Manuel Alegre rejeita a sua inclusão nas listas de deputados, mas mantém a sua ligação ao PS
Trata-se, sem dúvida, de uma vitória de José Sócrates que, de um só golpe, se vê livre quer de um deputado incómodo, quer da ameaça de nascimento de um novo partido na área da esquerda democrática e reformista, que dividiria o PS e o poderia penalizar em termos eleitorais.
Por outro lado, afirma-se que Manuel Alegre terá conseguido garantir a eleição de alguns dos seus apoiantes. Será o caso de Nuno David, Jorge Bateira e Elísio Estanque. Com isso, o “alegrismo” continuaria de alguma forma presente na AR e, ao mesmo tempo, José Sócrates pretenderia conter uma fuga de votos do PS para o BE. As personalidades que referi são pessoas com uma postura política claramente à esquerda da actual direcção do PS, mas ninguém estará em condições de garantir os resultados que resultarão da sua eventual intervenção parlamentar. Afinal, as “divergências políticas” referidas por Alegre como razão da recusa em candidatar-se pelo PS, não são suficientes para levar os seus apoiantes a fazer o mesmo? Para todos os efeitos, não sendo pessoas com o peso político de Alegre, é duvidoso que a sua presença nas listas de candidatos à AR, tenha consequências eleitorais significativas.
Finalmente, Manuel Alegre talvez tenha conseguido o apoio do PS para as próximas eleições presidenciais, onde gostaria de aparecer como um candidato federador das esquerdas. Resta saber se, nessa data, o seu capital político não terá sido já todo desbaratado.
Apesar de todas as dúvidas, apesar de um certo sentimento de frustração que se possa ter apossado daqueles que esperavam de Manuel Alegre algo mais, penso que o diálogo entre as esquerdas que já deu lugar ao Comício do Trindade e ao Fórum da Aula Magna, não está terminado.
Trata-se de um processo complexo de análise crítica e autocrítica. A impaciência não será boa conselheira.
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