segunda-feira, 7 de maio de 2012


Grécia – e agora?


 
O Syriza obteve mais de um milhão de votos, foi o 2º partido mais votado e o mais votado em Atenas e na Ática. No seu conjunto, a esquerda crítica do memorando da troika ultrapassou os 30%. Se compararmos estes resultados com os das eleições de 2009, podemos falar de uma importante vitória. Convém, no entanto, pôr alguma água na fervura.

No momento em que escrevo, tudo aponta no sentido da formação de um governo de coligação entre os partidos troikistas, a Nova Democracia (direita) e o PASOK (socialista), aos quais se poderá juntar ou não o partido dos Gregos Independentes. A ND elegeu 60 deputados aos quais se somarão mais 50, que segundo a lei eleitoral grega, dão concedidos como bónus ao partido mais votado. Uma vez que o PASOK elegerá 41, um governo de coligação destes dois partidos contaria com o apoio de 151 deputados num parlamento de 300. Se a essa coligação se somasse o PGI (33 deputados eleitos), teríamos uma maioria de 333 deputados.

Simplesmente, a ND e o PASOK são partidos historicamente rivais. Desde a reinstauração da democracia, em 1974, têm-se alternado sucessivamente no poder e na oposição e, ao longo desta campanha eleitoral, acusaram-se mutuamente da responsabilidade pela situação a que a Grécia chegou. Une-os o compromisso que ambos assinaram com a troika, mas perante o agudizar da crise, esse cimento pode não ser suficiente para garantir a continuidade do governo. Além disso, o PGI foi formado por deputados da ND que discordavam da orientação política do partido. Pela minha parte, duvido que o governo de coligação que está na forja se aguente até ao fim da legislatura.

Por outro lado, a esquerda anti-troika obteve nestas eleições resultados animadores: o Syriza (coligação de vários partidos da esquerda radical) elegeu 51 deputados (13 nas eleições anteriores); o KKE (comunista), 26 (21); e a Esquerda Democrática (formada mais recentemente por dissidentes do Syriza e do PASOK), 19. A sua soma daria 106. Um apoio insuficiente para sustentar uma alternativa governamental. Além disso, o KKE já recusou qualquer coligação com os outros dois partidos da esquerda. E de facto, pelo menos neste momento, divide-os uma divergência importante: enquanto o Syriza e a ED continuam a defender a permanência da Grécia e na zona euro, o KKE é a favor da sua saída. Curiosamente, este foi o partido da esquerda que menos subiu nestas eleições (8,48%, em 2012, e 7,54% e 8,15% nas duas legislativas anteriores).

Enfim, o Laos, um partido confessional de extrema-direita desapareceu do mapa parlamentar, tendo sido substituído pelos neo-nazis da Aurora Dourada, que elegeram 21 deputados e receberam 6,97% dos votos (0,29% e zero deputados nas eleições anteriores!), um partido que tem praticado actos de violência xenófoba, defende a saída da EU e se propõe “varrer” todos os imigrantes da Grécia.

Com sete partidos representados e tendo o partido mais votado apenas 19% dos votos, o parlamento grego está muito fragmentado e é pouco provável que dure uma legislatura. Penso que se evoluirá rapidamente para uma recomposição do sistema partidário, com a afirmação de 4/5 partidos com relevância eleitoral. Se, nessa altura, a esquerda se quiser apresentar como alternativa de governo, terá que trabalhar desde já no sentido da construção de uma plataforma de unidade. De outra forma, a vitória relativa que agora obteve, consumir-se-á rapidamente como um fogo de palha.

Sem comentários:

Enviar um comentário