O
que é que eu sei sobre a crise no Chipre?
1. 1.
O
sector financeiro encontrava-se extraordinariamente sobredimensionado em
relação ao conjunto da economia cipriota (representa mais de sete vezes o valor
do PIB).
2.
2. Tal
facto deve-se ao facto do Chipre se ter convertido num paraíso fiscal (sigilo
bancário, cargas fiscais reduzidíssimas, etc.). A oligarquia russa e ucraniana detém
aí depósitos no valor de milhares de milhões de euros.
3. Os
bancos do Chipre procuraram multiplicar os seus lucros adquirindo grandes
quantidades de títulos da dívida pública grega.
4. 4.
O
perdão de 50% da dívida grega aos investidores privados, acordado com a Troika,
deixou os bancos cipriotas numa situação de insolvência.
5.
5. A
sua previsível falência arrastaria consigo o Estado, que se encontra, portanto,
próximo de uma situação de bancarrota.
6. 6. A
Troika impôs ao governo do Chipre, como condição de um resgate financeiro, a
aplicação de um imposto extraordinário sobre os depósitos bancários,
equivalente a mais de metade do dinheiro emprestado (5,8 mil milhões de euros
em 10 mil milhões).
7. 7.
Para
não afugentar os grandes depositantes (isto é, para assegurar a continuidade do
seu estatuto de paraíso fiscal) o governo cipriota, resolveu que esse imposto
não deveria taxar exclusivamente (e maximamente) os depósitos mais vultuosos,
mas deveria ser distribuído por toda a gente (inclusive pelos pequenos
aforradores), segundo um critério de 6,75% para os depósitos abaixo dos 100 mil
euros e 9,9% para aqueles que estivessem acima desse valor.
8. 8. A
revolta da população, as evidentes manifestações de desagrado de Moscovo e a
reacção negativa que imediatamente se fez sentir nos mercados financeiros
internacionais perante esta medida de autêntica expropriação de capitais
privados, fez com que o Parlamento grego (onde, aliás, o partido do governo não
dispõe de uma maioria absoluta) a rejeitasse.
9. 9. Perante,
esta situação o governo cipriota voltou-se para a Rússia, que poderá estar na
disposição de conceder um empréstimo ao Chipre em troca da concessão da
exploração das reservas de gás natural descobertas nas suas águas territoriais.
1 10. Estes factos, diz-se, deixaram a chanceler
Angela Merkl muito próximo de um ataque de fúria. Chipre arrisca-se a ser
corrido da zona euro (e, portanto, a ter de emitir uma moeda própria,
desvalorizadíssima).
1 11. Nos últimos cinco anos, a ilha de Chipre foi
governada por um governo formado pelo Partido Comunista, derrotado nas últimas
eleições por um partido da direita. Pergunta-se: qual é o poder efectivo das
instituições políticas eleitas, nomeadamente num pequeno país, perante o poder
real da alta finança e das grandes potências internacionais? Que peso tem a
opinião dos cidadãos cipriotas na escolha do futuro do seu país? Onde pára a
democracia?
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