terça-feira, 27 de julho de 2010

O que significa ser de direita?

Há várias razões para ser de direita, mas, quase sempre, redundam numa posição conservadora: há ricos e pobres, poderosos e fracos, líderes e seguidores, mas as coisas são como são, sempre foram assim, é inútil e mesmo perverso pensar que possam ser doutra maneira.

Há pessoas que ocupam um lugar privilegiado na sociedade, o mesmo que era já ocupado pelos seus pais, pelos seus avós, etc. Quem pertence a uma dinastia de privilegiados sente o privilégio (e recorde-se que, numa sociedade capitalista, ele aparece sempre associado ao dinheiro) como um dom natural. E, portanto, pô-lo em causa é um acto contra-natura. Para estes direitistas, ser de esquerda só pode ser fruto da loucura. Um tipo sensato, bem formado, enfim, um sujeito normal, só pode ser de direita.

Há também quem seja de direita e “venha de baixo”, quem tenha “subido a pulso”. Estes apresentam outras razões para o seu direitismo. Por um lado, têm medo que a esquerda lhes subtraia aquilo que tanto lhes custou a conquistar, vivem no pânico de regressar às suas origens. Além disso, pensam que se conseguiram chegar onde chegaram, então qualquer um pode fazer o mesmo. Se não o fizerem será por preguiça, por desleixo, por intemperança – por estupidez. A pobreza é a pena justa que se paga por estes pecados. Pode acontecer que a crueza deste raciocínio seja temperada pela caridade. Aquilo que é intolerável é que os pecadores se assumam “de esquerda”, quer dizer, que, movidos pela inveja, se tornem ávidos dos bens que os justos foram capazes de reunir esforçadamente. Então, há que impedir que aquilo que revela da mais elementar justiça seja subvertido.

Há ainda quem seja de direita e seja “de baixo”. São aqueles que consideram que a única forma de melhorar as suas condições de existência depende da possibilidade de conquistar o favor dos poderosos. Não estão de todo enganados porque nenhuma elite social pode conservar o poder político sem o apoio da massa. E, portanto, os poderosos estão sempre dispostos a lançar alguns restos do seu banquete àqueles que os defendam. Os direitistas “de baixo” não só se contentam com isso, como se opõem a qualquer revolução social com medo de perder essas migalhas.

A relação entre estas classes sociais não está isenta de desconfiança. Há “famílias tradicionais” economicamente decadentes, saudosas de faustos passados que vivem humilhadas pelas necessidades presentes e famílias de “novos-ricos” que continuam a transportar consigo tiques comportamentais que denunciam a sua origem social. A convivência entre elas é muitas vezes assinalada por notas onde a inveja se mistura com o desprezo. Quanto aos “de baixo”, serão tanto mais queridos quanto mais respeitadores, obedientes e prestáveis, mas penalizados se não souberem “manter-se no seu lugar”,

Contudo, todos os direitistas, uns em nome dos privilégios naturalmente recebidos, outros em nome dos privilégios esforçadamente adquiridos, outros, ainda, em defesa dos pequenos ou grandes favores que souberam merecer dos poderosos, são defensores da Ordem. Ou seja, todos são contra todas as movimentações políticas e sociais que questionem a própria existência de privilegiados. Neste sentido, pode dizer-se que toda a direita é reaccionária.

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