segunda-feira, 6 de abril de 2009

POBRES EM QUASE TUDO,
MAS
RICOS EM
AUTO-ESTRADAS

Já fiz aqui referência ao TGV: um disparate calamitoso, particularmente no contexto económico actual, com que este governo, mesmo em véspera de eleições, se quer comprometer e comprometer o país.

Vou agora tratar da saga das auto-estradas. Há dias, o Presidente da República sentiu-se obrigado a explicar aquilo que para todos devia ser evidente: as auto-estradas devem ser projectadas a partir de uma ponderação das relações custo – benefício. A sua construção e manutenção são custos, o benefício advém da sua utilização. Os benefícios de uma auto-estrada pouco utilizada não compensam os custos que ela acarreta.

De acordo com os parâmetros internacionais e as normas vigentes do Plano Rodoviário 2000, a construção de uma auto-estrada só se justifica a se ela for utilizada por dez a doze mil veículos por dia. Ora, o jornal Expresso foi fazer as contas do tráfico médio registado nas auto-estradas portuguesas e concluiu que existem nove auto-estradas (650 Km) que apresentam resultados significativamente inferiores.

O Eurostat (o gabinete de estatísticas europeu) já havia afirmado que Portugal era um dos países da Europa com mais quilómetros de auto-estradas por habitante e densidade geográfica. Também já se sabia que a região de Lisboa e Vale do Tejo é aquela que tem a rede de auto-estradas mais densa da Europa. Ainda assim, o governo já adjudicou cinco novas concessões, orçamentadas em 2554 milhões de euros, a pagar em 25 anos. No final desse período, o custo total das obras será o de 7190 milhões. Entre elas, estará a terceira auto-estrada que vai ligar Porto a Lisboa. Nas duas já existentes (a A1 e o itinerário formado pelas A29, A17, A8 e A9) circulam 50 mil veículos por dia, embora hovesse capacidade para o triplo. Será mesmo necessário mais uma auto-estrada, que se vai somar às duas ligações já existentes, à Linha do Norte da CP e, ainda, à linha do TGV com que se pretende unir também aquelas duas cidades?

É claro que a construção de boas vias de comunicação pode encontrar justificações sociais (o combate à interioridade, por exemplo) que ultrapassam as considerações de ordem estritamente económicas. Mas em muitos dos casos, o benefício das estradas nacionais já existentes ou a simples abertura de vias rápidas não seria uma solução mais racional?

Enfim, uma coisa é certa, quem tem dinheiro para gasolina e portagens poderá chegar cada vez mais depressa a qualquer ponto do país. O problema é que a cada lugar onde chegue encontrará sempre fábricas fechadas, terras ao abandono e gente desesperada.

Sou absolutamente a favor do investimento público como factor de reanimação de uma economia em crise. Mas isso não dispensa ninguém de definir e justificar critérios de utilização de capitais que, afinal, se constituíram com o dinheiro dos contribuintes. Ou seja, de todos nós.

Falta dinheiro para a Saúde, para a Educação e para a Segurança Social? Pois para tapar os buracos na banca privada, abertos por gestões fraudulentas, ou para cobrir os prejuízos daqueles que especularam na Bolsa e perderam, há sempre quanto for preciso. E, pelos vistos, para cada vez mais auto-estradas também.

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