Um
sistema político bloqueado?
O governo já não tem a confiança dos
portugueses. São evidentes sinais de um sentimento difuso de revolta entre os
jovens e os reformados, entre trabalhadores, desempregados e empresários, entre
pessoas tradicionalmente “de esquerda” e outras mais conservadoras. É muito
provável que este sentimento continue a crescer. O anunciado corte de 4 mil
milhões de euros na saúde, na educação e nas reformas faz-nos antever o pior. E
as mais recentes declarações de Passos Coelho acerca das vantagens que se
obteriam com a descida do salário mínimo em termos de combate ao desemprego mostram
que a cegueira ideológica do governo continuará a impeli-lo no caminho do
desastre. Apesar de tudo, não podemos descartar a hipótese da coligação PSD-CDS,
contra tudo e contra todos, continuar no poder até ao fim da legislatura.
Por um lado, o PR não tem a intenção
de dissolver um Parlamento cuja composição já não reflecte a vontade dos
eleitores. Por outro, o CDS não dá sinais de querer romper a coligação, mas
procura sobreviver assumindo junto do eleitorado o papel do “polícia bom”, não
assumindo as suas responsabilidades perante a aprovação das medidas mais
impopulares, embora permaneça no governo que as executa. E, por fim, os
portugueses não quererão acrescentar à actual crise económica uma situação de
instabilidade política resultante da formação de um governo com um apoio
minoritário na Assembleia da República.
A única solução que nos permitiria
sair deste impasse passa pela hipótese de formação de uma coligação de
esquerda, que contaria com o apoio de uma maioria parlamentar em torno de um programa
mínimo fundado sobre a renegociação dos termos de pagamento da dívida pública,
de um conjunto de medidas favoráveis ao crescimento económico e da defesa do
Estado Social. Contudo, nenhum partido de esquerda tem manifestado uma vontade
séria de trabalhar neste sentido.
Assim, depois das grandes
manifestações de descontentamento e revolta de 15 de Setembro e de 2 de Março,
as sondagens de opinião que têm sido publicadas apenas nos dão conta desta
situação de impasse.
Segundo o barómetro da Eurosondagem
agora divulgado pela SIC e pelo Expresso, se as eleições se realizassem hoje, apesar
de fortemente penalizados pelo eleitorado, o PSD (27%) e o CDS (9%), em
conjunto, teriam a maioria dos votos. O PS (35,2%) seria o partido mais votado,
mas ficaria longe da maioria absoluta. A CDU (12,1%) e o BE (8%), em conjunto
teriam cerca de 20% dos votos, o que é assinalável. Porém, dada a sua recusa em
chegar a um entendimento com o PS, continuariam remetidos a uma função de
“partidos de protesto”.
Ou seja, uma eventual queda de um
governo cuja taxa de popularidade, segundo a actual sondagem se reduz a 19,6%
de opiniões positivas contra 43,2% de opiniões negativas, não se traduziria
necessariamente em políticas alternativas.
Nestas circunstâncias, acentua-se o
risco de do populismo anti-partidos que favorecerá sempre o aparecimento de um
candidato a Bonaparte que, à margem da democracia, apareça para “pôr a casa em
ordem”. Neste momento, o sectarismo das esquerdas pode ter custos económicos,
sociais e políticos muito elevados. A história julgará os seus responsáveis.
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