quinta-feira, 5 de março de 2009

A TRÁGICA HISTÓRIA
DA GUINÉ-BISSAU

O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau foi assassinado na noite de 1 de Março. No madrugada seguinte, foi assassinado o Presidente da República. Não se tratou de um golpe de estado, mas, simplesmente de uma forma expedita de resolver divergências pessoais. O CEM teria sido morto a mando do PR e o PR foi morto por militares num acto de retaliação. Qualquer semelhança com as guerras entre “famílias” de mafiosos não é pura coincidência. É que na Guiné-Bissau o Estado de direito não existe e o país serve como base de apoio à actividade dos traficantes de armas e dos cartéis do narcotráfico, que procuraram no Poder as cumplicidades necessárias.

O diagnóstico da situação já foi feito por vários analistas políticos: a Guiné-Bissau é um país retalhado por tribos e etnias rivais, onde os serviços públicos não funcionam e a economia se encontra quase limitada a uma agricultura e a uma pesca de subsistência. A população está mergulhada na pobreza e dessa miséria destacam-se apenas aqueles que desempenham cargos importantes no aparelho de Estado.

Aliás, neste último aspecto, não creio que a situação seja radicalmente diferente noutras ex-colónias portuguesas. Verifica-se, certamente em graus diferenciados, uma grande fragilidade das classes médias e da actividade empresarial privada. Em parte, porque isso era quase totalmente protagonizado por portugueses que se retiraram após a descolonização. Depois, porque os programas “socialistas” dos movimentos de libertação foram um obstáculo para afirmação de uma burguesia nacional. Assim, se forjou uma nova hierarquia social onde a classe dominante devia o seu estatuto social (os seus privilégios e a sua riqueza) ao domínio do aparelho de Estado. Logo, a luta pela ascensão social tornou-se uma luta política e militar pelo Poder. Em vez de investimentos privados, a disputa pela administração de empresas públicas; em vez da concorrência económica, golpes de estado e guerras civis; em vez de Belmiros de Azevedo, Josés Eduardos dos Santos…

Aviso à navegação dos revolucionários que gostam de “saltar etapas”: não vale a pena.

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