segunda-feira, 5 de outubro de 2009

VIVA O 5 DE OUTUBRO!


“Naquela noite, contra o costume, o sr. Augusto chegou cedo. Três dias tinha ficado fora de casa. Vinha pálido e fatigado, nem se tinha despido, com a barba crescida, mas radiante. Trazia uama mãocheia de schrapnell, duma granada que tinha explodido na lavandaria do Hotel, uma recordação do Cinco-de-Outubro.

Ficou acordado até muito tarde, a contar tudo à mulher, no quarto, à porta fechada. E pela primeira vez desde que o conheciam e amavam, os filhos o ouviram chorar como a uma criança. A dona Adélia falava-lhe com ternura, ria-se daquela emoção…

Então compreenderam que alguma coisa de grande a sério se passava: não era só festa, só vivas, só fogo-de-vista! E ficaram muito tempo calados, no escuro da noite, pensando no pai que chorava de alegria, até que o cansaço daquele primeiro dia da Vida Nova os venceu, e adormeceram.”


José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso

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