segunda-feira, 13 de julho de 2009

“É urgente acordar”


Retomo o título do artigo de Manuel Alegre no Expresso (11-2-09) e começo por citar o primeiro parágrafo:

“Em nenhum outro país europeu a esquerda é eleitoralmente tão forte como em Portugal. Mas essa força não serve para grande coisa. Sobretudo não serve para governar, seja em coligação seja através de acordos pontuais. Em caso de maioria relativa do maior partido de esquerda, a governabilidade só é garantida à direita, quer através do bloco central quer com o apoio do CDS. Nem o PCP e o BE estão disponíveis nem o PS quer governar com qualquer deles. As nossas esquerdas parecem ter como desígnio principal excluírem-se umas às outras. É uma das originalidades portuguesas.”

Num plano meramente descritivo, não há nada a objectar. Tudo aquilo que Manuel Alegre diz é um facto repetidamente confirmado.

Uma primeira questão: Porquê? Em primeiro lugar, existem razões históricas. O PS, no plano organizativo, era um partido muito incipiente antes do 25 de Abril. Cresceu durante o PREC, no quadro da luta pela afirmação de uma democracia de tipo ocidental, tendo como inimigo principal o PCP. Por outro lado, os comunistas e a extrema-esquerda viram sempre no PS um inimigo obstinado da revolução. As feridas então abertas ainda não estão totalmente cicatrizadas e, apesar das circunstâncias serem hoje muito diferentes, continuam a existir divergências políticas e ideológicas a dividir as diferentes esquerdas em Portugal.

Em face da crise da social-democracia e da falência do “socialismo real” seria possível pensar que tinha chegado a hora de submeter o passado à crítica e de procurar convergências e projectos comuns. Não tem sido assim. Por um lado, pela recusa do PCP em abandonar velhas ortodoxias e por uma cultura de contra-poder ainda dominante no BE. Por outro, pela deriva centrista do PS, cuja estratégia passa por garantir maiorias parlamentares pela disputa do espaço tradicionalmente ocupado pelo PSD.

Uma segunda questão: Que fazer? Não haverá maiorias de esquerda sem o apoio do “povo de esquerda” e este encontra-se, maioritariamente, na base eleitoral do PS. Trata-se de uma esquerda popular, democrática e reformista. Quem pretenda governar em seu nome não pode alimentar quaisquer dúvidas a este respeito nem alimentar ambiguidades acerca dos seus próprios propósitos.

Por outro lado, tem vindo a crescer a distância entre o PS e a sua base eleitoral. É que o PS não é, para adoptar a classificação de Maurice Duverger, um partido de massas, mas um partido de quadros. O PS é sobretudo “aparelho”. E o aparelho desenvolveu interesses próprios que acabam por determinar toda a intervenção do partido. O que o aparelho quer é Poder e, para lá chegar, vale tudo: promessas eleitorais que se traduzam em votos, mas não necessariamente em práticas governativas e, inclusive, o próprio sacrifício dos valores que justificariam a definição do PS como “partido de esquerda”.

É claro que há entre os militantes do PS muitas pessoas de esquerda, mas o seu aparelho não é de esquerda nem de direita, é mais uma agência de emprego e grande parte daqueles que o integram estão disponíveis para tudo aquilo que lhes permita arranjá-lo, conservá-lo ou lhes possibilite progredir na carreira.

Na direcção do aparelho estão aqueles que têm o poder de distribuir os jobs, na sua base, os boys, dispostos a vender a alma ao diabo por um lugarzinho na bancada de deputados, ou na secretaria de um ministério, ou num departamento governamental qualquer (de preferência, perto de casa, se faz favor…), ou numa câmara, ou numa empresa camarária… Enfim, onde houver uma secretária e uma cadeira onde se possam sentar. Estes boys pertencem geralmente a uma pequena-burguesia sedenta de “subir na vida”… Muitos deles são “professores”, adeptos incondicionais desta Ministra da Educação (e, para dizer a verdade, de qualquer outro que lhe suceda). Mas perderem o seu lugarzinho na "administração" e serem obrigados a irem dar aulas para uma escola – isso é que não!

Não é fácil debater política e fazer acordos com pessoas assim. A sua carreira começou a ser construída há muito tempo: na Jota, na Associação de Estudantes, na Junta de Freguesia… E o que demorou tanto tempo a montar vai agora por água abaixo por causa de uma “ideia”?

Manuel Alegre conhecerá melhor do que eu o seu próprio partido. A mim, parece-me que Sócrates lhe vai continuar a dar palmadinhas nas costas à frente das câmaras da televisão, porque pensa que assim angaria mais uns votos. Mas, nas "bases", não hão-de faltar Josés Lellos com vontade de lhe fazer a cama.

Exagero? Estou a ser sectário? Quem me dera estar enganado, mas parece-me que as esquerdas têm ainda um longo caminho a percorrer para se poderem apresentar unidas no apoio a um governo que saiba afirmar-se como uma alternativa socialista.

Não se interprete isto como uma desistência. Todas as caminhadas se iniciam com um primeiro passo e já vários passos foram dados com a fundação do Bloco de Esquerda, com a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, com o comício do Trindade, com o Fórum da Aula Magna… O resultado é incerto, mas ninguém está autorizado a desistir.

1 comentário:

  1. O Alegre quer esquerda, mas não larga as saias do PS, não cria um partido,está com Costa/Roseta, não quer vitorino, bem.

    Alegre irrita.

    O homem que apele ao voto no BE e deixe-se de coisas!

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