Francisco Louçã na “Grande Entrevista”de Judite de Sousa
Destaco dois aspectos da entrevista de Louçã: o primeiro, uma crítica impiedosa à política prosseguida pelo governo de José Sócrates, do novo Código de Trabalho aos negócios com a Liscont, passando pela entrega de 1/3 da Galp a José Eduardo dos Santos e a Américo Amorim; o segundo, a vontade manifestada de contribuir para a formação de um governo de esquerda que se afirme como uma alternativa ao rotativismo do PS e do PSD ao centro.
Não tenho quaisquer reservas acerca das críticas que dirigiu ao PS: são justas e necessárias. Quanto à possibilidade de uma alternativa de esquerda, embora não o explicite, deduz-se das suas afirmações que elas implicam a possibilidade de realização de uma das duas seguintes hipóteses:
1ª Hipótese: a de uma transferência maciça de votos do PS para o BE, algo que daria ao Bloco, se não uma maioria parlamentar, pelo menos a posição de partido maioritário da esquerda e, portanto, condições para negociar em situação vantajosa acordos com outros partidos com vista à formação de um governo.
2ª Hipótese: a de uma cisão no PS, com a constituição de um novo partido de esquerda socialista, capaz de, com o BE, formar uma “grande esquerda” com condições para assumir o governo.
Haveria ainda uma 3ª hipótese, puramente teórica, que Francisco Louçã não considera de facto: a de uma transfiguração radical do PS, com a eleição de uma nova direcção, a adopção de uma nova linha política e a sua libertação da teia de interesses e compromissos onde se encontra enredado, como condição para um acordo de governo PS-BE.
Como considero que qualquer uma delas é, pelo menos a curto prazo, altamente improvável, parece-me que o Bloco vai ter que lidar com o PS “realmente existente”, que é mau, mas é o que temos. E se isso elimina a hipótese de uma aliança onde teríamos de abdicar do nosso programa, não nos impede de admitir que, com o fim da maioria absoluta, possam surgir possibilidades acrescidas para o estabelecimento de acordos pontuais.
É claro que ninguém pode descartar a possibilidade do PS preferir, como já o fez no passado, acordos com a direita. Contudo, a possibilidade do BE congregar maiorias parlamentares susceptíveis de fazer aprovar na AR medidas positivas, fica definitivamente excluída se existir uma maioria PSD-CDS.
Portanto, uma atitude do tipo “entre o PS e o PSD, venha o diabo e escolha” pode render ganhos eleitorais sem trazer ganhos significativos em termos de benefícios sociais concretos.
Assim, o Bloco vê-se numa situação particularmente delicada. Só pode crescer à custa do PS e, portanto, tem de continuar a criticá-lo. (O que, aliás, não é difícil, sobretudo se não permitirmos que o actual chorrilho de promessas eleitorais nos faça esquecer as malfeitorias dos últimos quatros anos de governo.) Mas não ganhará nada se o enfraquecimento do PS se traduzir numa vitória do PSD.
Não há uma saída simples para este dilema. Apenas posso dizer que a crítica do governo de José Sócrates se tem de fazer acompanhar por uma crítica não menos impiedosa das “soluções” alternativas propostas por Manuela Ferreira Leite. E desejar que, das próximas eleições, saia uma maioria PS-BE-CDU, com um PS minoritário e uma representação parlamentar do Bloco significativamente fortalecida. O próximo governo terá, então, que prestar contas aos deputados que forem eleitos pelo “povo de esquerda”. E a nós, eleitores, competir-nos-á julgá-los, depois, pelas opções que fizerem.
Destaco dois aspectos da entrevista de Louçã: o primeiro, uma crítica impiedosa à política prosseguida pelo governo de José Sócrates, do novo Código de Trabalho aos negócios com a Liscont, passando pela entrega de 1/3 da Galp a José Eduardo dos Santos e a Américo Amorim; o segundo, a vontade manifestada de contribuir para a formação de um governo de esquerda que se afirme como uma alternativa ao rotativismo do PS e do PSD ao centro.
Não tenho quaisquer reservas acerca das críticas que dirigiu ao PS: são justas e necessárias. Quanto à possibilidade de uma alternativa de esquerda, embora não o explicite, deduz-se das suas afirmações que elas implicam a possibilidade de realização de uma das duas seguintes hipóteses:
1ª Hipótese: a de uma transferência maciça de votos do PS para o BE, algo que daria ao Bloco, se não uma maioria parlamentar, pelo menos a posição de partido maioritário da esquerda e, portanto, condições para negociar em situação vantajosa acordos com outros partidos com vista à formação de um governo.
2ª Hipótese: a de uma cisão no PS, com a constituição de um novo partido de esquerda socialista, capaz de, com o BE, formar uma “grande esquerda” com condições para assumir o governo.
Haveria ainda uma 3ª hipótese, puramente teórica, que Francisco Louçã não considera de facto: a de uma transfiguração radical do PS, com a eleição de uma nova direcção, a adopção de uma nova linha política e a sua libertação da teia de interesses e compromissos onde se encontra enredado, como condição para um acordo de governo PS-BE.
Como considero que qualquer uma delas é, pelo menos a curto prazo, altamente improvável, parece-me que o Bloco vai ter que lidar com o PS “realmente existente”, que é mau, mas é o que temos. E se isso elimina a hipótese de uma aliança onde teríamos de abdicar do nosso programa, não nos impede de admitir que, com o fim da maioria absoluta, possam surgir possibilidades acrescidas para o estabelecimento de acordos pontuais.
É claro que ninguém pode descartar a possibilidade do PS preferir, como já o fez no passado, acordos com a direita. Contudo, a possibilidade do BE congregar maiorias parlamentares susceptíveis de fazer aprovar na AR medidas positivas, fica definitivamente excluída se existir uma maioria PSD-CDS.
Portanto, uma atitude do tipo “entre o PS e o PSD, venha o diabo e escolha” pode render ganhos eleitorais sem trazer ganhos significativos em termos de benefícios sociais concretos.
Assim, o Bloco vê-se numa situação particularmente delicada. Só pode crescer à custa do PS e, portanto, tem de continuar a criticá-lo. (O que, aliás, não é difícil, sobretudo se não permitirmos que o actual chorrilho de promessas eleitorais nos faça esquecer as malfeitorias dos últimos quatros anos de governo.) Mas não ganhará nada se o enfraquecimento do PS se traduzir numa vitória do PSD.
Não há uma saída simples para este dilema. Apenas posso dizer que a crítica do governo de José Sócrates se tem de fazer acompanhar por uma crítica não menos impiedosa das “soluções” alternativas propostas por Manuela Ferreira Leite. E desejar que, das próximas eleições, saia uma maioria PS-BE-CDU, com um PS minoritário e uma representação parlamentar do Bloco significativamente fortalecida. O próximo governo terá, então, que prestar contas aos deputados que forem eleitos pelo “povo de esquerda”. E a nós, eleitores, competir-nos-á julgá-los, depois, pelas opções que fizerem.
Foi a melhor entrevista televisiva de sempre de Louça.Não podemos estar a pensar na possibilidade de o BE crescer de tal modo à custa do PS que pode provocar a vitória do PSD. Esse problema é do PS. Seguindo esse perigoso raciocínio, o BE em dezenas de Câmaras não deveria concorrer porque vai entregar o poder ao PSD, como em Lisboa por exemplo. Ainda me lembro das críticas que o PCP fazia aos grupelhos de esquerda em Braga, culpando-os por estes lhe roubarem o Deputado!
ResponderEliminarNão estou minimamente preocupado com a hipótese do BE subir à custa do PS. Pelo contrário, não quero eu outra coisa. Poderei, quando muito, preocupar-me com a possibilidade de o PSD o vir a fazer também.
ResponderEliminarPor certo, ninguém está à espera do meu conselho, mas se fosse esse o caso, eu aconselharia, a quem hesitasse entre o BE e o PS, a votar no Bloco, e a quem hesitasse entre o PS e o PSD, a votar no PS.
Seja como for, reconheço que com o aproximar das eleições haverá cada vez menos espaço para estas subtilezas. O PS já se lançou à caça de votos na área do BE e, daqui por diante, o antagonismo entre os dois partidos só pode extremar-se.