Esta questão já me foi colocada por vários amigos, antes e depois do debate Jerónimo/Louçã.
Deve dizer, antes de mais, que compreendo o “pacto de não-agressão” que parece ter estado implícito no referido “debate”. A rivalidade entre o BE e a CDU é perfeitamente secundária em face da sua oposição comum ao governo Sócrates e à alternativa Ferreira Leite. Neste contexto, fazer incidir o foco da crítica naquilo que os divide seria desviar a atenção do essencial para sublinhar aquilo que, no curto prazo, é secundário.
Contudo, o período eleitoral não justifica que eu possa deixar aqueles que me interrogam sem resposta. Por que é que estou no Bloco e não estou (nem nunca quis estar) no PCP? Afinal o que é que os distingue?
1º) O PCP tem uma doutrina oficial, o marxismo-leninismo. No Bloco coexistem diferentes correntes marxistas e há quem não seja marxista, leninista ou trotskista.
2º) A disciplina interna do PCP obedece ao chamado “centralismo democrático”, o que significa que as decisões assumidas pela direcção do Partido não podem ser contestadas publicamente. Aliás, mesmo internamente, em regra, as críticas traduzem-se na marginalização dos críticos. No Bloco, existem diferentes correntes e tendências organizadas, com liberdade para debater e divulgar as suas posições particulares. A Mesa Nacional é formada por aderentes de todas as tendências, representadas na proporção directa dos votos obtidos em votação secreta na Convenção Nacional.
3º) O PCP vê-se como a “vanguarda da classe operária”, julga-se predestinado a guiar o povo na sua marcha para o Socialismo e convive com dificuldade com todos aqueles que aceitem relutantemente o seu papel dirigente. O Bloco considera-se parte integrante de uma esquerda plural, onde têm lugar outros partidos, organizações e movimentos sociais.
4º) O PCP tem uma história de apoio sistemático à antiga União Soviética, inclusive na época em que o PCUS foi dirigido por Estaline. Em 1968, apoiou a invasão da Checoslováquia pelas forças do Pacto de Varsóvia. Nunca fez nenhuma autocrítica das posições então assumidas e nunca realizou um balanço crítico consistente das experiências do chamado “socialismo real”. Pelo contrário, mantém relações “fraternais” com os partidos comunistas no poder na R.P. da China, da Coreia do Norte, de Cuba, etc. O Bloco considera que o Socialismo e a Democracia são valores indissociáveis e, consequentemente, assume uma posição crítica em relação a esses regimes.
Pela minha parte, não obedeço a dogmas inquestionáveis nem estou disposto a aceitar o princípio da infalibilidade dos “chefes”. Liberdade, pluralismo, democracia são para mim valores fundamentais. Por isso, nunca fui do PCP e só estarei no Bloco enquanto eles permanecerem vivos no seu seio.
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