quinta-feira, 7 de maio de 2009

MARCHA GLOBAL DA MARIJUANA

Amanhã realiza-se a Marcha Global da Marijuana (MGM) em Lisboa, Coimbra e Braga. Na semana passada houve uma manifestação no Porto com cerca de 500 pessoas e realizaram-se muitas outras em várias cidades da Europa.

A propósito destes acontecimentos deixo aqui algumas considerações sobre os argumentos que têm sido invocados em defesa da legalização da marijuana, bem como a minha opinião acerca do relevo desse acto político.

1) Não é prejudicial à saúde e não cria dependência física. Quando Marx criticava a religião como sendo o “ópio do povo” não me parece que estivesse preocupado com a possibilidade da religião fazer mal à saúde e ser viciante.

2) O cânhamo pode ser produzido como matéria-prima para a indústria têxtil. Só será usado com esse fim se dessa forma se obtivessem lucros superiores àqueles que decorrerem da sua venda enquanto droga. O que é pouco provável. Mas, ainda que não seja assim, volto ao meu paralelismo com a crítica de Marx à religião. Não acredito que ele fosse sensível à defesa da bondade das religiões, a partir do argumento de que as Igrejas promovem uma série de actividades económicas e criam inúmeros postos de trabalho.

3) Tem virtualidades terapêuticas no combate à dor. Desconheço os estudos científicos que o comprovam. Acredito que haja experiências individuais que subscrevam essa tese, mas também sei que há pessoas que se sentem melhor depois de tratadas com placebos. Mas, admitindo aquela hipótese, então não deveria ser, tal como é o caso de outros analgésicos potentes, prescrita por um médico, tendo em conta a situação clínica do doente, as possíveis interacções com outros fármacos e eventuais efeitos secundários?

Em última análise, a questão não está na marijuana (como não está no álcool), mas no uso que se lhe dá. E parece-me evidente a existência de uma cultura que promove as drogas leves como meio de compensar uma existência frustrada, como “ópio do povo”.

Nem todos as usarão com esse fim? É claro que não. Mas isso não implica que lhes tenhamos que dar um relevo que elas não têm. Sejamos claros: a qualidade de vida dos indivíduos pode depender do exercício de uma profissão onde se sintam realizados, de rendimentos que não o obriguem a encarar angustiosamente os últimos dias do mês, de uma habitação confortável, da existência de serviços de saúde gratuitos, prontos e eficientes, da possibilidade de não ver frustrado o seu desejo de estudar e de se cultivar por razões de ordem económica, de desfrutar de tempos livres que lhe permitam dedicar-se a actividades e interesses variados e a não ficar confinado a uma vida que se esgota num movimento pendular “trabalho-casa”. A qualidade de vida não depende minimamente da possibilidade de fumar uns charros sem problemas.

É claro que a vida também é feita de “pequenos nadas”. Mas é nesse plano e não noutro que se encontra o consumo da marijuana. E, ainda aí, devo dizer que me custaria muito mais prescindir de um dia de sol, de um passeio a pé, de um banho de mar, de uma conversa entre amigos…, do que de um charro. Talvez por isso, qualquer sobrevalorização da sua importância parece-me suspeita. E convém dizê-lo: ninguém passa a ser mais inteligente, mais culto e mais interessante pelo facto de a fumar, E muito menos isso é uma atitude “de esquerda”. Há inúmeros idiotas e reaccionários para comprová-lo.

De tudo isto, deverá concluir-se que deve ser mantida como substância proibida? É claro que não. Da minha crítica do alcoolismo, também não se deverá deduzir uma a defesa da “lei seca”. Simplesmente, não dou à reivindicação da legalização da marijuana uma importância superior àquela que ela merece. Há apenas um argumento que me poderá motivar: o das vantagens da dissociação do mercado das drogas leves do das drogas duras.

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