quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Problemas…

O PS tem um problema… Não me refiro, está claro, aos vários “problemas” que Sócrates já resolveu em órgãos da comunicação social que tiveram o mau gosto de o criticar. Nem sequer aos “problemas” Mário Crespo e Medina Carreira que vão ser mais difíceis de resolver. Não, o problema de PS é outro e mais complicado. O problema do PS chama-se José Sócrates. E põe-se assim: o que fazer do chefe quando ele está cada vez mais desacreditado?

(Recordo que Pedro Magalhães, no seu blogue Margens de Erro, já chamou a atenção para o facto de haver sondagens de opinião que indicam que a descida de popularidade do primeiro-ministro está em queda, desde as últimas eleições, ao ritmo de um ponto por mês.)

Então, o que fazer de Sócrates? Ah, se houvesse a possibilidade de uma saída por cima tipo Durão Barroso… Ou, pelo menos, de uma saída honrosa tipo Vítor Constâncio… Mas quem é que, nas arenas internacionais, poderá estar interessado nele? Quais são, afinal, as competências do nosso engenheiro?

E, no entanto, se se arranjasse qualquer coisinha lá fora, o PS só ficaria a ganhar.

O PSD também tem um problema. Digamos que é um problema simétrico ao do PS. Num caso, trata-se de despachar o chefe, no outro trata-se de arranjar um. Quem há-de ser? Pedro Passos Coelho, o que quer “Mudar”, ou Paulo Rangel, que prefere “Romper”? Do primeiro, suspeita-se que quer radicalizar as opções neoliberais do PSD. Não era ele quem queria há uns anos atrás privatizar a CGD, solução que, para já, não acha oportuna? Não é essa, contudo, a opinião do segundo, que numa entrevista ao Público (11-2-10), afirmou ser “injusto o epíteto de liberal que põem ao Dr. Passos Coelho”. Na sua opinião este tende mais para o “bloco central”. Isto, embora ninguém saiba (porque nunca o quis esclarecer) como é que teria votado o OGE. Enfim, falta saber o que dirá Aguiar Branco, mas, desde logo, é evidente que já arranjou um problema chamado Paulo Rangel. Provavelmente, quem resolveu o dele foi Passos Coelho.

Enfim, nós também temos um problema: como vamos construir uma alternativa de esquerda que nos permita sair da crise sem esmagar os direitos sociais duma população já muito sacrificada e empobrecida? Quem vai resolver os nossos problemas?
Post Scriptum:
1) Rui Pedro Soares tentou através duma providência cautelar evitar a saída do SOL da próxima 6ª feira, dia 12-2-10.
2) Quem é este senhor? Tem 36 anos, é licenciado em Marketing e é administrador-executivo da PT. Além dissso, é militante do PS e foi um apoiante activo da candidatura de Sócrates a secretário-geral do Partido. Nas escutas já divulgadas trata-o por "o chefe".
3) Contrariando a decisão do tribunal e em nome do interesse público, o SOL vai estar nas bancas amanhã. Imagina-se que esta edição vá ter uma procura desusada.
4) Ficam as seguinte dúvidas: depois da "semana negra" que está a chegar ao fim (caso Mário Crespo, primeiras escutas divulgadas na edição anterior do SOL, caso da fingida ameaça de demissão por causa da Lei das Finanças Regionais e, agora, esta tentativa desajeitada de censura prévia), qual será a dimensão da queda das intenções de voto no PS e da popularidade do 1º ministro nas próximas sondagens de opinião? Até quando é que o PS poderá conviver com o "problema José Sócrates"

3 comentários:

  1. "O PS tem um problema", diz. Pode ser que sim.

    Mas antes disso, é a esquerda que tem um problema: que é o PS. O PS é para muita gente a esquerda ou de esquerda. O que é falso: o PS é (se calhar desde o seu nascimento) de direita. E enquanto houver um PS que muita gente pensa que representa a esquerda, a esquerda de esquerda vai ver-se grega para ter alguma credibilidade e poder construir uma alternativa...de esquerda, como diz. Ou seja, parece que antes de pensar em "construir alternativas", é preciso pensar em destruir obstáculos: o PS, repito.

    Se quiser, há um texto interessante de Frédéric Lordon na net sobre o assunto. O problema é, neste caso, o PS francês mas há muita coisa que lá está escrita que se pode perfeitamente transpor para o caso português. Link: www.mouvements.info/Le-centrisme-erreur.html

    ResponderEliminar
  2. Caro Xavier Brandão:

    O PS é um "obstáculo a destruir"?

    Se nos situarmos na perspectiva duma esquerda revolucionária que entende o socialismo como resultante da instauração da ditadura do proletariado, da colectivização dos meios de produção e duma economia subordinada a um plano central, sem dúvida que sim.

    Se admitirmos a possibilidade duma esquerda reformista que pretende construir o socialismo no quadro duma democracia parlamentar e duma economia mista onde o mercado continua a ter um papel importante, então temos de considerar que há um PS de esquerda.

    É claro que também há um PS para quem nem a primeira nem a segunda hipótese de Socialismo importam. Importa apenas a conquista ou a conservação do Poder e que considera que, para esse efeito, todos os meios são válidos. Este PS,conformado com as regras do jogo do capitalismo, é de facto um obstáculo para qualquer projecto de transformação social e, portanto, é claramente de direita.

    Ainda não tive tempo para ler o texto que me recomendou, mas agradeço-lhe a indiicação e prometo que vou lê-lo com o maior interesse. Obrigado.

    ResponderEliminar
  3. Caro António Cruz Mendes,

    Mesmo que nos situemos na "perspectiva duma esquerda revolucionária", não vejo em quê isso nos leva, obrigatoriamente, a uma instauração da ditadura do proletariado, uma colectivização dos meios de produção e a uma economia subordinada a um plano central. E não tenho nada, em princípio, contra as revoluções; desde que não se repitam erros graves do passado.

    Também, por outro lado, a outra alternativa que põe não me parece que seja de pôr, desde logo, de parte.

    Enfim, das duas, qual a melhor, não sei.

    No entanto, e como diz, há um PS para quem nem a primeira nem a segunda hipóteses contam: são os socialistas não socialistas; ou socialistas só de nome (que é das coisas que mais me enerva). E como os socialistas socialistas no PS são ou coisa inexistente ou coisa muito rara, não vejo em que é o PS pode contribuir para uma alternativa de esquerda. Por isso, mais uma vez, volto ao que disse: é preciso limpar o PS do mapa político. É preciso clarificar as coisas e o PS apenas confunde as regras do jogo, reclamando-se da esquerda («moderna», coisa que os imbecis nunca se deram ao trabalho de definir).

    O PS, como reconhece no quarto parágrafo, "é claramente de direita" e não tem sido outra coisa.

    Para quê o PS, então?

    Cumprimentos.

    P.S.: Quando tiver lido o tal artigo de que lhe falei, não me importava que mo dissesse e desse, nem que breve, a sua opinião.
    Peço desculpa pela demora na resposta.

    ResponderEliminar