NÃO HÁ BECOS SEM SAÍDA!
1. Considerando que a política de austeridade
que tem sido adoptada pelo governo, falhou (o défice em percentagem do
PIB é hoje muito maior do que aquele que tínhamos antes do programa de resgate
e os juros pagos pelos títulos de dívida pública, transaccionados no mercado
secundário, estão ao nível de 2010),
2.
e considerando que todos os sacrifícios,
entretanto realizados (crescimento gigantesco do desemprego e da pobreza), se
revelaram inúteis,
3.
concluímos que o combate à crise requer uma mudança
radical de orientação política.
QUE SAÍDAS TEMOS À
DISPOSIÇÃO?
1.
A solução que tem sido repetidamente avançada
por diferentes sectores da oposição consiste na renegociação da dívida.
Na sua versão mais radical e, na opinião de alguns, mais justa e realista,
trata-se de renegociar montantes, juros e prazos. Ou seja, da sua reestruturação.
2Uma renegociação da dívida implica um acordo
entre credores e devedores. A sua concretização não depende apenas de nós.
Consideremos aqui duas hipóteses:
1. Verifica-se
um acordo entre as partes. Aspectos positivos: libertam-se
capitais necessários ao relançamento económico e poderíamos, talvez, esperar
uma relativa melhoria das condições de vida da população. Aspectos negativos:
um haircut significativo
afastar-nos-ia da possibilidade de regresso aos mercados financeiros e,
portanto, continuaríamos dependentes dos empréstimos da Troika e, portanto, sob
a sua supervisão.
2. Não
se verifica um acordo entre as partes. Nesse caso, ou nos mantemos
numa situação aproximadamente igual á que temos hoje, ou denunciamos
unilateralmente o pagamento da dívida, o que implicará a interrupção das
transferências acordadas com a Troika.
3.
Neste último caso, só nos resta uma solução
para conseguirmos os meios necessários para garantir o pagamento de salários e
pensões e de outras despesas inerentes ao funcionamento das instituições
públicas: a emissão de moeda própria
.
CONCLUSÃO
1.
Na actual conjuntura política europeia, um acordo
com a Troika acerca da reestruturação da dívida só poderá ser conseguido se
esta for confrontada com a ameaça de um cancelamento unilateral dos pagamentos
e consequente saída do euro.
Ou
seja, se os nossos credores considerarem que, apesar da suas perdas, a
reestruturação é, do seu ponto de vista, um mal menor.
2.
Se ainda assim, esse acordo não se verificar,
restar-nos-á negociar as melhores condições possíveis da nossa retirada da zona
euro.
3.
Um acordo acerca da reestruturação da dívida
não nos libertaria de supervisão da Troika e de uma renegociação permanente dos
termos inerentes aos novos empréstimos que teríamos que contrair no futuro. A
saída do euro implicará, por certo, sacrifícios cuja gravidade é, neste
momento, difícil de prever, mas é a única solução que nos poderia devolver
direitos de soberania entretanto perdidos.
DUAS NOTAS FINAIS
1. A solução de um regresso aos mercados
sustentada pelo compromisso de aquisição pelo BCE, no mercado secundário, de
títulos de dívida pública emitidos pelo Estado português, de forma a evitar uma
subida incomportável dos seus juros, não seria radicalmente diferente de um
programa de resgate, na medida em que esse compromisso só se efectivará como
garantia a prossecução das actuais políticas austeritárias. Além disso, passaríamos
a pagar juros mais altos do que aqueles que pagamos hoje pelos empréstimos obtidos.