quinta-feira, 21 de março de 2013



O que é que eu sei sobre a crise no Chipre?

1.  1. O sector financeiro encontrava-se extraordinariamente sobredimensionado em relação ao conjunto da economia cipriota (representa mais de sete vezes o valor do PIB).

2.    2. Tal facto deve-se ao facto do Chipre se ter convertido num paraíso fiscal (sigilo bancário, cargas fiscais reduzidíssimas, etc.). A oligarquia russa e ucraniana detém aí depósitos no valor de milhares de milhões de euros.

     3. Os bancos do Chipre procuraram multiplicar os seus lucros adquirindo grandes quantidades de títulos da dívida pública grega.

4.   4.  O perdão de 50% da dívida grega aos investidores privados, acordado com a Troika, deixou os bancos cipriotas numa situação de insolvência.

5.    5. A sua previsível falência arrastaria consigo o Estado, que se encontra, portanto, próximo de uma situação de bancarrota.

6.   6. A Troika impôs ao governo do Chipre, como condição de um resgate financeiro, a aplicação de um imposto extraordinário sobre os depósitos bancários, equivalente a mais de metade do dinheiro emprestado (5,8 mil milhões de euros em 10 mil milhões).

7.  7.  Para não afugentar os grandes depositantes (isto é, para assegurar a continuidade do seu estatuto de paraíso fiscal) o governo cipriota, resolveu que esse imposto não deveria taxar exclusivamente (e maximamente) os depósitos mais vultuosos, mas deveria ser distribuído por toda a gente (inclusive pelos pequenos aforradores), segundo um critério de 6,75% para os depósitos abaixo dos 100 mil euros e 9,9% para aqueles que estivessem acima desse valor.

8.   8. A revolta da população, as evidentes manifestações de desagrado de Moscovo e a reacção negativa que imediatamente se fez sentir nos mercados financeiros internacionais perante esta medida de autêntica expropriação de capitais privados, fez com que o Parlamento grego (onde, aliás, o partido do governo não dispõe de uma maioria absoluta) a rejeitasse.

9. 9. Perante, esta situação o governo cipriota voltou-se para a Rússia, que poderá estar na disposição de conceder um empréstimo ao Chipre em troca da concessão da exploração das reservas de gás natural descobertas nas suas águas territoriais.

1   10. Estes factos, diz-se, deixaram a chanceler Angela Merkl muito próximo de um ataque de fúria. Chipre arrisca-se a ser corrido da zona euro (e, portanto, a ter de emitir uma moeda própria, desvalorizadíssima).
 
1   11. Nos últimos cinco anos, a ilha de Chipre foi governada por um governo formado pelo Partido Comunista, derrotado nas últimas eleições por um partido da direita. Pergunta-se: qual é o poder efectivo das instituições políticas eleitas, nomeadamente num pequeno país, perante o poder real da alta finança e das grandes potências internacionais? Que peso tem a opinião dos cidadãos cipriotas na escolha do futuro do seu país? Onde pára a democracia?

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