sábado, 21 de maio de 2011

Debate José Sócrates – Passos Coelho


Sócrates adoptou a táctica que lhe habitual: quis centrar o debate na discussão das propostas de revisão constitucional do PSD e eximir-se da discussão da acção do governo. E, enquanto se falou do co-pagamento dos serviços de saúde pública (cada um deve pagar parte dos tratamentos prestados pelo SNS de acordo com os seus rendimentos) ganhou pontos. Contudo, a questão era relativamente ociosa: Precisamente porque vão contra o princípio constitucional de um SNS tendencialmente gratuito, as propostas do PSD só podem passar com o apoio de 2/3 dos deputados eleitos. Ora, como o PS está contra, elas estão automaticamente fora de questão. Quer dizer, não serão praticáveis mesmo que Passos Coelho ganhe as eleições.

Seja como for, Passos Coelho tentou fugir à questão e recentrar a discussão no balanço da actividade do governo. Passou-se, assim, ao tema do desemprego e da revisão das leis laborais. Sócrates acusou Passos Coelho de pôr em causa a proibição do despedimento sem justa causa, mas ficou por explicar por que é que a “inadaptação” (referida no memorando da troika, assinado por José Sócrates) não é um “motivo atendível” (defendido por Passos Coelho no seu projecto de revisão constitucional). Parece-me que, nesta matéria, não haverá entre os dois grandes divergências: ambos querem despedimentos mais fáceis e baratos.

E o mesmo se pode dizer acerca da polémica em torno da Taxa Social Única. Assinaram os dois o memorando da troika que exige uma “redução drástica” e nenhum deles sabe onde vai buscar o dinheiro que possa compensar a Segurança Social dessa sangria.

Enfim, há uma questão central que qualquer eleitor deve colocar a estes e aos outros partidos: como é que um país lançado para uma recessão profunda e prolongada vai pagar, com juros exorbitantes, uma dívida que se vence dentro de três anos? Mas isto esteve ausente do debate. Que medidas propõem com vista ao relançamento da economia, ao combate ao desemprego, à corrupção, à fraude fiscal? Nada ou nada de novo. Sócrates só tem a prometer mais do mesmo, e já sabemos o resultado. Passos Coelho só tem uma preocupação: cortar salários e benefícios sociais.

Quem ganhou o debate? Na minha opinião perderam os dois – Passos Coelho para o CDS e Sócrates para o Bloco de Esquerda, por contraste com as propostas bem mais sólidas, sustentadas à direita e à esquerda, defendidas por Paulo Portas e Francisco Louçã no debate do dia anterior.

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