sábado, 9 de março de 2013



Um sistema político bloqueado?

O governo já não tem a confiança dos portugueses. São evidentes sinais de um sentimento difuso de revolta entre os jovens e os reformados, entre trabalhadores, desempregados e empresários, entre pessoas tradicionalmente “de esquerda” e outras mais conservadoras. É muito provável que este sentimento continue a crescer. O anunciado corte de 4 mil milhões de euros na saúde, na educação e nas reformas faz-nos antever o pior. E as mais recentes declarações de Passos Coelho acerca das vantagens que se obteriam com a descida do salário mínimo em termos de combate ao desemprego mostram que a cegueira ideológica do governo continuará a impeli-lo no caminho do desastre. Apesar de tudo, não podemos descartar a hipótese da coligação PSD-CDS, contra tudo e contra todos, continuar no poder até ao fim da legislatura.

Por um lado, o PR não tem a intenção de dissolver um Parlamento cuja composição já não reflecte a vontade dos eleitores. Por outro, o CDS não dá sinais de querer romper a coligação, mas procura sobreviver assumindo junto do eleitorado o papel do “polícia bom”, não assumindo as suas responsabilidades perante a aprovação das medidas mais impopulares, embora permaneça no governo que as executa. E, por fim, os portugueses não quererão acrescentar à actual crise económica uma situação de instabilidade política resultante da formação de um governo com um apoio minoritário na Assembleia da República.

A única solução que nos permitiria sair deste impasse passa pela hipótese de formação de uma coligação de esquerda, que contaria com o apoio de uma maioria parlamentar em torno de um programa mínimo fundado sobre a renegociação dos termos de pagamento da dívida pública, de um conjunto de medidas favoráveis ao crescimento económico e da defesa do Estado Social. Contudo, nenhum partido de esquerda tem manifestado uma vontade séria de trabalhar neste sentido.

Assim, depois das grandes manifestações de descontentamento e revolta de 15 de Setembro e de 2 de Março, as sondagens de opinião que têm sido publicadas apenas nos dão conta desta situação de impasse.

Segundo o barómetro da Eurosondagem agora divulgado pela SIC e pelo Expresso, se as eleições se realizassem hoje, apesar de fortemente penalizados pelo eleitorado, o PSD (27%) e o CDS (9%), em conjunto, teriam a maioria dos votos. O PS (35,2%) seria o partido mais votado, mas ficaria longe da maioria absoluta. A CDU (12,1%) e o BE (8%), em conjunto teriam cerca de 20% dos votos, o que é assinalável. Porém, dada a sua recusa em chegar a um entendimento com o PS, continuariam remetidos a uma função de “partidos de protesto”.

Ou seja, uma eventual queda de um governo cuja taxa de popularidade, segundo a actual sondagem se reduz a 19,6% de opiniões positivas contra 43,2% de opiniões negativas, não se traduziria necessariamente em políticas alternativas.

Nestas circunstâncias, acentua-se o risco de do populismo anti-partidos que favorecerá sempre o aparecimento de um candidato a Bonaparte que, à margem da democracia, apareça para “pôr a casa em ordem”. Neste momento, o sectarismo das esquerdas pode ter custos económicos, sociais e políticos muito elevados. A história julgará os seus responsáveis.

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