Debate José Sócrates – Francisco Louçã (2)
Se a questão da redução da TSU foi o trunfo que Louçã trouxe para o debate, o trunfo de Sócrates foi o da questão da reestruturação da dívida. Confundindo deliberadamente “reestruturação” com “calote”, remeteu-nos para o caso da Argentina e descreveu-nos o quadro negro das consequências catastróficas do que seria a adopção da “irresponsável” proposta do Bloco.
Ora, reestruturar a dívida pode significar uma redução dos juros, um alargamento dos prazos de pagamento ou a decisão de não pagar parte dela (o chamado haircut). Quanto às duas primeiras medidas, essa proposta que hoje Sócrates diz ser “irresponsável”, a médio prazo vai se reclamada por quase todos, pela simples razão de que um país mergulhado na recessão não terá meios para pagar uma dívida de 15 mil milhões de euros (90% do PIB), que aumenta cerca de 50 milhões por dia, a juros de 5,7%. Nestas circunstâncias, mesmo que haja uma redução drástica da despesa pública, com todos os custos sociais que isso implica, a dívida continuará a subir. E, quando dentro de três anos, formos obrigados a recorrer aos mercados financeiros, teremos uma dívida superior, uma economia destroçada e seremos confrontados com juros muito acima dos 10%. Tal e qual como está acontecer na Grécia.
Mais polémica é a questão do haircut. Nesta matéria aquilo que Louçã propôs foi uma auditoria que nos permita distinguir aquilo que na dívida pública resulta de gastos efectivos do Estado daquilo que resulta do juro especulativo que temos sido obrigados a pagar. Seja como for, qualquer decisão nesta matéria não será tomada de forma unilateral, mas resultará de um processo negocial que tem que envolver os nossos credores e a própria Comissão Europeia.
Ninguém antevê facilidades, mas uma coisa é certa: sem a reestruturação da dívida, não haverá crescimento económico e, dentro de três anos, estaremos a pedir mais um empréstimo ao FMI e a aceitar mais e mais medidas de austeridade.
Conclusão: a solução "irresponsável" de Louçã, vai verificar-se inevitável; a solução “responsável” de Sócrates é aquela que nos conduz inevitavelmente a mais desemprego, mais miséria e mais endividamento.
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