Por que não é possível uma coligação PS-BE?
Alfredo Barroso e Ana Gomes já se pronunciaram a favor de uma coligação PS-BE. Depois deles, Mário Soares veio dizer que uma tal solução governativa não lhe repugnava. E, provavelmente, muitos outros militantes do PS pensarão da mesma maneira. Contudo, Francisco Louçã já afirmou, e por mais de uma vez, que essa coligação não é possível.
Na minha opinião não o é de facto. Sem pretender ser exaustivo, alinho aqui algumas das razões que inviabilizam uma coligação do PS com o Bloco de Esquerda:
1) O PS, no governo, prosseguiu e aprofundou uma política de privatização de monopólios naturais com uma importância económica estratégica – e o BE foi contra;
2) aprovou o actual Código de Trabalho, ainda mais gravoso para os trabalhadores que o código Bagão Félix, aprovado pela maioria PSD/CDS – e o BE foi contra;
3) defendeu que a sustentabilidade futura da segurança social só seria possível com o aumento da idade da reforma e a diminuição do valor das pensões – e o BE foi contra;
4) apoiou o governo de José Sócrates quando este prosseguiu a política de entrega da gestão de hospitais públicos a empresas privadas, iniciada pelos governos anteriores PSD/CDS – e o BE foi contra;
5) promoveu uma política de desqualificação da escola pública, levada a cabo pelo governo cessante (contra a oposição da quase totalidade dos professores) – e o BE foi contra.
E, ainda, porque logo depois da estrondosa derrota eleitoral sofrida nas europeias, José Sócrates afirmou que o PS iria manter este “rumo” – e, desta vez, nada me permite duvidar da sua sinceridade.
Contudo, um governo PS sem maioria absoluta, terá que procurar apoios na Assembleia da República.
Para rever o Código de Trabalho, alargar o direito ao subsídio de desemprego e aumentar o salário mínimo, para garantir reformas sem penalização ao fim de 40 anos de trabalho e o aumento das reformas mais baixas, para acabar com as taxas moderadoras para cirurgias e internamentos, com o estrangulamento financeiro do ensino superior e com a “guerra” contra os professores do ensino básico e secundário, para tomar medidas efectivas contra a corrupção, o enriquecimento ilícito e a fraude fiscal – para tudo isto (e, mais uma vez, não pretendo ser exaustivo) não lhe faltarão com certeza apoios à esquerda que lhe garantam maiorias parlamentares.
Preferirá o PS procurar apoios à direita e ceder a um “caderno reivindicativo” diferente? Todas as sondagens de opinião recentemente publicadas permitem prever que, a próxima Assembleia da República, haverá uma maioria PS-BE-CDU. O fim da maioria absoluta que apoiou o governo de José Sócrates, o crescimento previsível do BE e o facto do PSD e do CDS-PP permanecerem em minoria, só pode significar que a maioria dos eleitores rejeita uma governação à direita.
Também não me parece que desejem eleições antecipadas daqui a dois anos, até porque, nessa altura, comprovada a impossibilidade de entendimentos à esquerda e em nome da governabilidade, uma nova AD beneficiaria de claro favoritismo. A partir daqui, cada um dos diferentes partidos da esquerda terá que assumir as suas responsabilidades.
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