida dos impostos, dê o dito por não dito e acompanhe José Sócrates nesta matéria, restando saber que contrapartidas lhe irá exigir. Conhecendo nós o pendor neoliberal do seu pensamento e a sua vontade de se defender da concorrência do CDS-PP, podemos imaginar quais sejam.

Aliás Paulo Portas avançou já, apresentando-se como o campeão da classe média e das PME´s que serão afectadas por uma previsível contracção da procura no mercado interno provocada pela subida do IVA. E apresenta como alternativa uma política de redução das despesas do Estado: desinvestimento nas obras públicas, redução das prestações sociais, diminuição das despesas do com a Saúde e a Educação, mais restrições no acesso à Função Pública.

O PCP está também contra o aumento do IVA, discorda das alternativas propostas pelo CDS-PP, defende o investimento público e o aumento dos salários. Sobre a redução do défice, parece não ter nada de significativo a dizer. Mantém-se fiel à sua política que entende a crise financeira como uma mera cabala montada pelo grande capital, pelo que o melhor seria fazermos de conta que ela não existe.

Quanto a BE, recusa também a subida do IVA e propõe como alternativa uma subida de impostos dirigida àqueles a quem a crise actual menos parece afectar: à Banca, àqueles que continuam a transferir fortunas para contas off-shore, aos gestores das grandes empresas que auferem bónus milionários.

Basicamente, são estas as opções. Cabe-nos a nós escolher entre elas.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Em face da crise, que diferenças separam o PCP e o BE?

Já sabemos que o PCP é “contra o PEC”, o que não sabemos é que medidas propõe para reduzir um défice orçamental que nos obriga a endividarmo-nos junto da banca internacional pagando juros exorbitantes. Sabemos que é a favor de aumento de salários como forma de fazer aumentar a procura interna e dinamizar a indústria nacional, o que não sabemos é como pretende resolver problemas de tesouraria que se podem colocar a curto prazo. Sabemos que é a favor das “grandes obras” públicas, sejam elas quais forem e custem elas o que custarem, só não sabemos como pretendem pagá-las.

E sabemos também que, na AR, votaram contra o auxílio económico à Grécia, o que condenaria a Grécia à bancarrota e se repercutiria muito negativamente sobre a própria situação de Portugal.

Nada disto não parece impressionar os comunistas portugueses. Talvez seja útil comparar as suas posições com as do BE.

O BE também criticou o PEC, mas propôs um programa alternativo de redução do défice orçamental. Apoia o início imediato das obras construção da linha do TGV entre o Poceirão e Caia, mas concordou com a suspensão da adjudicação das obras do aeroporto de Alcochete e da terceira travessia do Tejo. E aprovou a concessão da ajuda financeira de Portugal à Grécia, discordando embora das condições que lhe foram impostas pelo BCE e pelo FMI.

Não subscrevo todas estas opções. Se tinha dúvidas acerca da rentabilidade, da linha do TGV Lisboa – Madrid, essas dúvidas saem reforçadas quando ela se transformou numa linha Poceirão – Madrid. Por outro lado, concordo inteiramente que o Bloco contraponha às obras faraónicas do regime socrático, um programa de reabilitação urbana que a direita se tem esforçado por ignorar.

Confrontadas estas opções políticas dos partidos à esquerda do PS, as diferenças são evidentes. E, na minha opinião, só favorecem o Bloco.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O TGV na Assembleia da República

A proposta do CDS-PP de suspender, por decisão da AR, a adjudicação do troço Poceirão – Caia, pontapé de saída da construção da linha de alta velocidade Lisboa – Madrid está condenada ao fracasso, pois tem a oposição do PS, do BE e da CDU.

A posição do PS está de acordo com as posições que assumiu durante a última campanha eleitoral. Mas, como explicar a opção dos partidos à sua esquerda?

Comecemos por pôr de lado reacções pavlovianas do tipo “se a direita é contra, então nós, que somos de esquerda, estamos a favor”, até porque o mesmo raciocínio pode ser, com a mesma legitimidade, invertido: “se o governo é a favor, então nós, que somos oposição, estamos contra”.

Deixemos também de lado raciocínios do género “num contexto de crise, o investimento privado retrai-se e é necessário apostar no investimento público”. O dinheiro não cai da telha e está cada vez mais caro. O investimento no TGV far-se-á à custa da redução do investimento público noutras áreas onde seria mais útil, porque mais capaz de favorecer a reanimação da indústria nacional e de criar emprego no curto prazo.

Finalmente, que fique claro que não subestimo a importância da ligação de Portugal à rede europeia de alta velocidade. Trata-se de uma questão de oportunidade: quando mal temos dinheiro para o frango, não podemos encomendar faisão. Ou podemos, mas depois virá a conta e não tenho dúvidas acerca de quem vai ser chamado a pagá-la.

Quanto vai custar o TGV? O troço Poceirão - Caia está orçamentado em 1359 milhões de euros. A isso terá que se juntar o preço da ligação a Lisboa, incluindo o da 3ª ponte sobre o Tejo. De facto, ninguém sabe quanto nos custará, se tivermos em conta a mais que provável derrapagem. Preparamo-nos para dar um salto no escuro. Só depois se verá se vamos cair num abismo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Alegre formaliza candidatura

Manuel Alegre formalizou a sua candidatura à Presidência da República. Alea jacta est. A partir daqui podemos considerar três possíveis desenvolvimentos:

1) Sócrates não apoia Alegre. É uma hipótese absolutamente teórica. De facto, não tem outra alternativa. Um apoio a Fernando Nobre, por exemplo, não seria compreendido pela maioria dos militantes do seu partido e redundaria num resultado inferior àquele que Mário Soares obteve nas últimas presidenciais.

2) Sócrates apoia Alegre a contragosto. É a opção mais provável. Porém, se este distanciamento se traduzir numa mobilização fraca da máquina partidária do PS durante a campanha eleitoral, então dificilmente se conseguirá ilibar da acusação de ter favorecido a vitória de Cavaco e a sua posição no seio do partido e perante o seu próprio eleitorado ficará enfraquecida.

3) Sócrates apoia Alegre empenhadamente. Alegre conseque reunir, pelo menos numa eventual 2ª volta, os votos de toda a esquerda e vence as eleições. Tratar-se-ia da vitória duma candidatura independente. As ideias e a prática política do candidato não deixam margem para dúvidas a esse respeito e por isso mesmo é que ela é capaz de encontrar apoios numa esquerda que transcende largamente as fronteiras do PS. Os louros da vitória caberão por inteiro ao candidato e Sócrates, enquanto for 1º ministro, terá que se entender com um PR que nem será cómodo nem fácil perante os desmandos da governação.

Não admira que Sócrates tenha dificuldade em decidir. É que se Manuel Alegre ainda não ganhou, ele próprio, seja qual for a posição que resolva adoptar, parece que já perdeu.

domingo, 2 de maio de 2010

A propósito do Porto – Benfica

Escrevo este post umas horas antes do início do Porto – Benfica. Já todos sabem que o Benfica pode vencer hoje o campeonato. Parece que os portistas consideram ofensivo que tal coisa possa acontecer no Dragão. Aliás, habituados a ganhar, já consideram o campeonato como coisa sua, pelo que a mais do que provável vitória do Benfica só pode ser um roubo.

Sendo assim, os fanáticos do costume começaram cedo a aquecer os motores: durante a semana, as Casas do Benfica foram vandalizadas em Braga, Famalicão, Ermesinde e Gaia e ontem o autocarro que transportava a comitiva do Benfica foi apedrejado ainda antes de chegar ao Porto.

Entretanto, o chefe dos Super Dragões já foi avisando que hoje seria muito difícil conter a fúria dos capangas “dada a forma como decorreu o campeonato”. Deve ser realmente difícil contrariar vocações tão determinadas. Aliás, parece-me que elas são compartilhadas pelos seus colegas dos No Name Boys, da Juve Leo, ou doutras claques quaisquer. E devo dizer que a minha confiança na espécie humana não chega ao ponto de pensar que este pessoal possa ser civilizado.

Daí, esta minha sugestão: por que não se constroem uns “clacódromos”, devidamente murados, onde, nos dias dos “jogos de alto risco”, estes adeptos do insulto e da porrada se podiam dedicar ao seu desporto preferido, permitindo àqueles que gostam de futebol ir aos estádios e apoiar a equipa que quiserem sem serem importunados?

sábado, 1 de maio de 2010

No 1º de Maio

Dez milhões de habitantes, mais de 2 milhões de pobres, mais de 600 mil desempregados, cerca de 1 milhão de pessoas em regime de trabalho precário. Num dos países da Europa onde as desigualdades sociais são mais gritantes, pedem-se aos mais fracos mais sacrifícios e declaram-se como demagógicas as medidas que os exigem dos mais ricos.

Este país chama-se Portugal. Muitos declaram-se vencidos perante injustiças que se repetem como fatalidades, mas outros saem hoje à rua em luta por uma vida melhor.

Para eles, deixo aqui o poema Meu Maio, de Vladimir Maiakovski:

A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram o feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu Maio!
Sou camponês – Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o Maio que eu quero!
Sou terra –
O Maio é a minha era!