Rui Tavares
O Fiasco do Milénio e outras tragédias menores
Tinta da China, 2009.
Houve um tempo na minha vida, digamos entre 1972 e 1976, em que todo o tempo de que dispunha se esgotava na reflexão e na acção revolucionária. Lia então poemas como "Apenas por causa da desordem crescente" ou "Mau tempo para lirismos" que, tendo sido escritos por Bertold Brecht, compreendia como se tivessem sido escritos por mim. É verdade que continuo a não ver as questões políticas como fenómenos que me sejam exteriores e distantes. Elas estão em mim como parte indissociável daquilo que sou. Mas aprendemos (eu e julgo que muitos outros) a não ser tão «(…) parciais, secos, enfronhados nos negócios / da política, e no árido e “indigno” vocabulário / da economia dialéctica”, mas a reservar também um tempo para o «entusiasmo pela macieira em flor» ou para a beleza das «quedas de neve»... (Terei muito gosto em enviar os poemas de Brecht a todos os interessados.)
Vem isto tudo a propósito das minhas leituras, que não se resumem a livros sérios que questionam as minhas convicções políticas, as criticam ou alimentam. Há um lugar também para livros que me permitem repousar e me divertem. Note-se bem: a idiotice não me faz uma coisa nem outra. Mas há leituras que são como um bálsamo, uma sombra, um copo de água fresca num dia particularmente quente e abafado, que nos fazem sorrir e, por momentos, sentirmo-nos em paz com a vida e com o mundo.
É assim que leio este livro de Rui Tavares que recolhe artigos seus para a revista Blitz. O único problema é que tem pouco mais de 150 páginas. É necessário estar atento ao ritmo da leitura para fazer o prazer durar.
Houve um tempo na minha vida, digamos entre 1972 e 1976, em que todo o tempo de que dispunha se esgotava na reflexão e na acção revolucionária. Lia então poemas como "Apenas por causa da desordem crescente" ou "Mau tempo para lirismos" que, tendo sido escritos por Bertold Brecht, compreendia como se tivessem sido escritos por mim. É verdade que continuo a não ver as questões políticas como fenómenos que me sejam exteriores e distantes. Elas estão em mim como parte indissociável daquilo que sou. Mas aprendemos (eu e julgo que muitos outros) a não ser tão «(…) parciais, secos, enfronhados nos negócios / da política, e no árido e “indigno” vocabulário / da economia dialéctica”, mas a reservar também um tempo para o «entusiasmo pela macieira em flor» ou para a beleza das «quedas de neve»... (Terei muito gosto em enviar os poemas de Brecht a todos os interessados.)
Vem isto tudo a propósito das minhas leituras, que não se resumem a livros sérios que questionam as minhas convicções políticas, as criticam ou alimentam. Há um lugar também para livros que me permitem repousar e me divertem. Note-se bem: a idiotice não me faz uma coisa nem outra. Mas há leituras que são como um bálsamo, uma sombra, um copo de água fresca num dia particularmente quente e abafado, que nos fazem sorrir e, por momentos, sentirmo-nos em paz com a vida e com o mundo.
É assim que leio este livro de Rui Tavares que recolhe artigos seus para a revista Blitz. O único problema é que tem pouco mais de 150 páginas. É necessário estar atento ao ritmo da leitura para fazer o prazer durar.
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