quinta-feira, 14 de maio de 2009

Os acontecimentos do Bairro da Bela Vista


A Direita exige a rápida detenção, julgamento e punição dos desordeiros… A Esquerda chama atenção para as causas sociais dos problemas… Quem tem razão?

Querer reduzir a situação a um caso de polícia é um erro. Reprimem-se os desordeiros do momento, mas as desordens regressarão mais tarde. E arriscamo-nos a entrar numa espiral de violência e destruição sem fim, onde a repressão serve de pretexto para novas revoltas e estas para uma nova onda de repressão.

Por outro lado, denunciar o desemprego, a miséria e a exclusão social como sendo aquilo que está na origem dos conflitos, não resolve problemas que pedem soluções urgentes, porque não será amanhã que uma sociedade liberta daqueles males vai nascer. E, entretanto, a delinquência e a criminalidade prosseguirão a sua marcha.

Pois não há que ter ilusões a esse respeito: o lumpen não é o povo e os gangs não são organizações de trabalhadores. Os motins de rua são um sintoma da existência de um conflito político. Mas não podem ser confundidos com manifestações com propósitos políticos definidos. São actos de revolta “em bruto” susceptíveis de serem manipulados por qualquer um. Geralmente, dão pretexto ao reforço das políticas securitárias mais reaccionárias e conservadoras.

A prazo, quem julga que pode resolver o problema à cacetada, só vai agravá-lo. E quem ceder à tentação de correr atrás destes actos desesperados de revolta, vai correr para o abismo.

Mais do que aproveitar a situação para desenterrar e esgrimir velhos machados de guerra da luta ideológica, há que procurar soluções razoáveis para problemas concretos. Antes de mais, como já sublinhou Rui Tavares, é preciso que não se repitam os erros do passado. A construção de bairros como o da Bela Vista é um erro: as famílias mais carenciadas devem ser dispersas pela cidade, viajarem nos autocarros que todos utilizam, fazer compras nas mesmas lojas, ter acesso às escolas, aos complexos desportivos, aos parques e jardins que todos frequentam. Não podem ser encerradas em guetos.

Contudo, muitas “Bela Vistas” foram já construídas e os seus problemas têm de ser enfrentados. Antes de mais, é necessário criar um clima de segurança pública e, para isso, a presença dissuasora da Polícia é fundamental. Depois, é preciso prevenir a degradação dos prédios e dos espaços públicos. Uma atitude desleixada nessa matéria funciona como um factor favorável a uma decadência que acaba por ser tida como uma fatalidade. Finalmente, parece-me bastante justa a sugestão de Helena Roseta: é preciso encontrar entre os moradores desses bairros, as pessoas que tenham a coragem de promover iniciativas que vão no sentido de criar alternativas positivas de acção social. Associações culturais, desportivas, de solidariedade social, inclusive de associações políticas (comissões de moradores, por ex.) que valorizem a intervenção cívica e a participação de todos na construção de uma sociedade melhor.

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