quinta-feira, 21 de maio de 2009

A AUTOEUROPA E A ÉTICA DAS MULTINACIONAIS


Aqueles países da Europa que apostaram tudo numa política de aumento das exportações à custa da restrição do mercado interno e de uma política fiscal “benevolente”, são os que mais duramente sentem hoje os efeitos da crise. É o caso da Irlanda e dos países da Europa de Leste. Aí, para atrair capitais estrangeiros e para favorecer as exportações nacionais, a cartilha neoliberal foi aplicada sem reservas: mão-de-obra barata, benesses sem fim para o investimento directo estrangeiro, descida de impostos e desinvestimento na Segurança Social. Ainda há pouco tempo, todos os economistas e jornalistas “do regime”, que dominavam e continuam a dominar as colunas de opinião dos jornais e os comentários televisivos, nos ofereciam a Irlanda como um exemplo a seguir… Agora, a retracção dos mercados internacionais atingiram esses países em cheio. Sucederam-se os encerramentos de empresas com consequências sociais agravadas pelo desarmamento da Segurança Social.

A este propósito recomendo o artigo de Carlos Santos no Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de Maio de 2009. Em Portugal, apesar dos bons conselhos da imprensa especializada, não se terá ido, felizmente, tão longe. Ainda assim, a situação está longe de nos ser completamente estranha.

A Volkswagen recebeu do Estado português, para instalar a sua fábrica em Palmela, regalias extraordinárias. Apesar da crise, sabemos que a Autoeuropa continua a ser uma empresa altamente lucrativa, tendo facturado 1.553 mil milhões de euros em 2008. A sua administração sabe que tem na sua mão a vida de 3000 trabalhadores directos e a de cerca de 40000 pessoas que trabalham em empresas subsidiárias. Mas sabe também que, hoje, todos eles temem acima de tudo o desemprego. E, portanto, não se coíbe de lhes propor a revisão dos acordos assinados para vigorar até 2010, sob pena de proceder ao despedimento de 250 trabalhadores contratados. E mais: deixa que fique no ar a ameaça velada de encerramento. Em troca, o que lhes propõe, na prática, é uma descida de salários.

Chama-se a isto chantagem. Será legítimo esperar outra coisa? Deveremos contar com a prevalência de princípios éticos para prevenir estas situações? Ou será que o único princípio que vale numa economia capitalista é o princípio do lucro máximo?

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