James Rachels, Problemas de Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009
Há mais de um mês que não escrevia nada para esta rubrica do “formiga”. Foi um tempo onde as minhas leituras se orientaram para livros e temas que não me pareciam “compagináveis” (obrigado, Jorge Sampaio) com aquilo de que aqui se tratava. Regresso hoje a estes “Litvros” e regresso com a promessa de alargar a minha colaboração a outros temas que, não sendo apolíticos, são exteriores à política pura e dura.
Assim, o livro de hoje é o último volume (o 19º) da colecção “Filosofia Aberta” que começou a ser publicada pela Gradiva sob a direcção de Desidério Murcho e que, a partir do nº 18 passou a ser coordenada por Aires Almeida.
Aliás, gostava de deixar aqui umas primeiras palavras sobre a própria Colecção. É formada por uma série de livros assinados por filósofos que, muito genericamente, podemos situar no contexto da filosofia analítica, dominante nos países anglo-saxónicos. As diferenças que dividem a filosofia analítica de chamada filosofia continental não se encontram determinadas, sobretudo, pela existência de teses filosóficas diferentes (de facto encontramo-las nos dois campos referidos), mas naquilo a que poderíamos chamar uma diferença de atitude ou de estilo: enquanto, no primeiro caso, o debate filosófico se trava em torno de uma série de questões postas em comum (por exemplo, no campo da filosofia da arte, a diferença entre definições de arte normativas ou descritivas, de conceitos de arte abertos ou fechados, de propriedades artísticas observáveis ou não, etc.), procurando-se no quadro deste debate encontrar na clareza da exposição, na lógica da argumentação e numa possível verificação empírica, os fundamentos e os critérios que nos permitem validar ou infirmar as ideias expostas; no segundo caso, o debate sobre uma matéria comum passa para segundo plano, porque, e passo a citar Deleuze e Guattari, “quando um filósofo critica um outro, fá-lo a partir de problemas e num plano que não eram os do filósofo que critica”. Ou seja, como nota Dominique Chantal, enquanto a filosofia analítica promove o diálogo entre diferentes exposições filosóficas, a filosofia continental tende para o monólogo.
O “estilo” próprio da filosofia analítica rejeita o hermetismo e advoga a clareza da exposição, o que torna os livros da Colecção “Filosofia Aberta” acessíveis a leitores sem uma formação especializada nesta área.
O livro de James Rachels aborda temas como o problema da origem do universo (os argumentos da “causa primeira” e do “desígnio inteligente” obrigam-nos a aceitar a ideia da criação divina?), do mal (se Deus existe e é Bom, como justificar a existência do Mal?), da sobrevivência à morte (será possível admitir a existência de uma alma imortal?)… E a obra prossegue debatendo outras questões, que poderão ser analisadas isoladamente, mas que o autor vai encadeando numa sequência lógica que nos conduzem pelos caminhos da filosofia do conhecimento e da ética.
O livro de Rachels é uma introdução muito acessível e interessante a estes e a outros problemas filosóficos. A ler, no espírito da citação de Kant que dá o mote à Colecção “Filosofia Aberta”: “De mim não aprendereis filosofia mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes como pensar”.
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