domingo, 10 de janeiro de 2010

Ciclo de cinema na Velha-a-Branca (2)

Depois da exibição d’ O Gabinete do dr. Caligari, prossegue o ciclo de cinema que programei para Janeiro e que preencherá as noites de 4ª feira na Velha-a-Branca. Desta vez, o o tema é o futurismo e o filme que será projectado no dia 13 é um documentário de Dziga Vertov.

Divulgo aqui o texto de apresentação

Dziga Vertov, O Homem da Máquina de Filmar, 1929


O Futurismo foi um movimento artístico fundado em Itália, em 1909, pelo escritor Marinetti. Caracteriza-se por uma defesa exaltada da modernidade, associada à ideia do triunfo da máquina e da velocidade sobre os conceitos tradicionais da natureza, da beleza e do sentimentalismo.

Manifestou-se na literatura, na pintura, na escultura, na arquitectura, na música… Ou seja: praticamente em todos os domínios artísticos e, portanto, forçosamente, também no cinema. Na Rússia, influenciou poetas como Maiakowsky e pintores como Malevitch.

Denis Kaufman (1895-1954), cineasta que adoptou o pseudónimo Dziga Vertov (“dziga”, do ucraniano “roda”, e “vertov”, do russo, “vertev”, “que significa “girar”, nome que poderíamos traduzir por “pião que rodopia”), criou no campo do cinema documental uma obra que consideramos exemplar.

Com a sua mulher e o seu irmão, fundou o grupo Kinoks cujo nome foi formado a partir das palavras Cine (Kino) e Olho (Glaz), que defendia a “honestidade” do documentário relativamente ao filme de ficção e a superioridade do olhar cinematográfico em face do da visão humana. Rejeitando a pretensão de uma falsa objectividade cinematográfica, fez da exploração das relações olho / câmara / realidade / montagem os pontos de partida para a construção da nova realidade construída pelo cinema, que acompanhava, assim, as transformações sociais relacionadas com a vitória da Revolução de Outubro na Rússia.

No seu filme mais conhecido, O Homem da Máquina de Filmar (1929), oferece-nos em imagens vertiginosas uma perspectiva da vida moderna a partir da representação de um dia na vida de uma grande cidade: o despertar, o movimento febril das ruas, o mundo do trabalho e da produção em série, o tempo de lazer, o cair da noite… É um olhar fascinado diante dos progressos técnicos e das transformações sociais ocorridas na União Soviética no período da NEP.

Dziga Vertov recorre a uma imensa panóplia de recursos cinematográficos: câmara lenta e animação, zooms e zooms invertidos, ecrã dividido, paralítico, imagens múltiplas e desfocadas.. Recusa, portanto, qualquer descrição naturalista, mas reinventa a linguagem cinematográfica que, na sua assumida artificialidade, encarna uma modernidade que mesmo hoje nos espanta e que corresponde à modernidade da temática tratada.

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