Quem são os novos eleitores do Bloco de Esquerda, o que pretendem e o que é que o Bloco lhes pode dar
O BE duplicou a sua votação numa eleição onde houve 60% de abstenções. É um resultado notável, mas que exige ponderação. Quem são os novos votantes do Bloco e que esperam do Partido?
1) São, maioritariamente, eleitores da área do PS.
2) Alguns não esperarão muito do BE, mas usaram-no como instrumento de um voto de protesto. Outros, na mesma lógica, preferiram o voto em branco. Muitos regressarão facilmente ao PS desde que este não insista em “manter o rumo” que foi traçado por Sócrates.
3) A maioria daqueles que alimentam expectativas positivas em relação ao Bloco espera dele não apenas denúncias justificadas, mas propostas concretas. Propostas capazes de congregar vontades e de se revelarem exequíveis. Propostas cuja aprovação tenha efeitos palpáveis na resolução dos seus problemas. A maioria dos novos eleitores que votaram BE quer aquilo que o PS lhes prometeu e não cumpriu. Tudo o que possa ser dito para além disto são análises de intenções não explicitadas, onde se confunde facilmente aquilo que a realidade é e aquilo que gostaríamos que fosse.
Com quase 400.000 eleitores, o BE é ainda um Partido pequeno. Tem-se reforçado no plano da organização e da militância, mas, a esse nível, está muito longe do PCP. Além disso, a sua implantação no plano sindical e autárquico é ainda incipiente. Há um longo caminho a percorrer nesses domínios.
A sua grande vantagem em relação aos comunistas está na ausência do quadro de dogmas ideológicos que encerram o PCP em si próprio, o impedem de retirar todas as lições do descalabro do “socialismo real”, o comprometem com um passado (e um presente: China, Coreia do Norte, etc.) com o qual ninguém se identifica e o transformam num corpo algo estranho no seio da sociedade contemporânea.
Na minha opinião, a “receita” para a consolidação destes resultados eleitorais e para o crescimento do BE passa, portanto, pelo pluralismo ideológico, pelo pragmatismo político e pelo reforço da organização.
Entretanto, conhecem-se já as linhas gerais da estratégia que vai ser seguida pelo Bloco. Diz Francisco Louçã (entrevista ao i, 12-6-09) que o BE nunca se coligará no governo com o PS. Manter-se-á na oposição, onde prosseguirá o diálogo já iniciado com os socialistas descontentes e independentes, procurando avançar na construção de uma “grande esquerda” que tentará afirmar-se como alternativa a médio ou a longo prazo. No curto prazo, segundo Miguel Portas, o Bloco viabilizará um governo minoritário PS, discutindo na Assembleia da República (aprovando ou reprovando) cada uma das suas propostas. Ao mesmo tempo, tomará as iniciativas legislativas que considere justas e oportunas, procurando congregar todos os apoios necessários em sua defesa. Como o fez, recentemente, em relação às reivindicações dos professores, ao fim das taxas moderadoras para cirurgias e internamente ou ao combate à corrupção, à evasão fiscal e ao enriquecimento ilícito. O “programa de governo” do BE, actualmente em discussão na internet e que estará concluído no fim do mês, servirá como documento guia para esta intervenção.
Análise fria e construtiva. Concordo quase na totalidade.
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