terça-feira, 3 de março de 2009

O CONGRESSO DO PS

Fui seguindo pela televisão, ao longo do fim-de-semana, o Congresso do Partido Socialista.

Ao fim do segundo dia, estava definido o inimigo: a comunicação social (como agente da “campanha negra”) e o Bloco de Esquerda (“demagógico, oportunista e irresponsável”); apontado o objectivo: a conquista de uma nova maioria absoluta; e pairava um fantasma: Manuel Alegre. Para além disso, foi anunciado o cabeça-de-lista para as Europeias: Vital Moreira.

Se o objectivo dos ataques ao BE era o de estancar uma provável hemorragia de votos para a esquerda, hemorragia essa que nas eleições para o Parlamento Europeu é mais que provável sob a forma do voto de protesto, não me parece que Vital Moreira seja a pessoa mais indicada para o alcançar. Tanto mais que a sua candidatura revela que uma outra, bastante mais forte sob esse ponto de vista, abortou. De facto, a nega de Ferro Rodrigues e a ausência de Manuel Alegre no Congresso, não são boas notícias para José Sócrates.

Para o encerramento, alterou-se a coreografia do palco, a disposição da plateia e mobilizaram-se as massas. A SIC Notícias entrevistou um grupo de velhinhas que vieram de Castelo Branco, numa camioneta graciosamente cedida pela Câmara Municipal. Há-de ter sido um lindo passeio, até Espinho! Mas não se podia deixar passar a hora do almoço e as zonas reservadas aos convidados, a princípio cheias, foram-se despovoando, ainda José Sócrates arengava.

No seu discurso, José Sócrates elogiou a acção do governo, apontando como feitos valorosos a defesa do Serviço Nacional de Saúde (quando se prepara para chumbar na AR a proposta de acabar com as taxas moderadoras em cirurgias e internamentos), a defesa da Escola Pública (quando as Universidades estão financeiramente estranguladas, centenas e centenas dos professores mais experientes do ensino básico e secundário pedem a reforma antecipada e as escolas públicas todos os anos descem no ranking dos exames do 12º ano) e a defesa da segurança social (que passa pelo adiamento da idade da reforma e pela manutenção de pensões de miséria). Além disso, gabou-se da reforma judicial (quando todos sabemos da impotência do Ministério Público para levar até ao fim os processos onde há suspeita de crimes de “colarinho branco”). Sobre a crise económica e social que se agrava dia após dia, pouco disse. Sobre as falências fraudulentas, os despedimentos abusivos, o uso e abuso dos off-shores para lavagem de dinheiro e fuga ao fisco ou sobre a situação de dezenas de milhares de desempregados sem acesso ao fundo de desemprego, – nada. Mas não se esqueceu de reafirmar a sua grande vontade de ganhar com maioria absoluta. O que se compreende, dada a sua absoluta incapacidade para ouvir e procurar consensos com os diferentes partidos da oposição.

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