quarta-feira, 13 de março de 2013



Eleições autárquicas e unidade das esquerdas

O PS enviou uma carta ao PCP e ao BE com o propósito de saber a sua disponibilidade para a apresentação de lista conjuntas nas próximas eleições autárquicas. Não sei se se trata de uma proposta convicta de unidade ou de um simples acto de propaganda. Entretanto, parece-me interessante olhar para as reacções dos partidos interpelados.

O PCP não está interessado. Segundo Jerónimo de Sousa, o que importa é a unidade na luta. Ou seja, o PCP só estaria disponível para listas conjuntas com o PS em Fornos de Algodres, se o PS passasse a mobilizar os seus militantes para as manifestações que a CGTP organiza em Lisboa. Ou então, o PCP admitiria a hipótese de uma candidatura conjunta em Freixo de Espada à Cinta, caso o PS tivesse votado a favor da moção de censura que o PCP apresentou na AR no passado mês de Outubro. Assim, não.

Quanto ao Bloco, reuniu com o PS em Dezembro passado para lhe comunicar formalmente as decisões da última Convenção. Ora, admitiu-se aí a hipótese de apresentação de listas conjuntas da esquerda às autarquias desde que o PCP quisesse integrar essas coligações. Ou seja, o Bloco está disponível para se aliar ao PS, mas só se o PCP deixar. E, pelos vistos, não deixa. Veio agora João Semedo dizer que o convite do PS chegou tarde. Como assim? Do ponto de vista do Bloco, desconhecem-se os programas e os cabeças de lista propostos. E, do ponto de vista do PCP (a quem, como vimos se atribuiu um poder de veto), a recusa não se prende essencialmente com o calendário.

Os partidos de esquerda têm sido sujeitos a uma evidente pressão popular no sentido de conjugarem esforços contra a unidade da direita. Conjugarem forças para infligir uma grande derrota ao PSD e ao CDS nas próximas eleições autárquicas seria dar um passo muito importante no sentido do derrube do governo. Por outro lado, se não forem capazes de se entender nas próximas eleições autárquicas, como o poderão fazer para criar uma alternativa à maioria PSD-CDS em próximas legislativas? O sectarismo à esquerda será sempre uma vitória da direita.

Regressamos à questão inicial. A proposta de unidade do PS é feita de boa fé ou é um simples actos de propaganda? Só há uma maneira de saber. Em cada concelhia, os representantes locais do PS e do BE (o PCP, inevitavelmente, coligar-se-á consigo mesmo na CDU), devem sentar-se à mesa para discutir programas e listas de candidatos. Haverá concelhos onde a unidade será impossível. Mas, se isso se verificar em cada um dos 308 existentes em Portugal, os eleitores vão querer saber porquê e vão tirar daí as necessárias ilações.

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