terça-feira, 31 de março de 2009

DESCIDA DE SALÁRIOS?
NÃO, OBRIGADO

Silva Lopes tem defendido a necessidade de uma descida dos salários, como instrumento de combate à crise. Como se sabe, a grande maioria dos portugueses recebe dos mais baixos salários da Europa e existem muitos trabalhadores assalariados a viver muito próximo do limiar da pobreza. Contudo, o ilustre economista considera que ainda não atingimos os mínimos olímpicos. Colegas seus, no entanto, pensam que a baixa salarial provocaria uma descida da procura que se traduziria num processo de deflação que acabaria por atingir as próprias empresas. E parece-me que têm razão. Significa isto que ignoro a importância do montante da dívida pública? Que não sei que Portugal gasta mais do que produz? Evidentemente que estou consciente da necessidade de trabalhar para aumentar a produtividade das nossas empresas, o que passa pela qualificação da mão-de-obra e por gestores sérios e competentes. O que não é de todo tolerável é exigir mais sacrifícios a quem já vive com tantas dificuldades e fechar os olhos à fuga ao fisco dos muito ricos, à exportação de capitais incalculáveis pra off-shores, aos ordenados principescos dos gestores e administradores da banca e das grandes empresas, às pensões exorbitantes (pagas a partir dos 50 anos!) àqueles que durante meia-dúzia de anos exerceram determinados funções públicas, ou persistir na execução de grandes projectos de investimento público, que obrigarão o Estado a contrair pesadas dívidas para financiar despesas avultadíssimas de retorno mais do que duvidoso.

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