quinta-feira, 30 de julho de 2009

“A esquerda é burra?”

Boaventura de Sousa Santos pública na Visão um artigo que me deixa francamente perplexo.

A pergunta do título foi posta de Fernando Henriques da Silva. A sua resposta: a esquerda brasileira seria, de facto, “burra”, porque não compreendia as virtudes do neoliberalismo e insistia em apoiar a candidatura de um operário ignorante (Lula da Silva, é claro), mal preparado para governar. A esquerda fraccionava-se: a “esquerda burra” (LS) separava-se da “esquerda inteligente” (FHS) e, dividindo-se, nunca chegaria ao poder. Boaventura de Sousa Santos constata o que é óbvio: o anterior presidente do Brasil enganou-se em toda a linha.

Ainda assim, retoma a pergunta de Fernando Henriques da Silva: se a esquerda portuguesa se dividir não estará a ser burra, ao facilitar o acesso da direita ao poder?

O raciocínio que desenvolve a seguir é extraordinário. Pode resumir-se assim:

1) O eleitorado português vota à esquerda.
2) O PS (a “esquerda inteligente”?), quando governa, governa à direita.
3) Logo, a esquerda à esquerda do PS (a “esquerda burra”?) deve apoiá-lo para que a direita não possa governar.

Parece-me que o que se deveria deduzir das duas premissas não pode ser a conclusão proposta. O que importa não é quem executa a política de direita – se o PS, se o PSD. Importa, sim, criar condições para governar à esquerda. E toda a experiência do passado nos diz que essa possibilidade não passa pelo apoio ao PS, mas pelo reforço de uma esquerda crítica da sua prática governativa.

A desistência dessa esquerda em nome da unidade só poderia conduzir à reedição daquilo que já devíamos estar fartos de conhecer e que o próprio BSS assinala: mais um governo “de esquerda” a governar à direita. BSS afirma que isto não pode ser uma fatalidade. Talvez. Mas por que é que havemos de pensar que, se voltarmos a insistir no mesmo, desta vez os resultados hão-de ser completamente diferentes?

2 comentários:

  1. Uma democracia não é uma ditadura de maiorias. Todos temos que caber em Portugal. É verdade que a reciprocidade não é simétrica mas há necessidade que haver bom senso de algum lado.
    Deixo-lhe a sugestão de enquadrar na sua boa análise os casos de França e Itália.

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  2. Parece-me que o que BSS produziu não foi mais que uma versão pobre da já flamigerada Teoria do Voto Útil, segundo a qual não nos resta senão ser útil para quem, governando à direita, precisa dos votos à esquerda, ou optar por ser um completo inútil... e burro.

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