segunda-feira, 29 de junho de 2009

Camarada Delgado
EU VIABILIZO, E TU?

Ainda que só agora “venha a terreiro” escrever “o que me vai na alma” a propósito do teu artigo: Eu viabilizo, tu viabilizas... (também eu o li) parece-me errado o teu ponto de vista. Errado porque parte de pressupostos errados. Vamos então por partes:

1.- Derrotar o PS é, não só retirar-lhe a maioria de governo, mas também retirá-lo do governo.
De facto tal resultado seria uma derrota estrondosa para o PS. Mas isso não seria também um mau presságio para o país? Pelo menos para o país que queremos construir: solidário em oposição com ao caritativo, com padrões e modelos de crescimento sociais, culturais e económicos sustentados no respeito pelos cidadãos e pelo meio ambiente (um sem o outro não fazem sentido), por uma sociedade que reparta entre todos em função do seu mérito em contra ponto com a distribuição por igual para todos, por um lado, ou em função do seu capital, por outro?
Também eu sou dos que pensam que um bom resultado para o BE e para o país nas próximas Legislativas passa por uma derrota do PS que os obrigue a formar um governo minoritário, ainda que coloque o BE na inevitabilidade de o viabilizar. Viabilizar não significa aprovar ou apoiar mas tão só obriga-los a governar nas condições que o voto em urna ditar, no caso em minoria. Uma derrota maior seria desastrosa pois colocaria no governo o PSD. Assim os próximos tempos traz-nos a obrigação de combater este governo PS mas também a obrigação de desmascarar a “alternativa PSD”. Sabemos bem que entre uns e outros não a alternativa mas alternância.

2.- A ingovernabilidade e o caos.
“Uma mentira dita muitas vezes não se transforma em verdade”, a frase não é minha ou original, mas não deixa de ser… verdadeira.
Não há qualquer relação entre governabilidade e governos de maioria. Importa dizer e escrever isto as vezes que for preciso, quanto mais vezes melhor.
A ingovernabilidade que possa advir de um governo minoritário não é problema nosso (BE). Não será demais lembrar que os dois partidos mais votados continuarão a ser o PS e o PSD. A eles deve ser assacada a responsabilidade de formar governo, e as modalidades são mais que muitas: governo minoritário do PS, governo minoritário do PSD, sozinhos, coligados com o CDS-PP ou ainda coligados entre si.
Insisto: a responsabilidade de formar governo, e um governo que se sustente, cabe ao ou aos partidos mais votados, e a sua hipotética incapacidade de o conseguir em nada onera os partidos que o voto popular elegeu para fazer oposição.

3.- A inevitabilidade de viabilizar.
Colocar a inevitabilidade de o BE viabilizar um eventual governo minoritário do PS não nos transforma num partido “domesticado e aceite no arco da boa governança” como escreves. Só uma leitura rápida e despreparada “levaria à inelutável conclusão de que só por tremendo oportunismo e traição ao voto popular seria possível a viabilização de um governo PS”. Viabilizar um governo nas circunstâncias exactas do resultado do plebiscito é antes de mais respeitar o sentido de voto dos portugueses. Se estes decidirem assim quem somos nós para decidir o contrário? Não confundas o cada vez maior apoio que o BE tem vindo a merecer por parte da população com a transformação do BE em partido maioritário. Por muito que cresçamos não iremos formar governo, nem em coligação (este ponto já foi suficientemente esclarecido, ver ultima convenção), menos ainda sozinhos. Estou confiante que lá chegaremos, mas não agora…

4.- Não viabilizar pode muito bem ser inviabilizar e provocar a sua queda.
Ninguém perceberia ou perdoaria que poucas semanas após as eleições o governo caísse. O Cruz Mendes lembra, e muito bem, o PRD, julgar que com o BE seria diferente é soberba.
Percebo que queiras emendar a mão com o argumento de que “o governo pode solicitar a aprovação de um voto de confiança ao seu programa. Viabilizar significa votar a favor ou optar pela abstenção”. Ou “não podemos viabilizar as políticas de Sócrates, por acção ou omissão”, ou ainda “não lês em nenhum lado no meu texto a defesa da apresentação de uma moção de rejeição, com o propósito de provocar a queda do governo e eleições antecipadas”. Nem é preciso, não viabilizar o governo é colocar em cima da mesa a possibilidade da sua queda. O que temos que fazer é obrigar o PS a governar em minoria, defendendo ponto a ponto o nosso ponto de vista e, se possível, trazer o governo às nossas posições. Um governo fragilizado aumenta as nossas possibilidades. É também por isso que, cada vez mais e em crescendo, nos confiam o seu voto: porque deixamos para trás o papel de uma força que só se opõe para sermos uma outra que também propõe. Em minha opinião, pior do que um que um governo minoritário PS, seria um de maioria absoluta, seja ele do PS ou do PSD-CDS.

Provocar a queda, ou deixar cair um governo minoritário semanas após a sua eleição é dar de barato que não é possível governar em minoria. Eis uma prenda que não estou disposto a dar... e tu?

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