Eleições
autárquicas e unidade das esquerdas
O PS enviou uma carta ao PCP e ao BE
com o propósito de saber a sua disponibilidade para a apresentação de lista
conjuntas nas próximas eleições autárquicas. Não sei se se trata de uma
proposta convicta de unidade ou de um simples acto de propaganda. Entretanto,
parece-me interessante olhar para as reacções dos partidos interpelados.
O PCP não está interessado. Segundo
Jerónimo de Sousa, o que importa é a unidade na luta. Ou seja, o PCP só estaria
disponível para listas conjuntas com o PS em Fornos de Algodres, se o PS
passasse a mobilizar os seus militantes para as manifestações que a CGTP
organiza em Lisboa. Ou então, o PCP admitiria a hipótese de uma candidatura
conjunta em Freixo de Espada à Cinta, caso o PS tivesse votado a favor da moção
de censura que o PCP apresentou na AR no passado mês de Outubro. Assim, não.
Quanto ao Bloco, reuniu com o PS em
Dezembro passado para lhe comunicar formalmente as decisões da última Convenção.
Ora, admitiu-se aí a hipótese de apresentação de listas conjuntas da esquerda às
autarquias desde que o PCP quisesse integrar essas coligações. Ou seja, o Bloco
está disponível para se aliar ao PS, mas só se o PCP deixar. E, pelos vistos, não
deixa. Veio agora João Semedo dizer que o convite do PS chegou tarde. Como
assim? Do ponto de vista do Bloco, desconhecem-se os programas e os cabeças de
lista propostos. E, do ponto de vista do PCP (a quem, como vimos se atribuiu um
poder de veto), a recusa não se prende essencialmente com o calendário.
Os partidos de esquerda têm sido
sujeitos a uma evidente pressão popular no sentido de conjugarem esforços
contra a unidade da direita. Conjugarem forças para infligir uma grande derrota
ao PSD e ao CDS nas próximas eleições autárquicas seria dar um passo muito
importante no sentido do derrube do governo. Por outro lado, se não forem
capazes de se entender nas próximas eleições autárquicas, como o poderão fazer
para criar uma alternativa à maioria PSD-CDS em próximas legislativas? O
sectarismo à esquerda será sempre uma vitória da direita.
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