Quem paga a crise?
Resposta: os do costume. Antes de mais, os funcionários públicos. Depois, por reflexo, todos os trabalhadores por conta de outrem, porque o congelamento dos salários dos primeiros acabará por se reflectir nos vencimentos de todos.
Terá de ser obrigatoriamente assim? Onde estão os estudos que identifiquem fontes de despesismo inútil e imoral? Que potenciais fontes de receitas, até hoje ignoradas, podem ser exploradas podem fazer face à dívida pública? O Bloco de Esquerda já apontou muitas. Pela parte do governo, parece que não existem. É que há interesses intocáveis. Exigir a todos aquilo que se pede aos mais fracos parece que é demagogia. Somos o segundo país da União Europeia com maiores desigualdades sociais, apenas ultrapassados nesse campeonato pela Letónia. Contudo, tal facto parece inscrever-se na rubrica das fatalidades inelutáveis. Aliás, verifica-se no gráfico apresentado hoje no Público que o fosso entre ricos e pobres se manteve praticamente inalterado entre 1997 e 2008. Acredito que se tenha agravado nos últimos dois anos e que se venha a agravar ainda mais nos próximos com as medidas se austeridade que nos são propostas.
Além disso, será que o estrangulamento do mercado interno pela redução do poder de compra de grande parte dos consumidores é a melhor forma de estimular o crescimento económico? Ou, pelo contrário, acabará por ter como consequência o encerramento de mais empresas e o aumento do desemprego? E, portanto, o aumento das despesas públicas, com maiores gastos ao nível do subsídio de desemprego ou do RSI?
Para o governo (que, aliás, nessa matéria, é secundado pelos economistas que todos os dias nos esclarecem na televisão) nada disto constitui problema. É certo nem todos concordam eles. Veja-se, por exemplo. A entrevista de José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, ao Público de 1-3-10. O que acontece é que os economistas que não lêem por aquela cartilha não têm tempo de antena. Talvez por não terem passado os últimos anos da sua vida pelos governos que, com tanto êxito, nos têm guiado… Falta-lhes, portanto, currículo.
Tudo isto a propósito da greve da função pública. Segundo os sindicatos filiados na CGTP e na UGT, a adesão foi de 80%. O governo, como é habitual, nega estes números. Entretanto novas formas de luta estão previstas.
O que se vai seguir? O governo vai, mais uma vez, tentar voltar a população contra os funcionários públicos, esses privilegiados que, com a excepção de 2009, vêem os seus salários reais descerem há dez anos e se sentem legitimamente ameaçados de assim continuarem nos próximos três. Apoiar a sua luta, pelo contrário, pode ser o princípio de um movimento capaz de pôr em questão aquele estafado princípio: os pobres que paguem a crise!
Resposta: os do costume. Antes de mais, os funcionários públicos. Depois, por reflexo, todos os trabalhadores por conta de outrem, porque o congelamento dos salários dos primeiros acabará por se reflectir nos vencimentos de todos.
Terá de ser obrigatoriamente assim? Onde estão os estudos que identifiquem fontes de despesismo inútil e imoral? Que potenciais fontes de receitas, até hoje ignoradas, podem ser exploradas podem fazer face à dívida pública? O Bloco de Esquerda já apontou muitas. Pela parte do governo, parece que não existem. É que há interesses intocáveis. Exigir a todos aquilo que se pede aos mais fracos parece que é demagogia. Somos o segundo país da União Europeia com maiores desigualdades sociais, apenas ultrapassados nesse campeonato pela Letónia. Contudo, tal facto parece inscrever-se na rubrica das fatalidades inelutáveis. Aliás, verifica-se no gráfico apresentado hoje no Público que o fosso entre ricos e pobres se manteve praticamente inalterado entre 1997 e 2008. Acredito que se tenha agravado nos últimos dois anos e que se venha a agravar ainda mais nos próximos com as medidas se austeridade que nos são propostas.
Além disso, será que o estrangulamento do mercado interno pela redução do poder de compra de grande parte dos consumidores é a melhor forma de estimular o crescimento económico? Ou, pelo contrário, acabará por ter como consequência o encerramento de mais empresas e o aumento do desemprego? E, portanto, o aumento das despesas públicas, com maiores gastos ao nível do subsídio de desemprego ou do RSI?
Para o governo (que, aliás, nessa matéria, é secundado pelos economistas que todos os dias nos esclarecem na televisão) nada disto constitui problema. É certo nem todos concordam eles. Veja-se, por exemplo. A entrevista de José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, ao Público de 1-3-10. O que acontece é que os economistas que não lêem por aquela cartilha não têm tempo de antena. Talvez por não terem passado os últimos anos da sua vida pelos governos que, com tanto êxito, nos têm guiado… Falta-lhes, portanto, currículo.
Tudo isto a propósito da greve da função pública. Segundo os sindicatos filiados na CGTP e na UGT, a adesão foi de 80%. O governo, como é habitual, nega estes números. Entretanto novas formas de luta estão previstas.
O que se vai seguir? O governo vai, mais uma vez, tentar voltar a população contra os funcionários públicos, esses privilegiados que, com a excepção de 2009, vêem os seus salários reais descerem há dez anos e se sentem legitimamente ameaçados de assim continuarem nos próximos três. Apoiar a sua luta, pelo contrário, pode ser o princípio de um movimento capaz de pôr em questão aquele estafado princípio: os pobres que paguem a crise!
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