O Bloco de Esquerda vai entrar na segunda década da sua existência...
O Bloco de Esquerda completou dez anos de vida. Não fui um dos pais fundadores, mas também pertenço à família e tenho acompanhado o crescimento do miúdo desde o seu nascimento.
No princípio, era uma criança amorosa. Toda a gente lhe achava muita gracinha e gostava dele. Depois, ganhou corpo, ficou mais alto e mais forte. Mas também, como todos os adolescentes, ficou um bocado mais chato. Por vezes, é difícil de aturar. Sente uma enorme necessidade de auto-afirmação e, como tal, quer-se diferente dos outros. Não usa gravata. Parece estar sempre “no contra” e diga-se que muitas vezes tem razões para isso. Mas, apesar de estar convencido de que já sabe tudo, na verdade ainda não sabe muito bem o que quer ser quando for grande.
Há-de amadurecer, como todos os adolescentes. A idade adulta pode revelar-se de muitas maneiras. Há aqueles que envelhecem guardando como um bem precioso os seus ideais juvenis. Mas há também quem, com o tempo, se torne céptico, amargo, calculista e interesseiro.
Nalguns casos, a idade traz consigo a sabedoria. Aprendemos com as nossas experiências, tornámo-nos mais disponíveis para ouvir os outros e menos confiantes na infalibilidade das nossas opiniões. Mas, com a idade, também pode vir a casmurrice: “Já estou velho demais para estar agora a mudar de ideias”. E continua-se a insistir naquilo que sempre se defendeu, mesmo quando a realidade insiste em desmentir a validade de antigas crenças.
Espero que o Bloco continue a crescer. Só posso desejar-lhe as maiores felicidades. Pela parte que me toca, eu, que já “ando na política” há uns 40 anos, tenciono não me esquecer de um poema do Brecht, “Vem comigo para a Georgià”. Diz assim:
1
Olha esta cidade e vê: está velha,
Lembra-te, que bonita ela parecia!
Agora não a olhes c’o coração, mas com a mente fria
E diz: está velha.
Vem comigo para a Geórgià.
Ali, sim, vamos erguer uma nova cidade.
E quando tiver pedras de mais esta cidade
Então não ficamos mais lá.
2
Olha esta mulher e vê: está velha.
Lembra-te, que linda outrora ela par’cia!
Agora não a olhes c’o coração, mas com mente fria
E diz: está velha.
Vem comigo para a Georgià
Ali, se quiseres, temos novas mulheres,
E quando envelhecerem também estas mulheres
Então não ficamos mais lá.
3
Olha as tuas opiniões e vê: que velhas estão.
Lembra-te como faziam um vistão!
Agora olha-as com mente fria, não c’o coração
E diz: Que velhas ‘stão!
Vem comigo para a Geórgià.
Ali, vais ver, há ideias novas.
E quando elas não par’cerem mais novas
Então não ficamos mais lá.
(trad. de Paulo Quintela)
O Bloco de Esquerda completou dez anos de vida. Não fui um dos pais fundadores, mas também pertenço à família e tenho acompanhado o crescimento do miúdo desde o seu nascimento.
No princípio, era uma criança amorosa. Toda a gente lhe achava muita gracinha e gostava dele. Depois, ganhou corpo, ficou mais alto e mais forte. Mas também, como todos os adolescentes, ficou um bocado mais chato. Por vezes, é difícil de aturar. Sente uma enorme necessidade de auto-afirmação e, como tal, quer-se diferente dos outros. Não usa gravata. Parece estar sempre “no contra” e diga-se que muitas vezes tem razões para isso. Mas, apesar de estar convencido de que já sabe tudo, na verdade ainda não sabe muito bem o que quer ser quando for grande.
Há-de amadurecer, como todos os adolescentes. A idade adulta pode revelar-se de muitas maneiras. Há aqueles que envelhecem guardando como um bem precioso os seus ideais juvenis. Mas há também quem, com o tempo, se torne céptico, amargo, calculista e interesseiro.
Nalguns casos, a idade traz consigo a sabedoria. Aprendemos com as nossas experiências, tornámo-nos mais disponíveis para ouvir os outros e menos confiantes na infalibilidade das nossas opiniões. Mas, com a idade, também pode vir a casmurrice: “Já estou velho demais para estar agora a mudar de ideias”. E continua-se a insistir naquilo que sempre se defendeu, mesmo quando a realidade insiste em desmentir a validade de antigas crenças.
Espero que o Bloco continue a crescer. Só posso desejar-lhe as maiores felicidades. Pela parte que me toca, eu, que já “ando na política” há uns 40 anos, tenciono não me esquecer de um poema do Brecht, “Vem comigo para a Georgià”. Diz assim:
1
Olha esta cidade e vê: está velha,
Lembra-te, que bonita ela parecia!
Agora não a olhes c’o coração, mas com a mente fria
E diz: está velha.
Vem comigo para a Geórgià.
Ali, sim, vamos erguer uma nova cidade.
E quando tiver pedras de mais esta cidade
Então não ficamos mais lá.
2
Olha esta mulher e vê: está velha.
Lembra-te, que linda outrora ela par’cia!
Agora não a olhes c’o coração, mas com mente fria
E diz: está velha.
Vem comigo para a Georgià
Ali, se quiseres, temos novas mulheres,
E quando envelhecerem também estas mulheres
Então não ficamos mais lá.
3
Olha as tuas opiniões e vê: que velhas estão.
Lembra-te como faziam um vistão!
Agora olha-as com mente fria, não c’o coração
E diz: Que velhas ‘stão!
Vem comigo para a Geórgià.
Ali, vais ver, há ideias novas.
E quando elas não par’cerem mais novas
Então não ficamos mais lá.
(trad. de Paulo Quintela)
Deixo-o aqui como um voto de um Feliz Ano Novo. Que o Bloco continue a crescer sem que a idade lhe tolha aquela abertura de espírito que nos permite aprender com a vida e acolher ideias novas.
Bom ano Cruz Mendes. E parabéns pela análise ao BE. Em Braga, só mesmo tu poderias escrever este post.
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