3) Communisme – notas à margem de algumas entradas do Dictionaire Albert Camus, de Jeanyves Guérin
Camus opõe-se comunismo. Em primeiro lugar, é um crítico do totalitarismo soviético; em segundo, considera-o como uma consequência da aplicação prática das teorias marxistas; e em terceiro, demarca-se claramente duma certa intelectualidade de esquerda que, em nome do marxismo, adopta uma atitude compreensiva e desculpabilizante em face dos crimes do regime estalinista.
Na sua opinião, estas práticas políticas encontram-se relacionadas com uma visão determinista da história que autoriza o terror e a mentira em nome da bondade dos fins supremos, instaurando uma espécie de maquiavelismo em tudo contrário à sua postura ética.
Camus não reduz Marx à utilização que dele fizeram os comunistas. Na sua opinião, existem diferentes Marx e devem ser considerados diferentes períodos na sua obra. Mas condena-o sem reservas quando pretende reduzir o homem a determinismos sociais e baseia a análise da história em leis científicas que regeriam as relações entre as classes. Na sua opinião, não só essas leis não existem, como uma eventual vitória duma revolução proletária pode conduzir ao aparecimento de novos antagonismos sociais, como o demonstrou a experiência soviética.
Condena em Lenine a sua concepção de partido, organização assente num corpo de revolucionários profissionais que se substitui ao povo e à própria classe operária. Daqui resulta uma visão militar da revolução que considera que todas as opções tácticas se justificam na medida em que permitam alcançar o objectivo estratégico. Foi assim que, em vez do desaparecimento gradual do Estado, previsto por Marx após a Revolução, se assistiu, na União Soviética, à construção de um pesado Estado totalitário controlado pela nomenklatura partidária.
Camus muito raramente usa o termo “estalinismo”. Para ele, não se trata tanto de denunciar a obra de um homem, mas as consequências de uma ideologia e de um regime. Contudo, aquilo que exemplifica as suas críticas é aquilo que conhece da época estalinista: a censura, a delação, a tortura, os processos jurídicos viciados, as deportações para campos de trabalhos forçados por crimes de opinião, o assassinato político.
Segundo Silvain Boulogne, autor da entrada citada, “Camus foi um dos raros intelectuais que encetou uma crítica do comunismo no tempo do estalinismo triunfante. Contudo, ao contrário de Hanna Arendt e de Raymond Aron, a sua análise permanece inscrita na linha do pensamento socialista (…). De facto opõe a revolta libertadora à revolução, sinónimo de opressão. Esta revolta deve reencontrar as suas origens fundadoras que o comunismo esqueceu: o sindicalismo e a Comuna”.
Nota à margem: como se sabe, a crítica do estalinismo foi desenvolvida a partir de bases muito diferentes por Trotsky. Não vou agora discutir se com razão ou sem ela. Mas o que dizer daqueles que pretendem apagar todo um passado de compromisso com o estalinismo falando apenas de alguns “erros” que reconhecem ter sido cometidos? Ou seja, sem procederem a qualquer análise minimamente fundamentada das causas que explicam a insistência nesses “erros” durante décadas. Antes minimizando as consequências dos tais “erros” (Quantos milhões de mortos? Não teriam sido tantos assim …) e preparando-se para, em circunstâncias idênticas, fazer tudo mais ou menos na mesma, na expectativa de que, desta vez, os resultados sejam muito diferentes.
Camus opõe-se comunismo. Em primeiro lugar, é um crítico do totalitarismo soviético; em segundo, considera-o como uma consequência da aplicação prática das teorias marxistas; e em terceiro, demarca-se claramente duma certa intelectualidade de esquerda que, em nome do marxismo, adopta uma atitude compreensiva e desculpabilizante em face dos crimes do regime estalinista.
Na sua opinião, estas práticas políticas encontram-se relacionadas com uma visão determinista da história que autoriza o terror e a mentira em nome da bondade dos fins supremos, instaurando uma espécie de maquiavelismo em tudo contrário à sua postura ética.
Camus não reduz Marx à utilização que dele fizeram os comunistas. Na sua opinião, existem diferentes Marx e devem ser considerados diferentes períodos na sua obra. Mas condena-o sem reservas quando pretende reduzir o homem a determinismos sociais e baseia a análise da história em leis científicas que regeriam as relações entre as classes. Na sua opinião, não só essas leis não existem, como uma eventual vitória duma revolução proletária pode conduzir ao aparecimento de novos antagonismos sociais, como o demonstrou a experiência soviética.
Condena em Lenine a sua concepção de partido, organização assente num corpo de revolucionários profissionais que se substitui ao povo e à própria classe operária. Daqui resulta uma visão militar da revolução que considera que todas as opções tácticas se justificam na medida em que permitam alcançar o objectivo estratégico. Foi assim que, em vez do desaparecimento gradual do Estado, previsto por Marx após a Revolução, se assistiu, na União Soviética, à construção de um pesado Estado totalitário controlado pela nomenklatura partidária.
Camus muito raramente usa o termo “estalinismo”. Para ele, não se trata tanto de denunciar a obra de um homem, mas as consequências de uma ideologia e de um regime. Contudo, aquilo que exemplifica as suas críticas é aquilo que conhece da época estalinista: a censura, a delação, a tortura, os processos jurídicos viciados, as deportações para campos de trabalhos forçados por crimes de opinião, o assassinato político.
Segundo Silvain Boulogne, autor da entrada citada, “Camus foi um dos raros intelectuais que encetou uma crítica do comunismo no tempo do estalinismo triunfante. Contudo, ao contrário de Hanna Arendt e de Raymond Aron, a sua análise permanece inscrita na linha do pensamento socialista (…). De facto opõe a revolta libertadora à revolução, sinónimo de opressão. Esta revolta deve reencontrar as suas origens fundadoras que o comunismo esqueceu: o sindicalismo e a Comuna”.
Nota à margem: como se sabe, a crítica do estalinismo foi desenvolvida a partir de bases muito diferentes por Trotsky. Não vou agora discutir se com razão ou sem ela. Mas o que dizer daqueles que pretendem apagar todo um passado de compromisso com o estalinismo falando apenas de alguns “erros” que reconhecem ter sido cometidos? Ou seja, sem procederem a qualquer análise minimamente fundamentada das causas que explicam a insistência nesses “erros” durante décadas. Antes minimizando as consequências dos tais “erros” (Quantos milhões de mortos? Não teriam sido tantos assim …) e preparando-se para, em circunstâncias idênticas, fazer tudo mais ou menos na mesma, na expectativa de que, desta vez, os resultados sejam muito diferentes.
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