segunda-feira, 9 de maio de 2011

As próximas eleições e o futuro da esquerda

Perante sondagens que apontam para um empate técnico entre o PS e o PSD, Passos Coelho jogou um novo trunfo: o PSD não fará governo com o PS depois das próximas eleições. Se tomarmos a sério esta afirmação, e descartando as hipóteses, altamente improváveis, de um novo governo minoritário ou de um governo de maioria de esquerda, restam as soluções PSD/CDS ou PS/CDS. Em qualquer dos casos, teremos um governo cujo programa será o da troika FMI-CE-BCE. Ou seja, das próximas eleições sairá um governo de direita, executante (rigorosamente vigiado) de um projecto neoliberal.

Nestas condições, o voto útil da esquerda só pode ter como propósito acumular forças que nos permitam resistir o melhor possível ao mau tempo que se anuncia e criar condições para que, a médio prazo, se possa construir uma alternativa de esquerda.

Daqui a quatro anos teremos novas eleições e, então, a situação será diferente: os portugueses que ainda alimentam ilusões acerca da bondade do “acordo” que nos foi imposto em troca de um empréstimo 72 mil milhões de euros saberão por experiência própria que (tal como aconteceu na Grécia) foram feitos em vão os terríveis sacrifícios que sofreram. A situação financeira, económica e social do país estará nessa altura pior do que hoje e vai impor-se a necessidade de encontrar novas soluções.

Na minha opinião, tais soluções terão de passar por acordos entre os partidos que, já hoje, contra ventos e marés, têm tido a coragem de denunciar os programas neoliberais, feitos à medida dos interesses da banca e dos especuladores financeiros, que agora nos querem impor como inevitáveis.

Mas um acordo entre o Bloco e o PCP não será suficiente para garantir uma maioria de esquerda para governar Portugal. Esses partidos têm somado 15-20% dos votos e não me parece que possam ir muito mais além. Não haverá nenhum governo de esquerda sem a participação do PS.

Mas, para que seja possível uma maioria e um governo de esquerda, o PS terá que fazer uma “cura de oposição”. Nas próximas eleições, uma votação no PS que tenha como resultado a sua participação no governo da troika não transformará esse governo num governo de esquerda, mas consolidará na direcção do PS o poder daqueles que têm arrastado o partido para a direita e nos conduziram à actual situação. Por outro lado, uma derrota clara do PS, pode abrir caminho à sua renovação e contribuir para a abertura de um diálogo frutuoso entre os diferentes partidos de esquerda.

As próximas eleições trarão a direita ao poder. Mas dessa derrota, podemos retirar as lições necessárias que nos permitam, finalmente, reunir forças para forjar um próximo governo de esquerda.

Que a derrota que hoje me parece inevitável possa contribuir para a vitória de amanhã!

Sem comentários:

Enviar um comentário