AINDA O "APELO"
DOS 28 ECONOMISTAS
Já todos teremos lido o texto de vinte e oito economistas (entre eles vários ex-ministros) onde se apela a que se pare com os processos de adjudicação das grandes obras públicas (TGV, novo aeroporto, nova travessia sobre o Tejo, novas auto-estradas) para que a validade e a oportunidade do lançamento desses projectos seja repensada. A iniciativa vem na sequência das posições já há muito tomadas neste sentido pelo PSD e pelo PR. Parece-me que, perante esta proposta, só há duas respostas possíveis: Sim ou Não.
Francisco Louçã referiu-se ao dito “Apelo” denunciando as responsabilidades daqueles que o assinaram na condução da política económica das últimas décadas e, portanto, na situação em que nos encontramos hoje. Mas não encontrei nessa intervenção nenhuma resposta (Sim ou Não? E porquê?) à proposta que o “manifesto dos 28” veicula.
Resolvi, portanto, esperar por ela mais uns dias. E, entretanto, novos contributos foram aparecendo para alimentar o debate: refiro, nomeadamente, os de José Reis e de José M. Castro Caldas (Ladrões de Bicicletas), o de Carlos Santos (O valor das ideias) e o de Miguel Portas (Sem Muros).
Vou sintetizar brevemente as ideias fulcrais deste último. 1) os “28” arrogam-se de uma autoridade que não merecem; 2) o problema central da actual crise económica não é a dívida pública, mas o desemprego; 3) a questão “investimento público ou apoio às PMEs?” é um falso dilema; 4) surgido numa conjuntura pré-eleitoral, o “Apelo” é um manifesto político de apoio às posições que têm vindo a ser defendidas por Manuela Ferreira Leite.
Subscrevo sem problemas qualquer um destes pontos.
Neste documento, estará implícita uma política de “economia-restrição” ( ver José Reis) que, em nome da dívida, encara com desconfiança o investimento público em geral (ver José M. Castro Caldas). A isso, todos os economistas de inspiração keynesiana contrapõem a sua importância num momento de retracção do investimento privado, num contexto de crise da procura (ver Carlos Santos). Nada a opor.
Simplesmente, para além dos considerandos e das estratégias subjacentes ao “apelo dos 28”, há questões substantivas que continuam de pé. Não há forma de lhes fugir. Vão estar inevitavelmente presentes na próxima campanha eleitoral e, nessa altura, toda a gente nos vai exigir uma resposta clara. Parar o processo de adjudicação para reanálise da sua validade e oportunidade ou iniciar a construção das grandes obras públicas projectadas? Hic Rhodus, hic salta! ("Aqui é que é Rodes, aqui é que é preciso saltar!")
Sem comentários:
Enviar um comentário