AS CAMPANHAS ELEITORAIS
PARA O PARLAMENTO EUROPEU
UM BALANÇO PROVISÓRIO
Seguindo as principais campanhas eleitorais (a do BE, mais de perto, as outras pelos órgãos de comunicação social), que balanço posso fazer no final desta primeira semana?
Vital Moreira não tem carisma e anda à deriva. Não colhe simpatias nem à direita nem à esquerda e no próprio PS parece-me que o vêm como um corpo estranho e, até mesmo, um bocado incómodo. A questão da oportunidade (ou não) do debate de questões nacionais no quadro das eleições europeias, do apoio (ou não) à recandidatura de Durão Barroso à Presidência da Comissão Europeia e da criação (ou não) de um Imposto Europeu, são exemplos do desnorte que campeia nas hostes da sua candidatura. Periodicamente, José Sócrates aparece em seu socorro para fazer oposição à oposição. Os fiéis parece que gostam do seu estilo desabrido… A mim, já me falta paciência.
As figuras de Manuela Ferreira Leite e de Paulo Rangel de alguma forma complementam-se. A primeira trata das “coisas sérias” (aparece, por exemplo, a intervir nos colóquios “Portugal de Verdade”), o segundo dedica-se à “pequena política”. A trica do dia é o seu tema e Vital Moreira o adversário preferido. E nessas matérias não lhe tem sido difícil somar vitórias. Resta saber se essas escaramuças rendem votos ou não.
Ilda Figueiredo aparece sempre bem rodeada por apoiantes, comunica facilmente com a população e tem conseguido fazer passar no fundamental as grandes linhas da mensagem política da CDU, onde se associa a defesa dos direitos dos trabalhadores à defesa das suas concepções “nacionalistas” em relação à União Europeia.
Miguel Portas é facilmente reconhecido e está à vontade nas acções de rua, no contacto com as populações, mas é claro que não tem ao seu serviço um “aparelho” como o do PCP. Tem procurado fazer uma campanha pedagógica, centrada nas questões colocadas pela crise económica e social. É, talvez, a única que tem dado destaque aos problemas ambientais E, para já, também a única com acções de campanha especificamente voltadas para a juventude. Face às questões europeias, pronuncia-se a favor da superação do défice democrático que ainda tolhe a EU, pelo fim dos paraísos fiscais e pelo reforço das políticas de segurança social. Perspectivando-se a probabilidade de crescimento do número de deputados eleitos, nota-se a preocupação de difundir a imagem da Marisa Matias (socióloga e investigadora da Universidade de Coimbra), nº 2 da lista de candidatos, e de Rui Tavares (historiador, colunista do Público e comentador da SIC), nº 3, ainda pouco conhecidos da maioria dos eleitores.
Na campanha do CDS, como na do Bloco, nota-se a falta da máquina partidária e dos meios financeiros que alimentam outras campanhas. Nuno Melo, que tem tido uma prestação destacada como deputado na AR, não parece muito à vontade nas funções de candidato. A coisa espevita quando está presente Paulo Portas que está como peixe na água nos mercados e nas feiras. Mas ainda estão para surgir ideias fortes que expliquem porque se deve votar no CDS em vez de no PSD.
A primeira semana da campanha eleitoral para as europeias aproxima-se do fim e, independentemente das possíveis virtudes exibidas pelas várias candidaturas, fica um sentimento muito nítido de alguma apatia e desconfiança por parte dos eleitores. Teme-se uma grande abstenção. Parece que uma crise que começou por ser financeira e se transformou numa crise económica e social, começa agora a voltar-se conta a própria democracia. Casos como o de como o do Dias Loureiro acabam por afectar os “políticos” em geral. Começa a generalizar-se o sentimento de que o que “eles” querem é tacho e de que “nós” é que os andamos a sustentar a todos. Se esta mentalidade se instalar, sairemos da crise pior do que entramos, porque a democracia é, de facto, a arma mais importante de que dispõem os “de baixo” para meter na ordem os senhores que pensam que têm na mão o destino de todos porque são eles quem tem no bolso o dinheiro.
Enquanto houver liberdade e democracia “eles”, os governantes, serão quem “nós”, os eleitores, quisermos. Logo, todos somos responsáveis. E se nos abstivermos de intervir politicamente, estaremos a passar um cheque em branco a qualquer um. E seremos responsáveis por isso também.
Quem me lê saberá que o meu partido é o Bloco de Esquerda. A minha aposta é numa esquerda democrática e socialista consequente. Mas, independentemente disso, continuo a pensar que há gente séria em todos os partidos, pessoas convictas de que aquilo que defendem é o melhor para o país e que há diferentes programas partidários que merecem ser conhecidos e debatidos com atenção. Contudo, a comunicação social, centrada na exploração dos fait-divers e das tricas da pequena política, não ajuda ninguém a tomar conhecimento deles. Sobretudo, a forma como os telejornais têm acompanhado as diferentes campanhas eleitorais só pode contribuir para o descrédito da actividade política em geral. É importante que haja, nos diferentes partidos, quem compreenda que subestimar a importância de uma exposição clara e fundamentada das suas ideias para se deixar ir na corrente das frases sonoras para a televisão, só pode degradar o debate político para o nível das mais estéreis rivalidades clubistas. Com enormes prejuízos para uma saudável vida democrática.
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