segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O PS nas mãos do CDS-PP

O PS foi o partido mais votado e, por isso, ganhou as eleições. No entanto, perdeu cerca de 500.000 votos e a maioria absoluta. Sócrates vai ser, de novo, primeiro-ministro, mas terá de negociar acordos com os partidos da oposição de forma a garantir maiorias parlamentares. E, neste contexto, o CDS-PP assume uma posição privilegiada: os seus 21 deputados somados aos 98 já eleitos pelo PS (falta saber os resultados dos círculos da emigração) são suficientes para garantir uma maioria, enquanto que para que de forme uma maioria de esquerda o PS terá que se entender com o BE mais a CDU.

Sócrates vai ceder à tentação de privilegiar acordos à direita? Em matérias fundamentais como a Educação, a Saúde e a Segurança Social, não me admiraria que José Sócrates e Paulo Portas descobrissem possibilidades de entendimento. E, afinal, o Código do Trabalho de Bagão Félix não é pior do que o de Vieira da Silva. Os partidos de esquerda só serão decisivos nas chamadas “questões fracturantes” (eutanásia, casamento de homossexuais…) e, mesmo nestas matérias, se verá se a dependência do PS face ao CDS-PP, não vai obrigar Sócrates a meter algumas promessas na gaveta.

Passo em revista algumas das propostas do BE recusadas pelo PS na anterior legislatura: 1) Proibição de despedimentos colectivos em empresas lucrativas. 2) Direito à reforma por inteiro após 40 anos de descontos. 3) Alargamento do direito ao subsídio de desemprego. 3) Aumento do salário mínimo para 600 euros no prazo de dois anos. 4) Convergência das pensões de reforma mais baixas com o salário mínimo. 5) Limite de 1 ano para contratos a prazo. 6) Nacionalização da maioria do capital da Galp e da EDP. 6) Intervenção da CGD no sentido de baixar as taxas de juro sobre o crédito. 7) Imposto sobre as grandes fortunas. 8) Redução do horário de trabalho para 35 horas.

Em face da actual composição da Assembleia da República, nenhuma destas medidas será aceite pelo próximo governo. A eventual possibilidade de obter do PS algumas cedências nestes domínios, caso o PS ficasse na dependência do BE para alcançar maiorias parlamentares que lhe permitissem governar, ficou anulada.

O discurso “de esquerda” de Sócrates na campanha eleitoral já deu os resultados que dele se esperavam: a derrota do PSD e uma relativa contenção da subida do BE. Uma vez garantida a reeleição, será retomado, no essencial, o rumo prosseguido pelo anterior governo.

O Bloco teve mais 200.00 votos do que nas anteriores legislativas e duplicou o número de deputados eleitos: mais de meio milhão de eleitores e 16 deputados. Além disso, afirmou-se como partido nacional elegendo pela primeira vez deputados em Braga, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém e Faro. São resultados, sem dúvida, muito animadores para todos os bloquistas.

E, no entanto, estamos perante uma situação em que o reforço do BE não se traduzirá necessariamente num reforço da influência da esquerda na governação do país. Pelo contrário, o CDS-PP está em condições de assumir um papel determinante e, em face disso, é muito provável que assistamos ao reforço das posições da direita. Como reagirão a isso aqueles que, no PS, têm assumido posições mais à esquerda, mas que apelaram ao “voto útil” em Sócrates?

Uma última palavra para os partidos que sairam mais fragilizados destas eleições. No PSD, Manuela Ferreira Leite não sobrevirá à derrota do PSD, mas ainda é cedo para adivinhar quem se lhe seguirá. Ver-se-á depois das autárquicas. No PCP, perante a ameaça da estanação, volta a fazer-se sentir a urgência de uma mudança. Contudo, incluir “mudança” e “PCP” na mesma frase implica uma contradição entre os termos…

3 comentários:

  1. Sem dúvida, uma leitura objectiva, nua e crua destes resultados. O populismo de Portas rendeu-lhe uma influência política notável e concordo que a aproximação PS/CDS é, infelizmente, uma possibilidade real. Vistas as coisas desta forma, o panorama é negro.
    No entanto, o que eu queria salientar do teu texto é esta pergunta: "Como reagirão a isso aqueles que, no PS, têm assumido posições mais à esquerda, mas que apelaram ao “voto útil” em Sócrates?". Mais uma vez, estes senhores terão de endireitar a coluna vertebral, depois de a terem completamente "derreado" na fase final da campanha de Sócrates? E o que dizer das centenas de milhares de votantes em Sócrates que ainda se orgulham de serem de esquerda?
    Numa palavra, o que será deste PS, que de desvirtuado poderá passar a completamente descaracterizado por uma aproximação à direita mais conservadora?

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  2. O Bloco terá que se empenhar ainda mais em dar visibilidade às suas propostas económicas e sociais,criar uma imagem de responsabilidade evitando cair em demagogias e contradições, e quanto aos votantes do PS que se dizem de esquerda é difícil a mudança porque isto se pode comparar com a crença religiosa: por mais decepções que sofram arranjam sempre justificação para os actos ou omissões, ou contradições do seus líderes.

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  3. Pois é, caro Zé!

    Felicite-se a subida do Bloco e do CDS, independentemente dos mais amores ou mais desamores que cada um desses partidos suscite; e quem diz amores diz simpatia ou antipatia. Não fosse a determinação crítica dessas duas forças políticas - não sei bem por quê, mas não me apetece agora dizer partidos -,e lá teríamos o dito engenheiro emplumado com uma maioria perigosamente mais ampla.
    Agora, o que se segue, logo se verá. E o "logo se verá" refere-se ao BE, ao CDS e ao PSD. Deixo de fora o PCP e o Sócrates, pois, quanto a estes, temos falado: agirão como sempre.
    Assisti à prestação televisiva do Pedro Soares, deputado do BE, eleito por Braga. Gostei. Será que Braga vai ter finalmente um deputado? Assim o espero.
    Ao felicitar o Bloco, estou a felicitar-te a ti, Zé. Espero que não leves a mal. Mas nada de euforias ou precipitações.
    Um abraço.
    António Mota

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