segunda-feira, 17 de maio de 2010

Falar claro

As medidas de austeridade que constam do PEC, agora muito agravadas por aquelas que foram anunciadas por José Sócrates e que contaram com o acordo de Passos Coelho, podem relançar o país na recessão económica. Agravam a situação dramática em que vivem já 600 mil desempregados e cerca de 2 milhões de pobres e põem em causa o futuro das prestações sociais, da Educação e da Saúde pública.

Dito isto, é necessário recordar que dependemos do financiamento externo e, que se continuarmos a pagar as dívidas contraídas a juros exorbitantes, poderemos chegar a uma situação semelhante àquela que se vive hoje na Grécia. E, então, tudo aquilo que foi dito no primeiro parágrafo deste texto será pouco para descrever a situação que iremos viver.

Bruxelas exige que o nosso défice no fim de 2010 não ultrapasse os 7,3% e, mesmo discordando desse número, neste momento não me parece que esteja na nossa mão regateá-lo. Assim, quaisquer críticas às medidas de austeridade anunciadas têm de ser acompanhadas por propostas alternativas que nos permitam alcançar o mesmo objectivo, sem penalizar os mais fracos e desprotegidos, mas exigindo dos privilegiados um esforço que esteja à altura da sua riqueza e das suas responsabilidades.

Essa será a função duma esquerda credível e responsável. Pelo contrário, contrapor, sem mais, às medidas de austeridade avançadas pelo governo propostas favoráveis ao crescimento económico não é sério porque não é possível resolver problemas que exigem uma resposta imediata com medidas que, na melhor das hipóteses, darão fruto a médio ou a longo prazo.

Não significa isto que propostas para a redução do défice já em 2010 não devam ser articuladas com outras favoráveis ao crescimento económico. É mesmo obrigatório que assim aconteça sob pena de estarmos apenas a adiar problemas, a resolvê-los hoje para os reencontrarmos amanhã. O que não é possível é esperar que problemas como a perda de competitividade e o lento crescimento da economia nacional possam ser resolvidos dum dia para o outro e muito menos que, para isso, baste um apoio indiscriminado a todo o investimento público.

A resposta à rendição incondicional às políticas da direita protagonizada pelo PS de José Sócrates não pode estar numa aposta na demagogia e no populismo, como aquela que, na minha opinião, tem sido protagonizada pelo PCP. Ambas desacreditam a esquerda e abrem caminho a uma futura vitória de Passos Coelho.

Numa situação de ameaça de insolvência do Estado português, em 1983, um governo liderado por Mário Soares assinou um acordo com o FMI. Seguiram-se anos de grandes sacrifícios que, como sempre, atingiram sobretudo os mais pobres. No fim, Cavaco Silva, à frente do PSD, ganhou as eleições. E seguiram-s dez anos do cavaquismo. Esperemos que o Bloco e a esquerda do PS saibam encontrar os caminhos que nos afastem duma reedição dessa penosa experiência.

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