quarta-feira, 18 de maio de 2011

Irrealismos e bom senso

Acusações de “irrealismo” têm sido repetidamente brandidas no debate eleitoral. Praticamente todos os partidos têm sido, por este ou aquele motivo, acusados pelos seus adversários desse pecado. E, se atendermos aos objectivos políticos traçados, provavelmente com alguma razão. Vejamos:

O PS quer ganhar as eleições e formar um governo maioritário. Mas ninguém admite a hipótese do PS ganhar com maioria absoluta e tem sido recusada por todos os outros partidos a possibilidade de participarem num governo chefiado por José Sócrates. Logo, a hipótese do PS continuar a governar parece-me bastante irrealista.

O PSD quer uma maioria absoluta. Mas, a acreditar em repetidas sondagens, não está sequer garantido que seja o partido mais votado. Uma maioria absoluta é um objectivo totalmente irrealista.

O CDS considera que pode contribuir para uma maioria de direita tendo mais votos que o PSD. Nesse caso, mesmo que o PS fosse o partido mais votado, teríamos como primeiro-ministro Paulo Portas. A hipótese é tão irrealista que dispensa comentários.

O BE apela à formação de um governo de esquerda. Mas o PS está comprometido com a troika e, portanto, vê como aliados naturais os outros partidos que assinaram o seu memorando programático. A votação do Bloco mais a da CDU nunca foi além de 20% do eleitorado. É, pois, uma hipótese absolutamente irrealista.

Será que anda tudo no mundo da lua, ou considerarão os dirigentes destes partidos que, exagerar as suas pretensões é um bom processo de cativar os eleitores indecisos? Se é assim, não creio que tenham razão. O bom senso está muito bem distribuído e quem o violar arrisca-se a passar por tolo.

Então, sensatamente, o que querem de facto estes partidos?

O PS quer, simplesmente, continuar no governo (com o PSD, o CDS ou com os dois), o que de certa forma é sensato, uma vez que, no fundamental, têm todos o mesmo programa, fixado pela troika. Mas, para tal, deveria ter-se visto livre do Sócrates no último Congresso. Não foi capaz disso e arcará com as consequências.

O PSD quer ser o partido mais votado e formar uma maioria absoluta com o CDS. Mas, para o conseguir, teria sido mais prudente que os dois partidos se tivessem apresentado coligados nestas eleições. A sua ambição não o permitiu e agora terá também de arcar com as consequências. Caso perca as eleições, Passos Coelho terá que se demitir.

O CDS quer ter uma votação que lhe permita negociar numa posição de força a sua entrada no próximo governo. Preferiria, é claro, uma aliança com o PSD, mas não descarta a hipótese de um governo PS-CDS, desde que Sócrates seja sacrificado.

O BE quer ter uma votação que lhe permita continuar a lutar pela constituição de uma “grande esquerda”. Existindo um sector do eleitorado que oscila entre o Bloco e o PS, nas circunstâncias actuais, se esses eleitores optarem pelo PS estarão a apoiar uma política favorável à procura de alianças preferenciais à direita. O fortalecimento eleitoral do Bloco permitirá interromper esta tendência e relançar o projecto que conduziu ao apoio nas Presidenciais a Manuel Alegre.

Finalmente, o PCP parece não ter outra estratégia senão a de manter as posições alcançadas. De facto, os nossos comunistas não podem ser acusados de terem “a mania das grandezas”. Os Verdes também não definem objectivos: já sabem que aconteça o que acontecer, terão os dois deputados do costume. Não há partido com representação parlamentar mais estável.

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