terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A crise económica exige soluções políticas

Desemprego: mais de 600.000 desempregados e vai continuar a subir no próximo ano.
Défice orçamental: acima dos 8% do PIB.
Dívida pública: acima dos 90%.
Dívida externa: a subir 10% ao ano.

Como vamos criar emprego num contexto de retracção do investimento?
Como combater a pobreza quando já gastamos mais do que aquilo que produzimos?
Como vamos financiar a Segurança Social, a Educação e a Saúde num contexto económico favorável a um decréscimo das receitas do Estado?
Como vamos aumentar as exportações quando perdemos competitividade?

Num contexto de crise, a retracção do investimento privado tem de ser compensada com o reforço do investimento público. Contudo, nem todo o investimento público é necessariamente positivo. Para onde deve ser direccionado?
Como criar condições para fazer crescer a competitividade das nossas empresas? Apostando em mão-de-obra barata e desqualificada? Na redução das exigências de ordem ambiental? Numa descida de impostos em prejuízo da qualidade e eficiência dos serviços públicos? Não sendo aceitáveis nem eficazes medidas desta ordem (haverá sempre que, nestes domínios, nos ultrapasse), que outras medidas podem ser tomadas?

Parece-me que as opções a tomar não são meras opções “técnicas” que possamos entregar nas mãos de especialistas. Quaisquer soluções implicam opções políticas. Até hoje todas as “soluções” têm apontado no mesmo sentido: sacrifícios cada vez maiores são exigidos aos trabalhadores por conta de outrem e aos sectores mais desfavorecidos da população. Os resultados estão à vista: o fosso entre ricos e pobres cava-se cada vez mais fundo e a crise mantém-se e ameaça prolongar-se. Não terá chegado a altura de começar a olhar noutra direcção?
Quem está no governo é responsável pelo caminho que vai escolher. Já sabemos que o PS vai precisar de captar apoios na Assembleia da República. Onde é que os vai procurar?

1 comentário:

  1. Muitos parabéns pelo seu blog que sigo há algum tempo com muito interesse.

    Concordo inteiramente consigo quando diz que são preciso respostas políticas e que as opções a tomar não são meramente técnicas. Temnos no entanto que ter em atenção as condicionantes técnicas para nos indicarem o dominio das possibilidades (porque infelizmente nem tudo é possível) e as consequências das opções politicas que forem tomadas. O que me traz às questões que coloca: "Como vamos criar emprego num contexto de retracção do investimento? Como vamos aumentar as exportações quando perdemos competitividade?" A resaposta é... não vamos. O que significa que sob pena de um empobrecimento relativo progressivo temos de conseguir potenciar o investimento e a competitividade. Como criando condições para as empresas através da redução dos seus custos dos factores (fiscais, energéticos, salariais, transporte, ambientais, burocráticos, etc) ou através do aumento da produtividade dos factores (aumento das qualificações, inovação, etc). Alguns destes factores actuam no curto prazo outros só produzem efeitos no médio e longo prazo e no contexto actual impõe-se alguma urgência pelo que (sem perder de vista o longo prazo) teremos de actuar imediatamente sobre os factores que produzam efeitos mais imediatos.

    As outras questões "Como combater a pobreza quando já gastamos mais do que aquilo que produzimos? Como vamos financiar a Segurança Social, a Educação e a Saúde num contexto económico favorável a um decréscimo das receitas do Estado?" são essencialmente de natureza política na medida em que dependem sobretudo de factores redistributivos e aqui a margem politica é muito maior. Relativamente a estas questões a principal dificuldade é qual o custo que é politicamente aceitável e como o distribuir pelos principais agentes sem prejudicar os objectivos anteriores. E obviamente que isso é muito mais fácil de obter num contexto de crescimento do que num contexto recessivo mas nem por isso deixa de ser fundamentalmente uma questão política.

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