ops! Que futuro para a esquerda?
Das últimas eleições saiu uma ”maioria de esquerda”? Não se nota. É verdade que, pelo menos até agora, também não parece ser evidente a existência de uma maioria de direita. O que é patente é um estado de desorientação geral. Embora a situação política se tenha modificado, os diferentes partidos continuam a desempenhar os papéis a que se habituaram durante os últimos quatro anos e meio: Sócrates gostaria de governar como se tivesse maioria absoluta, os outros partidos continuam a ver-se como uma oposição que considera que a sua missão está cumprida a partir do momento em que se demarca do do governo.
Entretanto, faz-se navegação de cabotagem. Ninguém parece obedecer a um pensamento estratégico capaz de pensar globalmente todos os grandes problemas que nos afectam: o desemprego, a falta de competitividade das empresas, o défice da balança comercial, a dívida pública. Se dizem ter soluções, ninguém parece disposto a congregar os apoios que as viabilizem. Também ninguém diz pretender eleições antecipadas, mas a preocupação dominante de cada um parece ser a de segurar o seu eleitorado para o caso delas virem aí…
E, quando assim é, elas forçosamente acabarão por surgir. Verificar-se-á, depois, que tudo ficou mais ou menos na mesma. Menos o país, que estará pior.
Talvez haja uma excepção neste quadro desolador: O CDS-PP parece ser o único partido que tem uma estratégia coerente e soma a isso a vantagem de poder oferecer ao PS uma maioria parlamentar, está disposto a negociar sem complexos os seus apoios – e está a subir nas sondagens. Paulo Portas sabe exactamente para onde quer ir. Para mim, o problema é que não quero ir por aí.
Fica, portanto, a pergunta: o que é que quer a esquerda? Tenho sido um leitor assíduo e interessado da revista ops!, editada on line por apoiantes de Manuel Alegre e que tem procurado respostas para aquela questão. Agora que saiu a brochura que recolhe uma selecção de artigos publicados nos seus primeiros quatro números, vale a pena reler o que aí foi publicado sobre Trabalho e Sindicalismo, sobre o Ensino, sobre a Crise económica e financeira e sobre as suas consequências sociais e sobre Urbanismo e Corrupção.
Mas vou deter-me apenas sobre o breve prefácio de Manuel Alegre. A actual crise económica, diz-nos, não encontrou uma resposta à altura por parte da esquerda. Pelo contrário: por um lado, a deriva neoliberal da social-democracia e, por outro, o conservadorismo de uma esquerda que continua agarrada a “mal recauchutados modelos que faliram com a queda do muro de Berlim”, abriram caminho a uma direita (no poder em França, na Alemanha, em Itália, favorita na Inglaterra, maioritária no Parlamento Europeu…) que não sendo capaz de questionar as causas da crise, propõe políticas que “podem produzir os mesmos efeitos, porventura mais agravados”.
Para construir uma solução possível dever-se-ia começar por juntar forças à esquerda, encontrando um “mínimo denominador comum pelo menos no que respeita às políticas públicas, ao papel do Estado, à Escola Pública, ao Código Laboral, e aos direitos sociais, nomeadamente ao Serviço Nacional de Saúde”. Segundo Manuel Alegre, a possibilidade dessa convergência ficou demonstrada pelo acordo entre António Costa e Helena Roseta, ao qual se associaram muitas outras personalidades de esquerda, nas últimas eleições autárquicas. Convém, no entanto, não esquecer que o PCP e o BE se auto-excluíram dessa coligação. Aliás, o eleitorado penalizou-os por isso. Terão tirado daí algumas lições?
A questão que me parece fulcral é a de que todas as possíveis convergências pontuais se encontram irremediavelmente condicionadas por orientações estratégicas definidas a partir de “concepções de modelos de sociedade aparentemente incompatíveis”. Tanto Francisco Louçã como Jerónimo de Sousa dizem ter como meta o socialismo. Mas o que é que entendem por isso? Enquanto cada um deles estiver convencido que apenas o “seu” socialismo vale, olhará sempre para os outros como “idiotas úteis” que, sob certas condições, lhes poderão ajudar a levar a água ao seu moinho.
Poder-se-á ir além destas contas de merceeiro e caminhar para uma grande esquerda, mobilizada em torno de um projecto de transformação social? Tenho que confessar o meu cepticismo em relação ao PCP. Não vejo a “vanguarda da classe operária” a participar num debate franco e aberto com a "pequena-burguesia” a propósito do futuro do socialismo. O PS e o BE são diferentes, não são partidos monolíticos nem estão enfeudados a dogmas inquestionáveis. Contudo, vinte anos após o colapso do “socialismo real” o debate em torno daquilo que significa um projecto socialista encontra-se, em Portugal, praticamente na estaca zero. Diria mesmo que se encontra sufocado por um poderoso tabu.
Ressalvo uma excepção: uma série de posts que Jorge Bateira, colaborador da ops!, tem publicado no Ladrões de Bicicletas. Infelizmente, sem a repercussão que mereciam. Quem tem a coragem de aceitar debater as ideias que têm sido aí defendidas?
Entretanto, faz-se navegação de cabotagem. Ninguém parece obedecer a um pensamento estratégico capaz de pensar globalmente todos os grandes problemas que nos afectam: o desemprego, a falta de competitividade das empresas, o défice da balança comercial, a dívida pública. Se dizem ter soluções, ninguém parece disposto a congregar os apoios que as viabilizem. Também ninguém diz pretender eleições antecipadas, mas a preocupação dominante de cada um parece ser a de segurar o seu eleitorado para o caso delas virem aí…
E, quando assim é, elas forçosamente acabarão por surgir. Verificar-se-á, depois, que tudo ficou mais ou menos na mesma. Menos o país, que estará pior.
Talvez haja uma excepção neste quadro desolador: O CDS-PP parece ser o único partido que tem uma estratégia coerente e soma a isso a vantagem de poder oferecer ao PS uma maioria parlamentar, está disposto a negociar sem complexos os seus apoios – e está a subir nas sondagens. Paulo Portas sabe exactamente para onde quer ir. Para mim, o problema é que não quero ir por aí.
Fica, portanto, a pergunta: o que é que quer a esquerda? Tenho sido um leitor assíduo e interessado da revista ops!, editada on line por apoiantes de Manuel Alegre e que tem procurado respostas para aquela questão. Agora que saiu a brochura que recolhe uma selecção de artigos publicados nos seus primeiros quatro números, vale a pena reler o que aí foi publicado sobre Trabalho e Sindicalismo, sobre o Ensino, sobre a Crise económica e financeira e sobre as suas consequências sociais e sobre Urbanismo e Corrupção.
Mas vou deter-me apenas sobre o breve prefácio de Manuel Alegre. A actual crise económica, diz-nos, não encontrou uma resposta à altura por parte da esquerda. Pelo contrário: por um lado, a deriva neoliberal da social-democracia e, por outro, o conservadorismo de uma esquerda que continua agarrada a “mal recauchutados modelos que faliram com a queda do muro de Berlim”, abriram caminho a uma direita (no poder em França, na Alemanha, em Itália, favorita na Inglaterra, maioritária no Parlamento Europeu…) que não sendo capaz de questionar as causas da crise, propõe políticas que “podem produzir os mesmos efeitos, porventura mais agravados”.
Para construir uma solução possível dever-se-ia começar por juntar forças à esquerda, encontrando um “mínimo denominador comum pelo menos no que respeita às políticas públicas, ao papel do Estado, à Escola Pública, ao Código Laboral, e aos direitos sociais, nomeadamente ao Serviço Nacional de Saúde”. Segundo Manuel Alegre, a possibilidade dessa convergência ficou demonstrada pelo acordo entre António Costa e Helena Roseta, ao qual se associaram muitas outras personalidades de esquerda, nas últimas eleições autárquicas. Convém, no entanto, não esquecer que o PCP e o BE se auto-excluíram dessa coligação. Aliás, o eleitorado penalizou-os por isso. Terão tirado daí algumas lições?
A questão que me parece fulcral é a de que todas as possíveis convergências pontuais se encontram irremediavelmente condicionadas por orientações estratégicas definidas a partir de “concepções de modelos de sociedade aparentemente incompatíveis”. Tanto Francisco Louçã como Jerónimo de Sousa dizem ter como meta o socialismo. Mas o que é que entendem por isso? Enquanto cada um deles estiver convencido que apenas o “seu” socialismo vale, olhará sempre para os outros como “idiotas úteis” que, sob certas condições, lhes poderão ajudar a levar a água ao seu moinho.
Poder-se-á ir além destas contas de merceeiro e caminhar para uma grande esquerda, mobilizada em torno de um projecto de transformação social? Tenho que confessar o meu cepticismo em relação ao PCP. Não vejo a “vanguarda da classe operária” a participar num debate franco e aberto com a "pequena-burguesia” a propósito do futuro do socialismo. O PS e o BE são diferentes, não são partidos monolíticos nem estão enfeudados a dogmas inquestionáveis. Contudo, vinte anos após o colapso do “socialismo real” o debate em torno daquilo que significa um projecto socialista encontra-se, em Portugal, praticamente na estaca zero. Diria mesmo que se encontra sufocado por um poderoso tabu.
Ressalvo uma excepção: uma série de posts que Jorge Bateira, colaborador da ops!, tem publicado no Ladrões de Bicicletas. Infelizmente, sem a repercussão que mereciam. Quem tem a coragem de aceitar debater as ideias que têm sido aí defendidas?
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