Na morte de Saldanha Sanches
Morreu José Luís Saldanha Sanches, conhecido fiscalista e Professor na Faculdade de Direito de Lisboa. Tinha 66 anos e habituou-nos a uma intervenção cívica e política da qual havia ainda muito a esperar.
Morreu José Luís Saldanha Sanches, conhecido fiscalista e Professor na Faculdade de Direito de Lisboa. Tinha 66 anos e habituou-nos a uma intervenção cívica e política da qual havia ainda muito a esperar.
Gostaria de o recordar aqui como combatente anti-fascista, como democrata e homem de esquerda. E também como uma pessoa boa, acessível e afável, com a qual era fácil concordar, mas de quem se podia discordar sem que se gerasse automaticamente um clima de distanciamento e animosidade.
Devo dizer que, embora militássemos durante alguns anos no mesmo partido, não tive com ele relações de uma grande proximidade. Recordo, contudo, muito bem o nosso primeiro encontro. Foi em Coimbra, em 1972, numa reunião que juntou estudantes próximos da OCMLP (O Grito do Povo) e do MRPP e onde se discutiu a situação então vivida pelo movimento estudantil. A AAC estava fechada e, na Faculdade de Direito de Lisboa (donde vinham os militantes e simpatizantes do MRPP presentes), no dia 12 de Outubro, José António Ribeiro Santos havia sido assassinado pela PIDE.
Saldanha Sanches participou nessa reunião e, depois dela, na manifestação que comemorava a “Tomada da Bastilha”, o assalto, em 25 de Novembro de 1920, ao Clube dos Lentes pelos estudantes da Universidade de Coimbra que assim reivindicavam a concessão de instalações condignas onde pudessem instalar a sua Associação Académica. A sua presença e atitude contrariava o clima sectário, dogmático e intolerante que se tinha instalado entre os vários grupos maoístas portugueses.
E recordo também a última vez em que estivemos juntos, num almoço que juntou vários ex-militantes do MRPP num convívio que comemorava o 20º aniversário do 25 de Abril. Prefigurava-se então o fim do cavaquismo e a esquerda preparava-se para sair duma longa travessia do deserto. Havia quem depositasse as suas esperanças em Guterres, outros iriam apostar no Bloco de Esquerda que seria fundado alguns anos depois.
Saldanha Sanches, episodicamente, haveria de apoiar uns e outros. Por exemplo, apoiou a candidatura de Fernando Rosas à Presidência da República e, mais recentemente, a de António Costa à CML. Contudo, não voltou a militar em qualquer partido. Vinha do PCP, esteve no MRPP e, por fim, muito brevemente e sem grande empenhamento, na UDP. Atrevo-me a dizer que nunca se terá sentido totalmente confortável em nenhum deles. Recordo-o como alguém que nunca desistiu de pensar pela sua própria cabeça, virtude que, nos partidos da extrema-esquerda, sempre foi vista como um defeito. Porém, nada disso o impediu de lutar por aquilo que julgava ser justo, mesmo quando a defesa das suas convicções implicavam a incompreensão dos seus camaradas.
Desiludido com os resultados obtidos pelos regimes instalados na União Soviética, na China, na Albânia ou em Cuba, acabou por assumir uma postura reformista, denunciando como fiscalista prestigiado as injustiças do nosso sistema fiscal e os “buracos legais” que favorecem a fraude e a fuga aos impostos. Fê-lo em nome daquilo a que chamava um “capitalismo decente”, uma espécie de mal menor em face das repetidas perversões totalitárias das diferentes revoluções socialistas entretanto ocorridas.
Uma atitude de cepticismo que, podendo ser criticada como ponto de chegada, não pode deixar de ser considerada como ponto de partida por todos aqueles que não queiram assumir no presente a responsabilidade da repetição de tragédias passadas. Trata-se, antes de mais, duma questão de honestidade intelectual. A honestidade intelectual de que Saldanha Sanches foi sempre um exemplo.
Devo dizer que, embora militássemos durante alguns anos no mesmo partido, não tive com ele relações de uma grande proximidade. Recordo, contudo, muito bem o nosso primeiro encontro. Foi em Coimbra, em 1972, numa reunião que juntou estudantes próximos da OCMLP (O Grito do Povo) e do MRPP e onde se discutiu a situação então vivida pelo movimento estudantil. A AAC estava fechada e, na Faculdade de Direito de Lisboa (donde vinham os militantes e simpatizantes do MRPP presentes), no dia 12 de Outubro, José António Ribeiro Santos havia sido assassinado pela PIDE.
Saldanha Sanches participou nessa reunião e, depois dela, na manifestação que comemorava a “Tomada da Bastilha”, o assalto, em 25 de Novembro de 1920, ao Clube dos Lentes pelos estudantes da Universidade de Coimbra que assim reivindicavam a concessão de instalações condignas onde pudessem instalar a sua Associação Académica. A sua presença e atitude contrariava o clima sectário, dogmático e intolerante que se tinha instalado entre os vários grupos maoístas portugueses.
E recordo também a última vez em que estivemos juntos, num almoço que juntou vários ex-militantes do MRPP num convívio que comemorava o 20º aniversário do 25 de Abril. Prefigurava-se então o fim do cavaquismo e a esquerda preparava-se para sair duma longa travessia do deserto. Havia quem depositasse as suas esperanças em Guterres, outros iriam apostar no Bloco de Esquerda que seria fundado alguns anos depois.
Saldanha Sanches, episodicamente, haveria de apoiar uns e outros. Por exemplo, apoiou a candidatura de Fernando Rosas à Presidência da República e, mais recentemente, a de António Costa à CML. Contudo, não voltou a militar em qualquer partido. Vinha do PCP, esteve no MRPP e, por fim, muito brevemente e sem grande empenhamento, na UDP. Atrevo-me a dizer que nunca se terá sentido totalmente confortável em nenhum deles. Recordo-o como alguém que nunca desistiu de pensar pela sua própria cabeça, virtude que, nos partidos da extrema-esquerda, sempre foi vista como um defeito. Porém, nada disso o impediu de lutar por aquilo que julgava ser justo, mesmo quando a defesa das suas convicções implicavam a incompreensão dos seus camaradas.
Desiludido com os resultados obtidos pelos regimes instalados na União Soviética, na China, na Albânia ou em Cuba, acabou por assumir uma postura reformista, denunciando como fiscalista prestigiado as injustiças do nosso sistema fiscal e os “buracos legais” que favorecem a fraude e a fuga aos impostos. Fê-lo em nome daquilo a que chamava um “capitalismo decente”, uma espécie de mal menor em face das repetidas perversões totalitárias das diferentes revoluções socialistas entretanto ocorridas.
Uma atitude de cepticismo que, podendo ser criticada como ponto de chegada, não pode deixar de ser considerada como ponto de partida por todos aqueles que não queiram assumir no presente a responsabilidade da repetição de tragédias passadas. Trata-se, antes de mais, duma questão de honestidade intelectual. A honestidade intelectual de que Saldanha Sanches foi sempre um exemplo.
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