quarta-feira, 2 de junho de 2010

Mário Soares e as eleições para a Presidência da República

Demarcando-se da decisão do PS de apoiar a candidatura de Manuel Alegre, Mário Soares resolveu trilhar caminhos que já tinha percorrido em 1980.

Disputavam a Presidência da República Ramalho Eanes e Soares Carneiro. O governo estava, então nas mãos da Aliança Democrática (PPD + CDS + PPM) e era apoiado por uma maioria absoluta na AR. Sá Carneiro tinha fixado como objectivo conseguir um governo, uma maioria e um Presidente. Faltava-lhe apenas este último passo para alcançar os seus propósitos. Ramalho Eanes era o último obstáculo a vencer. E, reconhecendo-o, o PS declarou-lhe o seu apoio e o PCP desistiu à boca das urnas da candidatura de Carlos Brito para apelar ao voto no único candidato que se mostrava capaz de vencer o candidato da AD.

Contudo, Mário Soares, que era então o secretário-geral do PS, manifestou-se contra a decisão do seu partido. Ainda hoje, não se sabe em quem teria votado. Talvez em Pires Veloso que obteria 0,8% dos votos. Do que não há dúvida é que se tivesse conseguido arrastar consigo uma parte significativa do PS, a vitória nas presidenciais de 1980 talvez tivesse sorrido a Soares Carneiro e à Aliança Democrática. Por outro lado, derrotando Ramalho Eanes, ajustaria contas antigas com o Presidente da República cessante. Não resultou e ainda bem.

Há, com certeza, ingredientes diferentes nestas duas histórias. Manuel Alegre é militante do PS e um homem de esquerda, Ramalho Eanes não era uma coisa nem outra. Mas ambos ousaram a dada altura meter-se no caminho de Soares: Eanes não aceitou reconduzir um governo de Soares demitido na AR e Alegre apresentou-se como candidato independente nas últimas presidenciais, remetendo-o para 3º lugar com uns meros 14,3% dos votos. Essas "ofensas" Mário Soares não esquece e não hesita em colocar os seus ódios de estimação acima de quaisquer considerações políticas, mesmo quando isso pode significar oferecer a Presidência da República a um candidato apoiado pelos partidos da direita.

Será que, a médio prazo, Passos Coelho vai conseguir aquilo que Sá Carneiro ambicionava, um governo, uma maioria, um Presidente? Resta-nos a nós impedi-lo. Com Mário Soares, já se sabe, não se pode contar.

Sem comentários:

Enviar um comentário