quinta-feira, 10 de maio de 2012

Parlamentarismo, partidos políticos e sistemas eleitorais - o caso da Grécia




Em regimes democráticos parlamentares, isto é, em regimes onde o poder político resulta de eleições livres e competitivas para uma assembleia legislativa, pode valorizar-se sobretudo a constituição de um governo estável ou a representação proporcional dos diferentes partidos no parlamento.

Quando se adopta um sistema eleitoral maioritário, como acontece por exemplo no Reino Unido, privilegia-se a 1ª hipótese. Um sistema assim favorece o bipartidarismo e tende a excluir do parlamento minorias com uma representatividade social relevante. E admite mesmo a hipótese do partido mais votado à escala nacional obter uma minoria dos deputados eleitos.

Pelo contrário, um sistema eleitoral de representação proporcional garante a representação parlamentar de todos os partidos com uma implantação social relevante (favorece, portanto, o multipartidarismo), mas pode conduzir a uma situação de ingovernabilidade se das eleições legislativas resultar um parlamento muito fragmentado. Como aconteceu, recentemente, na Grécia.

De uma maneira geral, os países que adoptaram um regime eleitoral de representação proporcional tentaram minorar esse risco. Por exemplo, optando métodos de conversão de votos em mandatos que favorecem os maiores partidos (como o método de Hondt) ou introduzindo uma “cláusula barreira” que impede a eleição de deputados por partidos que não alcancem uma percentagem mínima de votos à escala nacional (na Grécia é de 3%). Mas além disso, a lei grega reforça essa intenção atribuindo ainda um bónus de 50 deputados ao partido mais eleito.

Em regra, um sistema multipartidário limitado, onde 4/5 partidos estão representados no parlamento, permite a representação das correntes políticas mais significativas e, ao mesmo tempo, a constituição de governos estáveis. Contudo, isso dificilmente acontece num parlamento pulverizado. Na Grécia, a penalização eleitoral dos dois partidos que se têm alternado no governo resultou num parlamento dividido por 7 partidos, dos quais o mais votado teve apenas 19% dos votos. E, nestas circunstâncias, a formação de um governo revelou-se impossível.

Chegou-se, portanto, a uma situação de impasse: os partidos favoráveis ao cumprimento do programa da troika (a ND e o PASOK), com 30% dos votos, só elegeram 149 deputados, quando precisariam de ter 151. A esquerda anti-troika (SYRIZA e DIMAR) elegeu 70, ou 96 (se lhe somarmos os 26 deputados eleitos pelo KKE, que tem recusado qualquer coligação). Restam os 33 deputados eleitos pelo ANEL (direita democrática anti-troika) e os 19 eleitos pelo AX (partido neonazi).

Note-se que a situação não se alteraria se o polémico bónus de 50 deputados atribuído ao partido mais votado fosse suprimido. Nesse caso, com um parlamento de 250 lugares, os partidos pró-troika somariam 99 e a esquerda anti-troika (com o KKE) 96. Só uma revisão eleitoral que adoptasse um sistema de representação maioritário poderia desbloquear a situação.

Não sendo viável esta alteração, as próximas eleições apenas irão confirmar (e, portanto, agravar) a situação existente. A não ser que os eleitores usem o seu direito de voto para contrariar a actual pulverização do parlamento, reforçando a votação num dos dois partidos mais votados nas últimas eleições. Ou seja, agindo na prática como se estivessem perante um sistema eleitoral maioritário a duas voltas, como o sistema francês.

Em última análise, aquilo que está em causa nesta “2ª volta” são sobretudo duas as opções que se colocam ao eleitorado grego: prosseguir as políticas determinadas pelo acordo com a troika, e então deveria concentrar os seus votos na ND, ou romper esse acordo e votar no SYRIZA.

Pelo seu lado, competirá a estes dois partidos facilitar a escolha dos eleitores estabelecendo os acordos pré-eleitorais mais amplos possíveis com os partidos democráticos menos votados, mais próximos das posições de cada um deles.

 A manutenção deste impasse é insustentável. Se não se encontrar uma saída no quadro democrático, há razões para temer o aparecimento de um qualquer Bonaparte que, afirmando-se contra os partidos e a “desordem democrática”, “em nome da nação” instaure uma ditadura militar.

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