sexta-feira, 5 de junho de 2009

MASSACRE NA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL


Passaram-se hoje 20 anos sobre o massacre de milhares de pessoas (o governo da R. P. da China nunca quis especificar quantos) que se manifestavam a favor da Liberdade e da Democracia na Praça Tianamen. Não podemos esquecê-lo. Sobretudo nós, que nos reivindicamos da Esquerda, porque o Exército Vermelho afirma ter agido em defesa do “socialismo”. É preciso, por isso, que haja alguém que diga com toda a clareza que há uma Esquerda socialista que não vê no Partido Comunista da China um “partido irmão”, que defenderá, em qualquer circunstância a liberdade de manifestação e que não reconhece no capitalismo selvagem chinês nada que se assemelhe ao Socialismo.

Lenine afirmava que o proletariado, sendo uma classe objectivamente revolucionária, não o era subjectivamente. E que nunca adquiriria por si só a consciência da sua função histórica. A consciência de si como classe revolucionária só podia vir-lhe “de fora”, da acção política e ideológica promovida por um grupo de revolucionários profissionais organizados num Partido Comunista. Essa “vanguarda” assume-se como intérprete e representante do proletariado na medida em está informada por um pensamento que lhe oferece a “chave” que lhe permite compreender a história, o tempo e as sociedades. Se os trabalhadores não a seguem é porque se encontram ainda sob a influência da ideologia burguesa. E, portanto, uma vez no Poder, um Partido assim sente-se legitimado para, em nome do socialismo, reprimir o povo caso ele se desvie do caminho que a “vanguarda” lhe traçou.

Marx defendia que “a emancipação dos trabalhadores só pode ser obra dos próprios trabalhadores”. E Rosa Luxemburgo afirmava que apenas a escola da vida e das lutas permitiria aos trabalhadores prepararem-se para tomar nas suas próprias mãos o seu próprio destino. É claro que o povo não tem sempre razão, mas tem a faculdade de aprender com os seus próprios erros. Não há nenhuma vanguarda supostamente iluminada por verdades incontestáveis que se possa substituir aos trabalhadores. Não há “directivas” que dispensem esse por vezes doloroso processo de aprendizagem. E como, em última análise, ninguém tem a “chave” de coisa nenhuma, ninguém aprenderá nada quando se sufoca o direito à crítica taxando todas as opiniões divergentes de “reaccionárias” e reprimindo todos os movimentos de contestação aos poderes “socialistas” instituídos.

Nestes dias, o governo da RPC intensificou a repressão sobre todos os dissidentes, fechou a Praça de Tianamen e calou qualquer referência aos trágicos acontecimentos de 4 de Junho de 1989 nas redes sociais na Internet. Ainda assim, em Hong Kong, foi organizada uma vigília que reuniu cerca de 200.000 pessoas. Neste dia, é com elas que gostaríamos de estar.

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