Grécia – e agora?
O Syriza obteve mais de um milhão de
votos, foi o 2º partido mais votado e o mais votado em Atenas e na Ática. No
seu conjunto, a esquerda crítica do memorando da troika ultrapassou os 30%. Se
compararmos estes resultados com os das eleições de 2009, podemos falar de uma
importante vitória. Convém, no entanto, pôr alguma água na fervura.
No momento em que escrevo, tudo aponta
no sentido da formação de um governo de coligação entre os partidos troikistas,
a Nova Democracia (direita) e o PASOK (socialista), aos quais se poderá juntar
ou não o partido dos Gregos Independentes. A ND elegeu 60 deputados aos quais
se somarão mais 50, que segundo a lei eleitoral grega, dão concedidos como
bónus ao partido mais votado. Uma vez que o PASOK elegerá 41, um governo de
coligação destes dois partidos contaria com o apoio de 151 deputados num
parlamento de 300. Se a essa coligação se somasse o PGI (33 deputados eleitos),
teríamos uma maioria de 333 deputados.
Simplesmente, a ND e o PASOK são
partidos historicamente rivais. Desde a reinstauração da democracia, em 1974,
têm-se alternado sucessivamente no poder e na oposição e, ao longo desta
campanha eleitoral, acusaram-se mutuamente da responsabilidade pela situação a
que a Grécia chegou. Une-os o compromisso que ambos assinaram com a troika, mas
perante o agudizar da crise, esse cimento pode não ser suficiente para garantir
a continuidade do governo. Além disso, o PGI foi formado por deputados da ND
que discordavam da orientação política do partido. Pela minha parte, duvido que
o governo de coligação que está na forja se aguente até ao fim da legislatura.
Por outro lado, a esquerda anti-troika
obteve nestas eleições resultados animadores: o Syriza (coligação de vários
partidos da esquerda radical) elegeu 51 deputados (13 nas eleições anteriores);
o KKE (comunista), 26 (21); e a Esquerda Democrática (formada mais recentemente
por dissidentes do Syriza e do PASOK), 19. A sua soma daria 106. Um apoio
insuficiente para sustentar uma alternativa governamental. Além disso, o KKE já
recusou qualquer coligação com os outros dois partidos da esquerda. E de facto,
pelo menos neste momento, divide-os uma divergência importante: enquanto o
Syriza e a ED continuam a defender a permanência da Grécia e na zona euro, o
KKE é a favor da sua saída. Curiosamente, este foi o partido da esquerda que
menos subiu nestas eleições (8,48%, em 2012, e 7,54% e 8,15% nas duas
legislativas anteriores).
Enfim, o Laos, um partido confessional
de extrema-direita desapareceu do mapa parlamentar, tendo sido substituído
pelos neo-nazis da Aurora Dourada, que elegeram 21 deputados e receberam 6,97%
dos votos (0,29% e zero deputados nas eleições anteriores!), um partido que tem
praticado actos de violência xenófoba, defende a saída da EU e se propõe “varrer”
todos os imigrantes da Grécia.
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