sábado, 24 de março de 2012

Acerca da greve geral de 22 de Março

Nem neste blogue nem no meu mural do facebook, participei do coro geral que apelava à greve de 22 de Março. Também não me pronunciei contra a sua realização, por não querer de forma alguma contribuir para o seu fracasso. Agora que a poeira já assentou, permito-me dizer o que penso sobre o assunto.

Arménio Carlos afirmou que os níveis de adesão à greve não foram muito diferentes daqueles que se verificaram em graves anteriores. Quereria, talvez, dizer com isto que a adesão ou não da UGT é um factor irrelevante para o sucesso de uma greve geral. E, portanto, reafirmar o lugar da CGTP como a central sindical que verdadeiramente representa os trabalhadores. Se era essa a intenção, e se por acaso, não se enganou nos números, então a CGTP demonstrou o que queria demonstrar e pode estar satisfeita por isso..

Mas é possível ver as coisas por outro prisma. Na minha opinião, esta greve só teria um impacto político significativo se tivesse sido muito mais participada do que as anteriores. Sendo, simplesmente, "mais do mesmo" (como reconheceu Arménio Carlos) não me parece que se possa esperar dela resultados diferentes daqueles que já se conhecem das anteriores. E que, convenhamos, não foram famosos.

Aliás, é preciso reconhecer que estas greves não têm sido, de facto, “gerais”. Afectam, sobretudo empresas e serviços públicos e, em particular, os transportes. De uma maneira geral, muitos trabalhadores (muitas vezes, por medo das represálias dos patrões, outras porque não lhes reconhecem eficácia, outras ainda por trabalharem em pequenas e micro empresas onde a proximidade da sua relação com o patrão não favorece este tipo de confrontos) não têm participado nestas jornadas de luta.

Nestas circunstâncias, será correcto desgastar o seu sector mais combativo com greves sucessivas (a penúltima foi há quatro meses) apenas com o intuito de “marcar posição”, sem que haja qualquer expectativa de resultados práticos?

Há uma pergunta que tem que ser feita: quando Jerónimo de Sousa fala da greve como um “investimento para o futuro”, não estará a pensar na votação da CDU nas próximas eleições legislativas? Se conseguirem eleger mais dois ou três deputados, então o investimento terá tido uma boa rentabilidade?

O PCP pensa nos 10% de eleitores que considera “seus” e que quer conservar. Se possível, gostaria de ver aumentar essa percentagem em 2 ou 3 pontos, chamando a si, por exemplo, os “indignados” que se têm abstido. Mas quem quiser derrotar Passos Coelho tem de pensar na maioria da população, que se tem mantido alheada destas formas de luta.

Há razões que justifiquem a revolta popular? Sem dúvida. As leis laborais que vão ser votadas na AR são inadmissíveis? Com certeza. E “só é vencido quem desiste de lutar” – como se lê a todo o momento nos murais do facebook? É verdade.

Mas nada disso nos dispensa de adoptarmos as formas de luta mais convenientes, de acordo com as nossas forças e o nossos objectivos.

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