Tendo fracassado todas as tentativas
de constituição de um novo governo, realizar-se-ão dentro de um mês novas
eleições legislativas na Grécia. Em cima da mesa estão duas questões
fundamentais para os gregos e para todos os países da União Europeia, a
continuidade da aplicação do memorando da troika e a permanência da Grécia na
zona euro.
A SYRIZA defende a permanência da
Grécia na zona euro e na UE e, ao mesmo tempo, a ruptura com o programa da troika.
As últimas sondagens mostram que a grande maioria do eleitorado grego pretende
o mesmo. Por isso, A Coligação da Esquerda Radical sobe nas sondagens e é
apontada como provável vencedor das eleições de Junho.
Podemos partir do princípio que estes
objectivos são justos. A aplicação do programa da troika atirou o país para uma
recessão prolongada, afundando-o num abismo de miséria e desemprego, sem
conseguir qualquer resultado em termos de resgate da dívida pública. Os
partidos que se comprometeram com o cumprimento desse programa, o PASOK e a Nova
Democracia, foram duramente penalizados nas últimas eleições e, no conjunto não
somaram mais de 30% dos votos. Por outro lado, o eleitorado
grego não atribui mais de 20% de votos aos partidos, aos comunistas do KKE e aos
neonazis do XA, que defendem a saída do euro. Sabem que um regresso ao dracma
acarretaria, pelo menos nos anos mais próximos, uma hiperinflação e,
consequentemente, ainda maior agravamento das situações de pobreza já
existentes.
Podemos, então, partir também do
princípio que a SYRIZA deverá ganhar as próximas eleições. No entanto, ganhar
as eleições não implica necessariamente alcançar os objectivos que considera
serem justos.
Essa possibilidade implicará a
realização, cumulativa, de duas condições. A primeira é a de conseguir formar
governo, o que significa ganhá-las com maioria absoluta ou, pelo menos,
conseguir alcançar uma maioria com o apoio do DIMAR (Esquerda Democrática). (Excluímos a hipótese da
uma aliança com os partido pró-troika e com os comunistas que têm outros
objectivos.) Em segundo lugar, é necessário que esse governo garanta o
financiamento da dívida grega em condições completamente diferentes daquelas
que actualmente são impostas pela Troika.
Se estas duas condições não forem
preenchidas, então o mais provável é que os gregos sejam obrigados a escolher
entre permanecer no euro e aceitar o programa da troika, ou rejeitar esse
programa e regressar ao dracma. Em qualquer dos casos, ainda que a SYRIZA ganhe
as próximas eleições, ela sairá politicamente derrotada. Confirmar-se-iam as
posições daqueles que não vêm uma terceira via entre aquelas duas alternativas.
Mas, ainda assim, como é que partidos
que falharam na tentativa de constituir governo após as primeiras eleições,
poderiam fazê-lo na sequência das segundas, sendo a SYRIZA o partido mais
votado? Se se mantiver uma situação de impasse na formação de um governo
maioritário, o mais provável é a entrada da Grécia na bancarrota, a sua saída
do euro e a formação de um governo chamado a aplicar uma política violentamente
austeritária. Esse governo teria que assumir o poder ignorando o parlamento.
Provavelmente, uma ditadura militar seria chamada a ocupar o vazio do poder, a
acabar com os partidos e a garantir a “ordem pública”.
Os dados estão lançados e aquilo que
está em jogo é a defesa da União Europeia ou a sua desagregação. E, na Grécia, o início de um processo de
recuperação económica ou a bancarrota, a democracia ou uma nova "ditadura dos coronéis".
A responsabilidade de todas as partes
envolvidas é tremenda. A justeza das opções tomadas será avaliada pelas consequências
que delas decorrerem.
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