sábado, 29 de maio de 2010

Uma manifestação e uma sondagem

A manifestação da CGTP convocada para hoje, reuniu em Lisboa centenas de milhares de manifestantes contra o PEC e as medidas de austeridade recentemente aprovadas na AR com os votos favoráveis do PS e do PSD.

A última sondagem da Marktest (inquérito realizado entre 20 e 25 de Maio) apresenta o PSD próximo da maioria absoluta (43,9%), dá uma maioria clara aos partidos da direita (PSD + CDS-PP = 51,4%) e confirma uma tendência que podemos verificar em sondagens anteriores: os partidos à esquerda do PS dificilmente superam a fasquia dos 15% (14,8 na sondagem da Eurosondagens e 15,2 na da Marktest).

Destes dados é possível inferir que o governo, acossado à esquerda e à direita e descredibilizado junto da opinião pública, iniciou já a sua fase terminal. A grandiosa manifestação da CGTP e a sondagem da Marktest, que atribui 27,6% das intenções de voto ao PS, não deixam grande margem para dúvidas.

Contudo, enquanto não for possível lançar pontes de diálogo à esquerda, o descontentamento popular e a vontade de mudança acabará por se traduzir numa vitória dos partidos da direita. É verdade que a nossa experiência de décadas mostra que deste rotativismo entre o PS e o PSD não é possível esperar grandes mudanças. Mas enquanto não for possível forjar uma verdadeira alternativa de governação à esquerda, não vejo como será possível sair deste círculo vicioso.

Enquanto o PS governar de acordo com as regras ditadas pelos interesses do grande capital, perde. Enquanto o Bloco se mantiver agarrado a uma posição de contra-poder, na expectativa duma mítica e distante Revolução, só pode ambicionar vitórias de Pirro.

Para que Portugal possa mudar, algo terá que mudar à esquerda.

2 comentários:

  1. Caro Cruz Mendes, pensas então que é possível o PS mudar o suficiente para que uma política alternativa a esta seja concretizada num governo "comum"? Isso não é puro wishful thinking?

    João Delgado

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  2. Caro João Delgado, não sei se são possíveis mudanças significativas no PS. Estou consciente que não falta por lá gente ideologicamente amorfa, disposta a fazer todas as concessões à direita desde que isso lhes garanta algum poder. Não será, portanto, fácil, mas descartada essa possibilidade, o que é que nos resta?

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